segunda-feira, dezembro 05, 2011

Brasil!


Dilma em dose dupla


A saída de Carlos Lupi do governo reforça a impressão de que temos duas Dilmas em cena.
Dilma Furacão é intolerante com subordinados lerdos, pouco criativos e que se deixam intimidar por ela.
Dilma Eu Te Amo é tolerante com subordinados autores de malfeitos que envolvem o dinheiro público.
Uma é rapidíssima no gatilho. A outra, devagar quase parando.
Há lugar para as duas - desde que elas troquem de função.
Dilma Furacão passaria a cuidar dos autores de malfeitos. Dilma Eu Te Amo, dos subordinados que temem ser destratados se forem além dos seus chinelos. Por isso eles se calam e se retraem.
Dilma Eu Te Amo estava convencida de que conseguiria empurrar com a barriga a demissão de Lupi. Só queria executá-la quando promovesse em janeiro próximo a primeira reforma do seu ministério. Cada nova denúncia contra Lupi ela imaginava que seria a última. Vá lá: a penúltima. Avaliava os estragos e tocava adiante.
De público, jamais respondeu à pergunta que não queria calar: por que tendo trocado cinco ministros em menos de 10 meses preferia arcar com o desgaste de conservar Lupi ao seu lado?
Mediante o anonimato, porta-vozes informais de Dilma ensaiaram respostas por ela. As razões para sustentar Lupi seriam duas, pelo menos.
A primeira: ele ficaria até janeiro para que a imprensa não sentisse o gosto de ter derrubado mais um ministro.
De fato, os caídos devem sua desgraça à imprensa. Foi ela que descobriu seus malfeitos.
O governo sempre soube o que se passava em cada um dos ministérios, mas hesitava em agir. Sabe como é: a corrupção, infelizmente, é uma praga que viceja por toda parte, difícil de ser extirpada.
Alguns dos caídos foram embora por conta própria e à revelia da vontade de Dilma. Um deles: Alfredo Nascimento, ministro dos Transportes.
O PR de Alfredo faturou uma nota preta cobrando comissão por negócios fechados no âmbito do ministério. A ter que demitir Alfredo, Dilma ofereceu-se para ser a sua babá. Alfredo não aguentou o tranco.
A segunda razão: caso Lupi fosse despachado já, o PDT não abriria mão de indicar um nome para sua vaga. Assim como o PC do B indicou um nome para a vaga de Orlando Silva, ex-ministro dos Esportes, e o PMDB um nome para a vaga de Wagner Rossi, ex-ministro da Agricultura.
Dilma quer liberdade para em janeiro reembaralhar as cartas e distribui-las novamente.
Ministros perderão o emprego com uma tapinha nas costas.
Partidos perderão os atuais ministérios e ganharão outros.
Partidos perderão os atuais ministérios e não ganharão outros.
Há quem acredite até na hipótese de Dilma diminuir o tamanho do governo extinguindo ministérios.
Anotem aí: os partidos, seus aliados, não deixarão. Nem a pau.
Parecia haver certa resignação com a transferência para janeiro da saída de Lupi. Até que...
Até que a Comissão de Ética da Presidência da República concluiu que ele não deu respostas satisfatórias às acusações. E aconselhou que fosse demitido.
O tempo fechou. Dilma só faltou escalar parede à unha tamanha foi sua revolta com o ato da Comissão.
Esbravejou por não ter sido avisada de que a Comissão se reuniria para tratar do Caso Lupi.
Esbravejou por ter a comissão lhe sugerido que demitisse Lupi.
Esbravejou por só ter sido informada a respeito da decisão da Comissão depois de a imprensa tê-la noticiado.
Sentiu-se atingida em sua autoridade. E empurrada contra a parede.
Se não lhe faltasse juízo, engoliria a raiva e faria o que a Comissão sugeriu. O contrário seria impensável.
Foi a primeira vez em 12 anos de funcionamento que a Comissão de Ética apontou a porta da rua para um ministro.
Que tal seria Dilma passar à História como a presidente em cujo mandato a Comissão se autodissolveu?
Era o que estava para acontecer nesta semana.
Para mandar e ser obedecido você não precisa gritar com subordinados, dar murros na mesa ou fazer ameaças. Nem muito menos desprezar o bom senso, deixando no seu posto quem dele já deveria ter sido afastado em nome da decência.
Se Dilma tinha poder para segurar Lupi como segurou, também tinha para substituí-lo sem dar explicações a partidos. E sem se submeter aos caprichos deles.
Foi o que acabou por ocorrer ontem à tarde e com enorme atraso.
Quanto ao ministro Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, que faturou R$ 2 milhões como consultor de empresas em Minas Gerais, seu Estado...
Bem, deixemos o assunto para outro dia.

PDT se reúne nesta segunda para discutir substituição de Lupi

Andreia Sadi, Folha.com
O secretário-geral do PDT, Manoel Dias, disse que a Executiva do partido se reúne nesta segunda-feira para discutir a substituição do ministro do Trabalho, Carlos Lupi.
Com a saída de Lupi, assume o número 2 da pasta, Paulo Roberto Pinto. A reunião já estava prevista para debater a crise do ministro, mas agora o foco será a troca na pasta.
Segundo a Folha apurou, a principal preocupação dos pedetistas - especialmente os ligados à Força Sindical - é que o Ministério não caia no colo do PT e da CUT. Paulo Roberto é um cargo de estrita confiança do ex-ministro Lupi.
Dias disse estar "chocado" com a demissão do aliado. "Não achei que ele fosse sair porque foi tudo uma sacanagem".
O líder do PDT na Câmara, Giovanni Queiroz (PA), disse que o partido ainda não tem um nome para indicar, mas que o partido irá "sentar e discutir" amanhã.

Para oposição, há indícios de tráfico de influência

Líderes querem que Pimentel se explique no Congresso; para Planalto, cifras não são ‘tão astronômicas assim’
Mônica TavaresFábio Fabrini e Thiago Herdy, O Globo
Os partidos de oposição querem que o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, explique ao Congresso os contratos de sua empresa, a P-21 Consultorias e Projetos Ltda.
Como revelou O GLOBO ontem, o escritório de Pimentel faturou ao menos R$ 2 milhões em 2009 e 2010, período entre ele deixar a Prefeitura de Belo Horizonte e assumir o ministério, tendo atuado ainda como um dos homens-fortes da campanha da então candidata à Presidência Dilma Rousseff.
Para parlamentares, suas atividades de consultoria têm indícios de tráfico de influência, e Pimentel precisa dissipá-los.
No Palácio do Planalto, a avaliação foi que a atividade de consultor de Pimentel é de amplo conhecimento e foi empreendida quando ele não ocupava cargo público. As cifras também não foram consideradas "tão astronômicas assim", não havendo razão para suspeitas.
Esta semana, o líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA), vai discutir com os demais líderes oposicionistas a apresentação de um pedido de convocação de Pimentel. O líder do PPS, Rubens Bueno (PR), disse que vai fazer um requerimento de informações ao ministro. Para ele, o caso sugere que a expectativa de nomeação de Pimentel servia como "cartão de visitas para arregimentar clientes".
— O caso parece ter muita similitude com o do ex-ministro Palocci. Mostra que as pessoas do PT que teriam influência num eventual governo Dilma, enriqueceram e usaram dessa posição para isso — acusou ACM Neto, afastando a hipótese de investigação por improbidade administrativa, a exemplo do que ocorreu com Palocci, porque Pimentel não tinha cargo público à época das consultorias.

PT tentará evitar a convocação de Pimentel

O Globo
A base de apoio ao Planalto minimizou a revelação sobre os ganhos de Pimentel. Para o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), as consultorias dizem respeito à vida privada do ministro, pois ele não ocupava cargos públicos à época:
— Ele não era deputado, senador, prefeito, ministro. Não pode trabalhar? É um assunto entre ele e as empresas para as quais prestou serviços.
Vaccarezza adiantou que o governo vai trabalhar para derrubar tentativas de convocar o ministro para se explicar no Congresso. Para ele, a suspeita de tráfico de influência não faz sentido, pois, à época, Dilma não era candidata.
— Não acredito que o PSDB pedirá (a convocação). Tem de haver razoabilidade no debate político — comentou.
Um dos principais aliados do ministro em Minas Gerais, o deputado federal Reginaldo Lopes, presidente do PT-MG, garante que Pimentel vai prestar esclarecimentos nos próximos dias:
— Fernando vai falar sobre isso, é evidente. Mas adianto que quando ele foi chamado para ser ministro, paralisou suas consultorias. Não esperou nenhuma cobrança da sociedade.
Para Lopes, não há conflito de interesses na relação do ministro com construtoras que mantêm contrato com governos.
— Todas as grandes empresa que buscam consultores têm relação com diversos órgãos. Consultorias na qualidade da (mantida pelo) ex-prefeito têm relação com as maiores construtoras do Brasil — diz Reginaldo.
Já o líder da oposição na Assembleia de Minas, o deputado estadual Rogério Correia (PT) informou que as atividades da empresa de Pimentel serão discutidas na reunião da Executiva Estadual do partido, hoje.

Havelange renuncia ao COI dias antes de possível expulsão

Folha.com
O ex-presidente da Fifa João Havelange, 95, renunciou ao Comitê Olímpico Internacional (COI) dias antes de a entidade anunciar decisão sobre casos de corrupção ocorridos nos últimos anos e que envolviam o nome do brasileiro, segundo revelou a agência de notícias "Associated Press". 
A ação acontece poucos dias antes de o comitê de ética do COI recomendar sanções pesadas contra Havelange no caso envolvendo a agência ISL, que trabalhava com o marketing da Fifa. Com sua renúncia, o caso deverá ser arquivado.

'Vivo exilado em meu próprio país'

Francisco procurou o Programa Nacional de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos ao receber ameaças, mas encontrou um programa ineficaz
Júlia Rodrigues, Veja on line
Presidente de uma organização não-governamental que fiscaliza gastos públicos, Francisco Fernandes da Silva é um homem marcado para morrer. Depois de denunciar um esquema de corrupção montado em Antonina do Norte, cidade cearense de 7 mil habitantes a 473 quilômetros de Fortaleza, passou a receber ameaças e foi espancado no Carnaval deste ano.
Incluído em julho no Programa Nacional de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos (PPDDH), Francisco não deveria, em tese, se preocupar com a própria integridade física ou de sua família. Na prática, existem motivos de sobra para continuar amedrontado.
Se o programa funcionasse conforme o prometido, ele teria direito a uma espécie de kit segurança: telefone, bina, ronda policial nos locais onde mora e trabalha, colete à prova de bala e transporte seguro – seja lá o que for isso – para circular pela cidade. Tudo por conta do governo.
A assistência recebida se limitou a 1.800 reais divididos em três parcelas de 600 reais. “Estou completamente abandonado pelo programa”, resume. “O governo alega ter um dos melhores programas de proteção do mundo, mas tudo não passa de uma farsa”.
A luta contra o prefeito e os vereadores de Antonina do Norte começou em 2008, quando Francisco criou um perfil no Orkut para denunciar os abusos que havia testemunhado. A página utilizada para difundir as revelações demorou menos de um mês para atingir a marca máxima da rede social: mil amigos. O sucesso na internet o incentivou a alçar voos mais ousados.

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