domingo, setembro 25, 2011

Gilmar Mendes insinua que PF protege senador aliado

Fotos: ABr e Folha
Relator de processo em que o senador Gim Argello (PTB-DF) é acusado de corrupção, o ministro Gilmar Mendes, do STF, anda abespinhado com a Polícia Federal.
Os dois parágrafos exibidos abaixo constam de ofício remetido por Gilmar ao corregedor da PF, Valdinho Caetano.
Reprodução IstoÉ
Deve-se à repórter Izabelle Torres a divulgação do teor do documento. Quem lê a peça enxerga nas entrelinhas uma grave insinuação.
Para Gilmar, a PF faz, por assim dizer, corpo mole na condução do inquérito contra Gim, líder do PTB e um dos mais fiéis aliados do governo no Senado.
A investigação foi aberta em 2005. Apura desvios de verbas da Câmara legislativa do Distrito Federal. Coisa de R$ 2 milhões, malversados entre 2003 e 2004.
Nessa época, Gim era deputado distrital de Brasília. Presidia o legislativo brasiliense Benicio Tavares (PMDB), indiciado como coresponsável pelos malfeitos.
Decorridos seis anos do início do inquérito, a PF não logrou concluir nem a fase das inquirições. Daí a irritação de Gilmar.
Gilmar recebeu do Ministério Público informações que indicariam que agentes da PF manobram para empurrar o caso com a barriga.
No ofício que remeteu à Corregedoria da PF, o ministro defere pedido da PF para que o inquérito seja prorrogado. Mas anota:
“…Tenha a Polícia federal mais empenho na realização das diligências determinadas por esta Corte”.
Gilmar estranhou que, ao intimar Gim Argello e Benício Tavares para depor, a PF tenha atribuído aos indiciados a prerrogativa de agendar a tomada do depoimento:
“…Nada justifica o equívoco da Polícia Federal ao oficiar ao deputado distrital e ao senador da República, aqui investigados, solicitando-lhes marcação de data e hora para as inquirições.”
Para Gilmar, a lei só prevê esse tipo de regalia a autoridades arroladas em processos como testemunhas, não a indiciados como Gim e Benicio.
O senador Gim só foi ouvido em maio passado. Procurador, disse que recebera apenas em 1o de março ofício no qual o delegado Marcos Paulo Pimentel.
Em casos do gênero, a demora é irmã gêmea da prescrição. Os crimes sob investigação no processo prescrevem em 2013.
“A mim não interessa a prescrição. Sou inocente e quero a sentença do Tribunal atestando isso”, diz Gim.
O acusado é senador sem votos. Suplente de Joaquim Roriz (PMN-DF), chegou ao Senado graças à renúncia do titular, em 2007.
Ainda sob Lula, Gim tornou-se rapidamente um dos mais destacados operadores do consórcio governista. Achegou-se aos grão-pemedebês Renan Calheiros e José Sarney.
Aproximou-se também de Dilma Rousseff. Chefe da Casa Civil de Lula, Dilma morava em casa oficial, na Península dos Ministros, no bairro do Lago Sul.
Dono de uma mansão assentada na vizinhança, Gim costumava acompanhar Dilma em caminhadas matinais.
O inquérito relatado por Gilmar Mendes é apenas um dos 38 processos que correm contra Gim na Justiça.
Poli-investigado, o senador responde a acusações que vão de crimes eleitorais a apropriação indébita, passando por sonegação e lavagem de dinheiro.
Por todas as razões, conviria à Polícia Federal exibir um pouco mais de “empenho na realização das diligências”.

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