segunda-feira, junho 27, 2011

Todas as brigas de Kassab

O prefeito paulistano transforma velhos parceiros em desafetos, coleciona inimigos e enfrenta dificuldades para criar o PSD
Luiza Villaméa e Sérgio Pardellas
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Tirando o aposentado que foi acusado, aos berros, de ser um vagabundo por protestar contra a má qualidade dos serviços de saúde municipal, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, tinha poucos inimigos públicos até o início deste ano. Político pragmático e ideologicamente flexível, Kassab construiu sua carreira evitando embates polêmicos e procurando estar bem com todos, amigos, aliados ou adversários. Mas, desde que decidiu abandonar o DEM para criar um partido à sua imagem e semelhança, o PSD, o prefeito paulistano tem sido incapaz de evitar os confrontos. O último deles teria colocado fim até mesmo à longeva parceria entre Kassab e o secretário estadual de Desenvolvimento Social, Rodrigo Garcia, cuja trajetória política sempre esteve colada à do prefeito. Nos bastidores da política paulistana não cessam os relatos de uma visita de Kassab ao gabinete de Garcia, que continuou no DEM. “Se você quer me destruir, vou te destruir primeiro”, teria gritado Kassab, que, assim como Garcia, confirma a visita, mas nega a briga. 

O fato é que o ambiente anda tenso entre Kassab e antigos aliados. Preocupados com o crescimento do PSD e o provável alinhamento à base de apoio da presidente Dilma Rousseff (PT), alguns deles não se constrangem em afirmar que vão ingressar com ações para que o novo partido não seja registrado. Kassab tem até o final de setembro para entregar à Justiça Eleitoral e autenticar a veracidade de 490,3 mil fichas de apoio ao partido se quiser disputar as eleições do ano que vem. “O PSD é um partido sem dignidade. Essa questão das assinaturas virou caso de polícia”, afirma o deputado ACM Neto (DEM-BA). O parlamentar se refere à descoberta de cinco eleitores mortos na lista de apoio coletada em Santa Catarina, onde o governador Raimundo Colombo deixou o DEM para ajudar a fundar o novo partido.
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ALIADOS
A senadora Kátia Abreu e o governador Raimundo Colombo, de
Santa Catarina, onde a lista de apoio tinha assinatura de mortos
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Em São Paulo, as denúncias são relativas ao uso da máquina pública na arregimentação de apoios. Na terça-feira 21, o presidente municipal do PT, vereador Antonio Donato, protocolou na Câmara Municipal um pedido de abertura de CPI para investigar o caso. “Há indícios de que não se trata de episódios pontuais”, explica Donato. Kassab nega as acusações e diz não acreditar que o DEM – nem o PSDB – tenha deflagrado uma operação contra o PSD (leia entrevista à dir.). Presidente do PSDB, o senador Sérgio Guerra (PE) também descarta oficialmente a possibilidade. “O PSDB não especula sobre qualquer ato que venha a interferir em procedimentos de outras legendas”, diz. Em conversas com aliados, porém, Guerra tem apostado que o PSD não se viabilizará até as eleições municipais de 2012. 
Potencial presidente do novo partido, a senadora Kátia Abreu, que também deixou o DEM, desabafou com correligionários há poucos dias: “Talvez não dê tempo para o PSD se viabilizar para as eleições do ano que vem. Estou preocupada.” Testemunhou a conversa o presidente da Fiesp, Paulo Skaf (PMDB). A desarticulação do novo partido em Estados e municípios é o que mais atemoriza os novos integrantes do PSD. “As ameaças de ações judiciais do DEM intimidam simpatizantes e interessados em se filiar”, lamentou Kátia. Kassab, no entanto, demonstra confiança. “As etapas mais difíceis já foram vencidas”, diz o prefeito, no seu tom de voz habitual – pausado e baixo.
“O PSD AINDA NÃO TEM PROGRAMA”
ISTOÉ – Qual a diferença entre o DEM e o PSD?
Gilberto Kassab – O DEM é um partido que nasceu como PFL, com convicção na democracia. Depois, assumiu uma posição de intransigência. Acabou incompatibilizado com a opinião pública. 

ISTOÉ – Que tipo de intransigência?
Kassab – De se negar a apoiar políticas públicas por estarem vinculadas a um governo. Não é a maneira de fazer política em que acredito. 

ISTOÉ – Que modo é esse?
Kassab – Defender ideias, mas sempre procurar políticas de conciliação para o bem do País. Fui parceiro do presidente Lula em diversos programas. E, quando chegaram as eleições, ninguém foi mais leal a Serra do que eu. 

ISTOÉ – E o que diferencia o PSD dos outros partidos? Apenas a liberdade de participar ou não da base de apoio à presidente Dilma?
Kassab – Essa é uma posição transitória. Em 2014, o partido terá uma definição de qual será a sua conduta. A partir daí, teremos uma ação única. 

ISTOÉ – Qual o programa do partido?
Kassab – O partido ainda não tem programa. Vamos construí-lo com as bases.

ISTOÉ – Mas, para se criar um partido, é preciso ter um programa.
Kassab – Nosso primeiro ato jurídico foi lançar um manifesto com as diretrizes, com o cuidado de dizer que era ­preliminar.

ISTOÉ – O sr. tem falado que conta com quase 1,2 milhão de assinaturas de apoio. Que apoios são esses? 
Kassab – Para criar qualquer partido, é preciso cerca de 500 mil assinaturas de apoiamento. Elas são encaminhadas à Justiça Eleitoral, para certificar que cada assinatura bate com a do eleitor, com o título. Em uma semana, foram certificadas 100 mil.

ISTOÉ – É uma lista ou uma ficha?
Kassab – É uma ficha. Pode ser uma única folha com várias assinaturas 
ou uma ficha individual. As certificadas são aquelas que já foram homologadas pela Justiça Eleitoral.

ISTOÉ – Há um pedido de CPI na Câmara Municipal para investigar o uso da máquina pública na criação do PSD. Como o sr. vai se defender?
Kassab – A CPI não foi criada. Não acredito que seja o caso. Foi protocolado apenas o pedido. Estamos tranquilos porque não há uso da máquina. 

ISTOÉ – O que houve então?
Kassab – Foi pontual. Um jornalista visitou um funcionário numa ­subprefeitura e pediu a ficha. O funcionário se exonerou. Foi aberta uma ­sindicância.

ISTOÉ – E como a descoberta de assinaturas de pessoas mortas na lista de apoios afeta a credibilidade do PSD?
Kassab – Por isso se faz a homo­logação na Justiça Eleitoral. Às vezes a assinatura não bate. No caso de morto, precisa ver se é morto mesmo, se não é. 

ISTOÉ – O que ocorreu nesse caso?
Kassab – Pode ter sido até malandragem de alguém, para tentar prejudicar o partido. Pode ser até brincadeira de criança. 

ISTOÉ – Quem trabalha para inviabilizar o seu partido?
Kassab – Para ser sincero, eu não identifiquei ninguém até agora. 

ISTOÉ – E o sr. também está colecionando desafetos. Há relatos de o sr. querer até torcer o pescoço de pessoas.
Kassab –Não são relatos verdadeiros, são mentiras. São calúnias. Eu sou muito tranquilo, muito calmo.

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