sexta-feira, outubro 21, 2011

PCdoB diz a Dilma que ministro não pedirá para sair

Sérgio Lima/Folha
Reunido com os três ministros que assessoram Dilma Rousseff no Planalto, o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, informou:
Orlando Silva, que representa o partido na poltrona de ministro dos Esportes, não pedirá para sair.
Por quê? Um pedido de demissão do ministro soaria como confissão de culpa. Culpa que ele e o PCdoB declaram não existir.
Ficou entendido que, se quiser acomodar outra pessoa no comando dos Esportes, Dilma terá de demitir Orlando.
Mais: o PCdoB não considera razoável que, optando pela medida extrama, a presidente retire do partido a primazia de indicar um substituto.
De volta de uma viagem de cinco dias à África, Dilma convocou, na noite desta quinta (20), uma reunião de emergência.
A atmosfera de azáfama contrastou com o lero-lero de horas antes. Ainda na África, Dilma elogiara o PCdoB e dissera que não tinha pressa para decidir sobre Orlando.
Foram ao encontro da presidente recém-desembarcada, os três ministros que haviam conversado com Rabelo, o ‘capa preta’ do PCdoB.
Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) e Ideli Salvatti (Coordenação Política) resumiram a Dilma o que ouviram de Rabelo.
A convite da presidente, foi ao Alvorada também o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça), superior hierárquico da Polícia Federal.
A mesma PF que, na véspera, inquirira por mais de seis joras o policial militar João Dias, acusador de Orlando Silva.
Mais cedo, o ministro dos Esportes fora aconselhado a ficar de prontidão. Dilma poderia chamá-lo para conversar.
Orlando Silva esticou o expediente no ministério. Mas a chefe não o chamou. E ele foi ao encontro dos travesseiros ruminando dúvidas quanto ao futuro.
Conforme já noticiado aqui, o Planalto considera que Orlando perdeu as condições políticas de conduzir o ministério. O PCdoB parece discordar.
Antes de se reunir com Gleisi, Carvalho e Ideli, Renato Rabelo conduzira um encontro do conselho político do partido. Integram-no dirigentes e congressistas.
Inicialmente, o encntro ocorreria em São Paulo. Mas preferiu-se transferi-lo para Brasília, epicentro da crise que engolfa o único ministério controlado pela legenda.
Presente à reunião do conselho, Orlando Silva degustou a solidariedade do partido. Decidiu-se deflagrar uma cruzada em sua defesa.
Tenta-se vender a tese segundo a qual as acusações dirigidas ao ministro compõem uma campanha sórdida da mídia e das “elites conservadoras”.
O alvo não seria apenas Orlando Silva. Trombeteia-se que o objetivo é enfraquecer o PCdoB e até, veja você, o governo de Dilma Rousseff.
Terminada a reunião em que o PCdoB afiou suas lanças, Rabelo foi ao Planalto e os dois senadores da legenda escalaram a tribuna.
Dirigindo-se mais às lentes da TV Senado do que ao plenário esvaziado, Inácio Arruda (CE) e Vanessa Grazziotin (AM) discursaram em defesa de Orlando e do PCdoB.
O retorno de Dilma coincidiu com a exibição, em rede nanacional, dapropaganda partidária semestral do PCdoB.
Gravada antes da tempestade dos Esportes, a peça foi reformulada às pressas. Injetaram-se no programa reações de Orlando Silva e de Renato Rabelo.
De resto, o PCdoB levou à web uma nota que reproduz o discurso de guerra ideológica combinado na reunião de seu conselho.
É contra esse pano de fundo envenenado que Dilma terá de decidir o que fazer com o Ministério dos Esportes.
A mini-reunião ministerial do Alvorada terminou perto da meia noite. Os interlocutores de Dilma se esquivaram das entrevistas.
Espera-se que a conversa da presidente com Orlando Silva ocorra ainda nesta sexta-feira (21). Dependendo do rumo, a prosa pode produzir resultados precários.
Há no Planalto um receio latente em relação ao que está por vir no noticiário do fim de semana. Voa na atmosfera conspurcada de Brasília uma gravação.
Captada pelo delator João Dias, a fita reproduz diálogo travado numa reunião a portas fechadas com assessores diretos de Orlando Silva. Coisa de abril de 2008.

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