quarta-feira, agosto 24, 2011

Diante das denúncias de que pagou mesada, Mário Negromonte, ministro das Cidades, afirma que PP sofrerá consequências do racha

Gerson Camarotti (gcamarotti@bsb.oglobo.com.br)
O ministro das Cidades, Mário Negromonte, em foto de Gustavo Miranda

BRASÍLIA - Um dia depois de ser advertido de que, se insistisse em se meter na disputa interna do PP , seu partido, poderia perder o cargo, o ministro das Cidades, Mário Negromonte, partiu para o ataque e alertou a legenda das consequências do racha na bancada:
- Em briga de família, irmão mata irmão, e morre todo mundo. Por isso que eu disse que isso vai virar sangue.
Acusado de oferecer mesada de R$ 30 mil para os deputados do PP , ele diz que está disposto a ir até a CPI e desafia qualquer deputado do partido a formalizar a acusação contra ele.
Em briga de família, irmão mata irmão, e morre todo mundo. Por isso que eu disse que isso vai virar sangue
Numa conversa de duas horas, Negromonte disse ao GLOBO que foi procurado por um grupo de deputados porque o ex-ministro das Cidades Márcio Fortes começou a colher assinaturas para derrubar o deputado Nelson Meurer (PP-PR), o ex-líder substituído pelo deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). Fragilizado no cargo por falta de sustentação política, ele reconhece que a sua situação é ruim e diz que não tem apego ao cargo. Mas manda um recado ao PP: se ele cair, o ministério não vai nem para um grupo nem para o outro. Mas, sim, para um terceiro nome, numa referência ao que aconteceu com o Ministério dos Transportes: Dilma não aceitou indicação do partido e efetivou o ministro Paulo Sérgio Passos.
Negromonte recordou que, no partido, foi do grupo que defendeu a candidatura de Dilma quando ela tinha 2%. E avisa: se for chamado para uma conversa, vai contar tudo o que aconteceu.
O senhor foi acusado de oferecer mesada para deputados do PP que tinham se rebelado.
MÁRIO NEGROMONTE: O que aconteceu é que o outro grupo (do ex-líder Nelson Meurer) veio me pedir apoio. Os deputados falaram que o ex-ministro Márcio Fortes (Cidades) estava coletando assinaturas para derrubar Meurer e que pediu assinatura até para o deputado Roberto Balestra (PP-GO). Mas não participei disso e nem ofereci nada a ninguém. Um grupo de deputados é que saiu falando essas coisas. Ninguém nunca tratou de coisa errada comigo. Essa briga na bancada acaba respingando em mim. Só quero saber uma coisa: quem foi a pessoa que disse isso? Não tem. Se a presidente Dilma me perguntar, vou falar que o Márcio Fortes estava entrando na disputa da bancada.
O que motivou essa denúncia contra o senhor?
NEGROMONTE: Quero que tenha CPI. Aí, quero ver se alguém vai dizer que ouviu de mim alguma proposta. O que acontece é que a bancada do PP começou a se digladiar. Um começou a atacar o outro. Então vai o meu alerta: em briga de família, irmão mata irmão, e morre todo mundo. Por isso que eu disse que isso vai virar sangue. Esse pessoal não sabe avaliar os riscos. Não devemos expor as vísceras.
Quais são os riscos?
NEGROMONTE: Imagine se começar a vazar o currículo de alguns deputados. Ou melhor, folha corrida. Mas não vou citar nomes. Quero pacificar. Só quem perde com isso é o partido. Se a gente continuar dividido, o que vai acontecer é que ninguém vai ficar aqui: a presidente Dilma vai dar um ministério para um terceiro nome.
O senhor está sendo vítima de fogo amigo?
NEGROMONTE: Lógico que sou vítima do fogo amigo. Para acabar com esse fogo amigo, um revólver só não resolveria. Teria que ser uma metralhadora para sair atirando. Esse pessoal não sabe medir as consequências. Tem muita insatisfação comigo no PP, no PT e do ex-ministro Márcio Fortes com sua equipe.
Pelo que o senhor fala, todo mundo pode sair ferido nessa briga?
NEGROMONTE: Por isso, vou tentar pacificar. Quem sofre mais com essa briga intestina sou eu. Eu trabalhei para que o PP saísse das páginas policiais, quando houve o escândalo do mensalão. Na ocasião, assumi a liderança da bancada. Ajudei o partido a crescer. Agora, vem um grupo que não pensa no partido. Aliás, essa turma que se rebelou é a turma que ficou contra a Dilma: os deputados Paulo Maluf (PP-SP), Esperidião Amin (PP-ES), Dudu da Fonte (PP-PE) e Ricardo Barros (ex-deputado do PP-PR). E ainda há disputas regionais, como em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraná e Pernambuco.
A presidente Dilma Rousseff já pediu explicações ao senhor depois das denúncias?
NEGROMONTE: Até agora, a presidente Dilma não me chamou para conversar. Se isso acontecer, vou responder a tudo o que ela perguntar. Quero sair daqui como entrei. Não quero sair do governo com mancha. Se um dia eu cometer um erro, vou pessoalmente falar com a presidente Dilma e entregar o cargo. Na semana passada, durante o voo para São José do Rio Preto, a presidente Dilma falou comigo e pediu para conseguir de volta a unidade da bancada. Estou tentando fazer isso.
Como é sua relação com a presidente Dilma?
NEGROMONTE: Ela sabe que fui companheiro de primeira hora, num momento em que muitos apoiaram o (tucano José) Serra. O PP não deu apoio oficial a Dilma porque muitos impediram. Mas Dilma sabe que, aqui no Cidades, não tem negócio errado. Já falei para o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência): "Se tem ministro sério no governo, não tem mais do que eu." Antes de ser confirmado ministro, passei 20 dias "na chuva". Investigaram tudo contra mim e não encontraram nada. Tenho seis mandatos e nenhum processo.
O Planalto avalia que o senhor perdeu a sustentação política com a bancada rachada. É possível reverter isso?
NEGROMONTE: Nem eu quero ser ministro de meia bancada. Mas o que há é dificuldade para atender os deputados. Isso é verdade. Aqui, não está acontecendo nada. No governo Dilma, é preciso suar para liberar dinheiro. Tem que ser um maratonista. Isso porque a presidente Dilma é muito detalhista. E isso cria insatisfação na bancada. Tenho R$ 3,8 bilhões de emendas em restos a pagar. Desse total, R$ 300 milhões estão encaminhados. Mas só consegui liberar R$ 25 milhões. Quando tem dinheiro para as emendas de restos a pagar, já vem a lista do Planalto. Isso gera muita insatisfação.
Como o senhor avalia sua permanência no governo?
NEGROMONTE: Minha situação é ruim com a bancada rachada. Mas eu não tenho apego ao cargo. Estou cumprindo uma missão. Eu só tenho apego ao meu mandato, com 170 mil votos. O que acontece é que eu estou contrariando muitos interesses. Recebo várias indicações. Mas aqui não tem indicação política. Essa é a recomendação da presidente Dilma. Por isso, os deputados ficam com raiva, como se eu tivesse vetado as indicações. Quanto maior o cargo, maiores a responsabilidade e a humildade. Quero dizer que vim aqui para fazer amigos.
E se a presidente Dilma pedir o cargo ao senhor?
NEGROMONTE: Antes de ela (Dilma) falar comigo, eu mesmo coloco o cargo à disposição. E volto para a Câmara para defender o governo Dilma. O que eu não quero é sair com a marca de que fiz coisa errada.

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