domingo, setembro 25, 2011

Sob Lupi, Trabalho vira um ‘balcão’ partidário-sindical

  Marcello Casal/ABr
Nomeado por Lula em 2007 e renomeado por Dilma Rousseff em 2011, o ministro Carlos Lupi converteu a pasta do Trabalho num aparelho partidário-sindical.
Embora licenciado da presidência do PDT, Lupi dá as cartas no partido e no ministério. Por vezes, parece confundir um e outro.
Os repórteres Iuri Dantas e Marta salomon informam: Lupi pendurou no organograma do ministério, em posições de comando, dez integrantes da Executiva do PDT.
Entregou a outro dirigente do partido a presidência da Fundacentro, uma entidade de estudos vinculada à pasta, gestora, em 2011, de arcas fartas: R$ 45,7 milhão.
Você talvez estranhe a partidarização do espaço público. Mas Lupi acha normal, muito normal, normalíssimo:
“Todos são filiados ao PDT, o que pesou, sim, para suas nomeações. Reitero que todos os seus cargos são de livre provimento.”
Cargo de “livre provimento” dispensa a realização de concurso. Há cerca de 22 mil posições do gênero na engrenagem do governo federal.
No rateio das verbas, Lupi cuidou de azeitar o caixa das centrais sindicais, entre elas a Força Sindical, presidida pelo deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP).
Lupi teve de repassar os recursos por meio de brechas, já que as centrais, acusadas de desvios, estão proibidas pelo TCU de firmar convênios com o Trabalho.
Para esquivar-se do veto, o ministerio azeitou entidades ligadas às centrais. Só neste ano, liberaram-se R$ 11 milhões. Verbas do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador).
Parte desse dinheiro foi entregue à Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos, sediada em São Paulo.
Trata-se de um braço da Força Sindical. Mantém com a pasta gerida por Lupi um convênio de R$ 46,4 milhões.
A alegação do ministério é a de que precisava encontrar “novos parceiros” para fazer a intermediação de ofertas de emprego nas cidades de São Paulo e do Rio.
Ligado à UGT (União Geral dos Trabalhadores), uma entidade do Rio beliscou convênio de R$ 6 milhões.
Chama-se Sindicato dos Alfaiates, Costureiras e Trabalhadores da Confecção do Rio. Usou parte do dinheiro para reformar e mobiliar sua sede.
“Isso dá visibilidade às centrais”, diz o deputado Roberto Santiago (PV-SP), vice-presidente da UGT. “Fiquei intercedendo junto ao Lupi, deu trabalho.”
Por vezes, a agenda do ministro Lupi confunde-se com os compromissos do dirigente partirário Lupi.
Em 15 de julho, por exemplo, Lupi voou para São Luís, a capital maranhense. Durante o dia, era ministro.
Visitou postos do Sistema Nacional de Empregos, esteve com a governadora Roseana Sarney (PMDB), avistou-se com o presidente da Federação das Indústrias, Edilson Baldez das Neves.
À noite, já na pele de grão-pedetê, reuniu-se com a direção estadual de seu partido, testemunhou solenidade de filiação de novos membros da Juventude do PDT.
De novo, você pode achamar tudo um tanto esquisito. Lupi consideranormal.
Sobre os convênios com entidades sindicais diz que a seleção passou por “edital de chamada pública de parceria.”
Alega que houve ampla divulgação. Onde? No ‘Diário Oficial da União’.
Quanto à duplicidade de papéis, Lupi afirma que, a despeito de ser ministros, não abandonou as "funções de militante" do PDT.
Ele equipara os dois personagens reunidos nos mesmos sapatos:
"Não tenho uma função mais importante do que outra, mas tenho capacidade de atuar nestas funções por complete."
Zeloso, diz que só se veste de “militante” depois de afrouxar a gravata:
"Sempre tomo cuidado de manter essas reuniões após o horário de expediente, para evitar o conflito de interesses entre a figura política que sou com a de ministro."
Na semana passada, o “militante” Lupi participou de reunião com Lula, Michel Temer e mandachuvas de partidos do consórcio governista.
Discutiu-se a reforma política. Corriam as horas do expediente, nas quais o ministro Lupi é remunerado pelo contribuinte.

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