domingo, outubro 31, 2010

Serra: um candidato, duas campanhas


Carolina Freitas
Com ânimo e fôlego que resistiriam até o final do segundo turno, Serra discursou em Vitória da Conquista em meio a uma multidão, de pé no capô de uma caminhonete
Um sorriso escancarado. José Serra ganhou, em 3 de outubro, 28 dias para tentar derrotar Dilma Rousseff. A ida para o segundo turno contra a petista foi comemorada como vitória pelos tucanos. Diante de eufóricos militantes reunidos em um salão na zona norte de São Paulo, Serra mostrou em 20 minutos mais entusiasmo do que no primeiro turno inteiro. Começava ali uma nova campanha.

Vitória da Conquista emprestou palco para o início desta esperançosa fase. A cidade do interior da Bahia, visitada por Serra em 8 de outubro, sintetiza os arranjos políticos obtidos pela campanha tucana pelo país no segundo turno e contrasta com as falhas da primeira etapa das eleições. O candidato conseguiria, enfim, atender aos conselhos que aliados lhe sopravam desde julho. 

Com ajuda dos articuladores Sérgio Guerra e Marisa Serrano, Serra organizou pela primeira vez com antecedência uma agenda de viagens, fortaleceu as bases locais da campanha e montou um time de mensageiros.

Os campeões de voto de Minas, Aécio Neves, de São Paulo, Geraldo Alckmin, e do Paraná, Beto Richa, saíram em viagem pelo país à caça de apoio ao presidenciável, em reuniões políticas e agendas populares. A confecção de bandeiras, panfletos e adesivos disparou e a distribuição dos materiais, enfim, funcionou de forma eficiente. 

Assim, quando Serra chegou à pequena Vitória da Conquista encontrou um quadro que em nada lembrava uma outra visita ao Nordeste. Em 17 de setembro, no estado de Sergipe, as bandeiras que tremulavam nas mãos de pessoas pagas para isso eram azuis com o número do candidato do DEM ao governo. Já na cidade baiana, um mar de militantes empunhava flâmulas brancas estampadas com a foto e o nome do candidato ao lado do número 45 do PSDB.

Quem deu palanque ao candidato em Sergipe foi o DEM, sem ajuda de nenhum tucano. Explica-se: líderes do PSDB no estado apoiavam por baixo dos panos o candidato do PT a governador. Na Bahia, no segundo turno, uma tropa de correligionários de peso, como Jutahy Magalhães e ACM Neto, receberam Serra no aeroporto e dele não desgrudaram até o fim da visita.

Com ânimo e fôlego que resistiriam até o final do segundo turno, Serra discursou em Vitória da Conquista em meio a uma multidão, de pé no capô de uma caminhonete. De microfone em punho e em meio a gritos de apoio, conclamou: “Vim a Vitória da Conquista para começar aqui o caminho para a conquista da vitória.”

Pesquisa para que? – Adorador de números, o economista José Serra manteve longe dos olhos alguns deles – os das pesquisas de intenção de voto. A ida do tucano ao segundo turno contrariou até mesmo a pesquisa de boca de urna. A cada divulgação dos institutos, Serra era questionado por jornalistas e, invariavelmente, respondia: “Vocês já sabem, não comento pesquisa.”

A esperança de vitória neste domingo vem justamente da descrença nas pesquisas. Segundo o último Datafolha, divulgado sábado, Serra está dez pontos porcentuais atrás de Dilma. Ele tem 41% das intenções de voto contra 51% da petista. Dados internos do PSDB, no entanto, mostravam, na véspera do pleito, um sugestivo placar: 45% a 45%.

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