segunda-feira, novembro 22, 2010

Simon: PT também tentou formar blocao e não pode “se fazer de santo”

“Prestes a completar 81 anos, o senador gaúcho Pedro Simon (PMDB), continua a ser uma espécie de voz dissonante no Congresso Nacional. Apesar de o PMDB integrar o núcleo do futuro governo, são públicas as diferenças de Simon com o comando nacional do partido e o senador acompanha “a distância” a concorrida disputa pela ocupação de espaços no Executivo e o controle sobre o Senado e a Câmara dos Deputados.
Isso não impede que tenha informações sobre as negociações, envie recados a seus pares e projete a participação de Lula no futuro governo. “Deve haver entre os dois uma intimidade quase como se fossem irmãos que nascem com as cabeças coladas. Ela e o Lula devem ter um compromisso de trabalhar a quatro mãos para acertar”, diz.
Simon tem postura crítica, mas é também fundador do partido (que ele prefere chamar ainda de MDB) e, na lista dos políticos mais respeitados do país, sai em defesa do PMDB quando o tema são as articulações políticas, lembrando que a sigla não é a única a se movimentar em direção a aumentar seu espaço. Simon não se furta, por exemplo, de dizer que considera legítimo o PMDB permanecer no comando do Senado, que o vice da presidente eleita, Dilma Rousseff (PT) e presidente nacional do PMDB, Michel Temer, não tem na Casa a influência da qual desfruta na Câmara dos Deputados.
“Vivemos um bom momento na economia, do ponto de vista institucional não se apresenta qualquer nuvem no horizonte e não há sinal de crise na transição de governo, que se dá dentro do mesmo partido. A questão vai ser a nossa competência política em fazer a transição”, resume o senador, sobre a pergunta que domina as rodas de conversa em Brasília. Foi sobre o momento político, a postura do PMDB e o futuro governo que ele falou ao Terra. Confira:
O senhor diz que a transição é tranquila, porque se dá dentro do PT, mas há muitos partidos aliados e o início das negociações mostra uma disputa acirrada pela ocupação de espaços. A presidente eleita, Dilma Rousseff (PT) vai conseguir administrar este cenário?
Devido ao nosso sistema político, nem o governo e nem a oposição têm maioria organizada. Quem ganhou a eleição tem maioria ampla, mas pingada em quase 20 partidos. Então, não há um sentido de unidade. Na campanha já se via isso. Agora, como Dilma fará a seleção, ainda é uma loteria. Gostei muito do primeiro discurso dela, logo após o resultado da eleição. De que os integrantes do seu governo vão precisar ter indicação, competência e compromisso com a ética. Isso é muito importante porque até agora não vi nos discursos dos líderes dos partidos preocupação com este ponto.
O senhor acredita que na prática estes requisitos serão cumpridos?
É um desafio. Tenho convicção de que a Dilma quer fazer isso. Não sei se vai conseguir. Não deveria partir dela, a presidenta. Deveria partir dos próprios partidos. Lamentavelmente, todos os partidos têm indicado gente que não possui todas estas características. No processo de transição, por exemplo, já houve a indicação daquela moça, a advogada, que está em um processo muito grave. (A advogada Christiane Araújo de Oliveira, nomeada para o governo de transição, mas que pediu demissão após ser divulgado que é ré em duas ações de improbidade na Justiça Federal de Alagoas, acusada de envolvimento com a Máfia dos Sanguessugas. Ninguém assumiu sua indicação). Graças a Deus ela renunciou. Mas foi uma demonstração de que o governo está falhando.
As disputas entre os partidos e dentro das próprias siglas não acabam aumentando as chances de que ocorram estas ‘falhas’? A tentativa de formação do blocão no Congresso, comandada pelo PMDB, não é um exemplo de que a disputa pela maior fatia de poder é o que mais pesa?
Cá entre nós, tanto o MDB como o PT estavam preparando uma coisa dessas. A primeira notícia que saiu e o que a gente esperava era que o PT preparasse. A resposta foi bem dada. Não foi o ideal, não é bom. Mas o bloco concorda que a presidência na Câmara é dois anos para o PMDB e dois para o PT. Agora, os dois estavam com esta intenção do blocão, ninguém pode se fazer de santo. Os dois querem mostrar que podem. O PT, todo mundo sabe, tem a presidenta. E o MDB está querendo pegar o máximo que pode.
O PMDB já avisou que não vai considerar Henrique Meirelles (presidente do Banco Central) e José Gomes Temporão (ministro da Saúde) como cotas suas. O partido tem condições de exigir mais ministérios?
Tem que ter muita competência para tratar desta questão. Não acredito que o MDB avance em número de ministérios porque aumentou o número de aliados. Nessa questão da cota aí, pela informação que eu tenho, estão incluindo até o Jobim (o ministro da Defesa, o também gaúcho Nelson Jobim). Só que o Jobim não há dúvida de que ele é cota do PMDB, embora também seja cota pessoal do Lula. Não é o caso do Meirelles porque ele era deputado do PSDB, ficou sem partido para ir para o Banco Central e depois assinou ficha no PMDB porque havia quem pretendesse que ele fosse o candidato a vice da Dilma. O Meirelles pode ficar ou não ficar, mas não na base da imposição. Está todo mundo botando as unhas de fora, querendo gritar mais alto, o que é um pouco triste. Os caras estão todos na base da cota do partido. E isso não é bom. Vejo com muita restrição, por exemplo, a disputa pelas indicações nos fundos de pensão, que eu acho que deveriam ser entregues a técnicos. O que é que um político quer fazer num fundo da Petrobras, da Eletrobrás, do Banco do Brasil?
Por que o senhor tem estas restrições?
Quando o presidente do PTB (o ex-deputado Roberto Jefferson) denunciou o Mensalão, essa questão foi muito debatida: o fato de que os partidos queriam o esquema da “porteira fechada”. (Na prática conhecida como porteira fechada ministérios e estatais são destinados ao partido do governo ou a aliados e os caciques partidários fazem suas indicações para a estrutura em questão). Não vejo com simpatia a porteira fechada, sou contra territórios estanques. Mas tem gente falando nisso agora de novo.
O PMDB defende qual prática? E qual papel vai desempenhar no futuro governo?
Sou uma figura estranha dentro do atual PMDB. Não tenho nenhuma convivência e é sabido que o meu estilo é diferente. Mas eu acho que está todo mundo agindo do mesmo jeito. Não é só o PMDB. É o PT, o PTB, o PDT, cada um quer pegar o melhor quinhão. Se a Dilma entrar nessa dança, coitadinha.
O senhor acredita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva continuará fazendo uma articulação de bastidores nos quatro anos da administração Dilma? Se isso acontecer, não vai enfraquecer a figura da própria presidente?
O Lula e a Dilma estão cercados. Em um mar de gente. Mas, da forma como ela foi eleita, deve haver entre os dois uma intimidade quase como se fossem irmãos que nascem com as cabeças coladas. Ela e o Lula devem ter um compromisso de trabalhar a quatro mãos para acertar. Ela disse que irá muitas vezes bater na porta do Lula e que ele a receberá. E isso muitas vezes sem que exista divulgação nenhuma. Vai ter que haver é uma coisa de grandeza. O Lula não vai querer transformar a Dilma em cachorrinho dele. E a Dilma não vai desrespeitar o Lula. E a única coisa sobre a qual não devem conversar e nem sequer pensar é se a Dilma vai ser candidata daqui a quatro anos ou se o Lula é que vai querer ser.”
(Portal Terra)

0 comentários:

Postar um comentário