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Submetido a um processo de lipoaspiração, o DEM está prestes a sofrer uma nova e expressiva baixa. Em entrevista ao blog, o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, confirmou que cogita migrar para o PSD do prefeito Gilberto Kassab.
Ele condiciona sua permanência no DEM à fusão da legenda com o PSDB. Algo que as cúpulas das duas legendas descartam. Na terça (19) Colombo e Jorge Bornhausen reuniram-se, em São Paulo, com FHC. Conversaram sobre fusão. As chances são, por ora, mínimas. "Vou ficar parado? Não dá", diz Colombo. Abaixo, a entrevista:
- Cogita trocar o DEM pelo PSD? Minha opinião é a de que enfrentamos uma crise nos partidos. Não é uma crise apenas do DEM ou do PSDB, é de todos os partidos. Claro que quem está no governo tem um nível de proteção maior. A conveniência em torno do governo aproxima. Mas os partidos estão longe da sociedade.  Hoje, não passam de sopas de letrinhas.
- Por isso cogita deixar o DEM? Sou sincero, digo que o DEM se enfraqueceu muito. Hoje, não tem uma proposta. A capacidade que o partido teria de se reconstruir depende de uma parceria. O PSDB precisa compreender isso e apresentar um projeto de fusão. Os tucanos estão deixando o nosso partido sozinho. Não sei se falta diálogo ou se os nossos líderes, do DEM, não querem isso.
- As cúpulas das duas legendas já descartaram a fusão imediata. Como fica? Se não houver isso, eu vou realmente vou reestudar minha posição. Vivo uma angústia pessoal.
- Acha que a fusão resolveria os problemas da oposição? A gente tem que ter um projeto. Não podemos continuar com o discurso da CPMF. Nós derrubamos, eu ajudei. Mas, na verdade, fomos nós mesmos que criamos. Parece que esse é o único discurso que temos. Aí não vai! Estamos longe do cotidiano das pessoas. Somos prisioneiros de brigas internas. Para mim, é muito pouco. Não me satisfaz.
- Não receia que, migrando para o PSD do prefeito Kassab, um partido sem fisionomia nítida, terá o mesmo problema de falta de discurso? Concordo. Mas é preciso considerar que foi o único fato novo na política brasileira. Começa a trazer a nu essa realidade partidária. Que opção a gente tem? Falei com o José Agripino. Disse que não há decisão tomada. Mas afirmei que, do jeito que está, não há interesse.
- Discorda da opinião dos que chamam Kassab de oportunista?Não acho correto ficar falando mal dos que saíram. Isso é muito pobre. Até pouco tempo, ele estava conosco. Aí era um grande líder. Por que saiu virou um grande safado? Não não faz sentido.
- Soube que o sr. esteve com FHC. Conversaram sobre o quê? Eu pedi a ele que liderasse esse processo [de fusão]. Mas senti que eles também têm os problemas deles. Vou ficar parado? Não dá.
- Ouviu de FHC algum apelo para que permaneça no DEM?Não. Sinto que o encaminhamento é para adiar o debate [sobre fusão] para depois da eleição municipal de 2012. Acho que é um erro político. Corremos o risco de sair da eleição menores do que somos hoje.
- Não teme que o eleitor tenha dificuldade para entender a troca de partido? Não. Primeiro porque não estou mudando minha posição política de oposição. Segundo porque há, hoje, uma confusão ideológica.
- Que confusão? Não há mais diferenças nítidas entre os partidos. Eles já não representam uma corrente na sociedade. O eleitor vota pela personalidade do candidato. Diante dessa crise, as divisões internas enfraqueceram o DEM. Não conseguimos olhar para fora do muro. Não vou ficar limitado a isso. Se for para ficar do jeito que está, vou procurar alternativa. Estou provocando o partido. E o PSDB teria de contribuir
- Que contribuição o PSDB teria que dar? Eles têm candidato à Presidência e nós não temos. Isso aglutina as ideias em torno de um projeto.
- O candidato seria o Aécio Neves? Não há dúvida, é o Aécio. A disputa está longe, mas toda a expectativa está em torno dele.
- Há um prazo limite para a sua decisão sobre a troca de partido? Teremos que fazer esse encaminhamento em pouco tempo. Espero que haja uma reunião entre PSDB e DEM em que se discuta a possibilidade de construir um projeto comum, que passa pela fusão. Se não houver, aí não dá para mim. Não posso demorar demais. É preciso verificar quando o novo partido será registrado no TSE. Esse é o prazo legal.
- Na hipótese de não vingar a fusão com o PSDB, enxerga algum outro caminho? Legalmente, não há outra hipótese. Qualquer outro caminho me sujeitaria à perda do mandato.
- Havendo a mudança de partido, o Bornhausen vai junto?Estamos afinados. A decisão será conjunta.  
- Acha que a migração para um partido mais identificado com o governo facilita a sua gestão como governador? Não é isso que me move. Não estou mudando de posição. Não estou indo para a base do governo.
- Mas a maioria do PSD é governista, não? Acho natural que um partido, na fase de constituição, tenha esse caráter meio híbrido. Se disser, de saída, que é governo, não forma quadros. Com o tempo, vai se firmando sua fisionomia. De minha parte, se for para o PSD, não mudarei de posição.
- Como avalia o governo Dilma? Há avanços nítidos na política externa. Temos problemas com a inflação. Vejo uma duplicidade entre Fazenda e Banco Central. Mas a presidente tem se posicionado bem. Na minha opinião, ela está mais à altura do cargo do que o antecessor.
- Diria que é grande a chance de trocar de partido? Diria o seguinte: o esvaziamento do DEM é muito forte. O momento não é de ficar discutindo questões internas. Temos de buscar uma convivência mais próxima com a sociedade. Se fizermos fusão com o PSDB, temos condições de renovar os sonhos e abrir novos canais de diálogo com a sociedade. Sem isso, a chance de eu optar pela troca é muito grande.
Fonte: Folha.com