Ricardo Teixeira não é mais o presidente da CBF. Alvo de diversas denúncias de corrupção, o dirigente que comandava o futebol brasileiro havia mais de duas décadas renunciou nesta segunda-feira. A notícia foi dada por José Maria Marin, que leu uma carta em que Teixeira se despede do cargo - ele presidia a CBF desde 1989. Ex-genro de João Havelange, que comandou a CBD (que viria a se tornar CBF) entre 1956 e 1974, Teixeira se espelhou no cartola em seu gosto pela permanência no poder, e conseguiu se reeleger por quatro vezes consecutivas. José Maria Marin assumirá o cargo que foi de Teixeira até o fim do mandato, que termina em 2014, por ser o vice-presidente mais velho da CBF.
Marin é ex-governador de São Paulo e foi visto recentemente embolsando uma medalha que deveria ser entregue aos jogadores da equipe sub-18 do Corinthians, que venceram a Copa São Paulo de Juniores. Após o flagrante, ele afirmou que o objeto era um presente da Federação Paulista de Futebol. Pouco tempo atrás, Teixeira era considerado nome certo para disputar a sucessão do presidente Joseph Blatter na Fifa, em 2015. Sua situação piorou quando teria apoiado nos bastidores a candidatura do catariano Mohamed bin Hammam nas eleições do ano passado. Hammam desistiu da candidatura pouco tempo depois por conta de denúncias de corrupção.
A mudança de lado de Teixeira abalou suas relações com Blatter, que passou a apontar Michel Platini, atual presidente da Uefa, como seu possível sucessor. No período em que Ricardo Teixeira esteve à frente da entidade, o Brasil disputou seis Copas do Mundo e conquistou duas, em 1994 e 2002. A alternância entre fracassos e bons desempenhos dentro de campo ocorreu simultaneamente a uma série de denúncias contra o dirigente. O primeiro momento de grande turbulência ocorreu no início dos anos 2000, quando foi acusado de lavagem de dinheiro, apropriação indébita, sonegação de impostos e evasão de divisas no relatório da CPI do Futebol.
Apesar das numerosas denúncias, Teixeira não foi condenado pela Justiça e seguiu à frente da CBF. Mesmo sendo o principal nome da organização da Copa do Mundo de 2014, comandando o Comitê Organizador Local (COL), Teixeira se enfraqueceu nos últimos meses pelo aumento das denúncias envolvendo seu nome. Ricardo Teixeira também deixou a presidente do Comitê Organizador Local (COL) da Copa de 2014, cargo que também será ocupado por José Maria Marin. A troca de comando no comitê é mais um episódio de grande repercussão no turbulento processo de preparação do Brasil para sediar o Mundial - o país vem sendo criticado pela Fifa pela demora nos projetos ligados à Copa.
Ascensão e queda do cartola
1972 | Formado em direito, casa-se com Lúcia Havelange, filha do então presidente da Fifa, João Havelange. E entra no mundo do futebol |
1989 | É eleito presidente da Confederação Brasileira de Futebol |
1990 | Em sua primeira Copa do Mundo, o Brasil é eliminado pela Argentina nas oitavas de final |
1994 | O Brasil é tetracampeão do mundo, nos Estados Unidos. Na volta, Teixeira trouxe no avião da delegação, sem declarar, equipamentos para montar um bar de luxo no Rio de Janeiro |
1998 | O Brasil perde a final da Copa do Mundo para a França. Teixeira é alvo de investigações por fraudes no contrato da CBF com a Nike, mas consegue escapar graças ao apoio da bancada da bola |
2000 | Teixeira depõe na CPI do Senado que investiga a relação da CBF com a Nike. A CBF é multada pela Receita Federal em 14 milhões de reais por sonegação fiscal |
2002 | O Brasil é pentacampeão do mundo no Japão, mas o título não encerra a onda de denúncias contra Teixeira |
2007 | Teixeira paga a viagem de cinquenta parlamentares e doze governadores à Suíça, onde o Brasil é escolhido a sede da Copa de 2014. Na volta, 74 parlamentares retiram as assinaturas de pedido de nova CPI para investigar a CBF |
2010 | Rompe com o presidente da Fifa, Joseph Blatter. Com o fim do governo Lula e a posse de Dilma Rousseff, perde apoio do governo federal |
2011 | Investigação na Suíça revela que Teixeira recebeu 15 milhões de reais de propina da empresa de marketing ISL. Sem apoio político, começa a vender seus bens, muda-se para Miami e pede licença da presidência da CBF |
2012 | Resolve prorrogar a licença e, posteriormente, renunciar ao comando da CBF, após 23 anos |
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