Demóstenes diz que não sabia de ligação de Cachoeira com o crime: "Eu não poderia adivinhar"
Senador apresenta defesa ao Conselho de Ética, após três meses de silêncio. Parlamentar apelou ao sentimentalismo e disse estar sofrendo de depressão
Laryssa Borges e Gabriel Castro
Senador Demóstenes Torres, acusado de quebra de decoro parlamentar, chega ao Senado para depor no Conselho de Ética (José Cruz/Agência Senado )
Falando ao Conselho de Ética do senado, Demóstenes Torres (sem partido-GO) afirmou nesta terça-feira que desconhecia as atividades criminosas de Carlinhos Cachoeira, com quem mantinha uma estreita relação: "Eu não tinha a lanterna na popa. Não poderia adivinhar o que sei hoje", afirmou o senador. "O que eu sabia é que me relacionava com um empresário e esse empresário também se relacionava com cinco governadores e dezenas de parlamentares". A tese de Demóstenes é questionável, porque as conversas gravadas pela Polícia Federal com autorização da Justiça mostram que o senador tinha ciência de que o contraventor operava uma rede de exploração de caça-níqueis. Ainda assim, o parlamentar disse ao Conselho de Ética que chegou a "jogar o verde" para tentar descobrir se o amigo explorava o jogo ilicitamente.
Demóstenes começou a falar às 10h20 e usou quase duas horas para tecer suas considerações iniciais. Com a fisionomia abatida, ele apelou para o sentimentalismo, disse passar por uma crise pessoal e citou a família. "Devo dizer a vossas excelências que vivo o pior momento da minha vida, um momento que jamais imaginaria passar", disse. "A partir de 29 de fevereiro desse ano, hoje estamos inteirando três meses do episódio, passei a enfrentar algo que nunca tinha enfrentado na minha vida: depressão, remédios para dormir e que não fazem efeito, fuga dos amigos e talvez a campanha sistemática mais orquestrada da história do Brasil".
O senador também fez referências religiosas: "Só pude chegar aqui hoje porque quero dizer para os senhores que redescobri Deus", declarou. Ele também citou sua atuação parlamentar e os projetos importantes que ajudou a aprovar, numa tentativa de resgatar a imagem positiva que construiu paralelamente às ligações com a quadrilha. E negou ter usado o mandato a favor de Cachoeira e disse não ser crime informar o contraventor do andamento de um projeto de lei sobre a legalização de jogos de azar. “Que lobista sou eu que nunca procurei nenhum colega senador para aprovar jogo, qualquer que seja o partido?”, questionou.
O senador também fez referências religiosas: "Só pude chegar aqui hoje porque quero dizer para os senhores que redescobri Deus", declarou. Ele também citou sua atuação parlamentar e os projetos importantes que ajudou a aprovar, numa tentativa de resgatar a imagem positiva que construiu paralelamente às ligações com a quadrilha. E negou ter usado o mandato a favor de Cachoeira e disse não ser crime informar o contraventor do andamento de um projeto de lei sobre a legalização de jogos de azar. “Que lobista sou eu que nunca procurei nenhum colega senador para aprovar jogo, qualquer que seja o partido?”, questionou.
O ex-democrata também afastou a possibilidade de ter ligações com a empreiteira Delta e de conhecer o ex-presidente da construtora, Fernando Cavendish. “Como posso ser sócio de alguém que não conheço? Não posso ser responsável pelo que os outros dizem de mim”, reclamou o senador. “Tudo foi feito com o intuito de me destruir. Sócio oculto da Delta não sou eu. Se tem sócio oculto da empresa Delta procurem com uma lupa maior aí que não sou eu”, disse.
Milhão - o senador disse ser improcedente a afirmação de que recebia 30% do que era arrecadado pela quadrilha com a exploração de caça-níqueis. Para sustentar sua versão, leu trechos dos autos que poderiam isentá-lo dessa acusação e entregou ao Conselho de Ética extratos de duas de suas contas bancárias. “Podem quebrar (o sigilo) a qualquer momento. Em nenhum momento foi depositado 1 milhão nas minhas contas. É preciso dizer que nem 1 milhão, nem 1 000 reais, nem 3 milhões”, declarou ele. "Todas as autoridades que atuaram nesse inquérito disseram textualmente que eu não tenho nada a ver com o jogo", afirmou.
Nextel - O senador também disse que recebeu o rádio modelo Nextel do bicheiro Carlinhos Cachoeira e o utilizou por “comodidade”. Negou, porém, ter conhecimento de que as conversas supostamente não poderiam ser grampeadas. "Hoje é fácil verificar que foi um erro. Não podia imaginar jamais que 40 ou mais pessoas tinham esses rádios”, afirmou.
Aeronave - O parlamentar também confirmou ter usado aeronaves de empresários – a cessão de ao menos uma delas foi intermediada por Carlinhos Cachoeira. "Avião de empresários e amigos, utilizei. Vários", afirmou. "Não utilizei isso em troca do meu mandato parlamentar". Demóstenes afirmou, ainda, que nenhum dos aviões pertencia a Cachoeira.
Ministros - O senador também tratou do encontro que manteve em Berlim com o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes. Segundo o parlamentar, eles tinham destinos diferentes na Europa e se encontraram na cidade alemã por alguns dias. O retorno teria ocorrido em voos separados. Demóstenes também afirmou ter tido encontros com os ministros Luiz Fux e Antonio Dias Toffoli, mas por razões prosaicas e que nada têm a ver com as atividades do Congresso e do Supremo.
Peregrinação - Em seu depoimento, Demóstenes Torres também afirmou ter ter intermediado interesses da Vitaplan, empresa do bicheiro Carlinhos Cachoeira, junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Atuei em favor de todas as empresas do estado de Goiás. A Vitapan me procurou e era de propriedade do Carlos Cachoeira. Fui lá”, relatou. Ele disse ter feito uma espécie de peregrinação a gabinetes de ministros e de empresas para defender interesses do estado de Goiás. Em nenhum caso, disse ele, tratou de “interesses escusos”.
Aécio - O senador reconheceu ter pedido ao colega Aécio Neves (PSDB-MG) a nomeação de uma prima de Carlinhos Cachoeira no governo mineiro. Mas se exime: "Como eu disse, eu não tinha naquele momento a dimensão do que estava acontecendo. Mas pedi o emprego, para uma vaga que era do DEM, de uma pessoa extremamente qualificada".
Funcionária - O parlamentar admitiu que manteve uma funcionária na cidade de Anápolis, onde não mantinha escritório parlamentar, mas disse que demitiu a servidora assim que ficou claro que a contratação feria as normas do Senado.
Cassação - O PSOL protocolou em março representação contra Demóstenes no Conselho de Ética logo depois de o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, ter pedido abertura de inquérito contra o parlamentar no Supremo Tribunal Federal (STF). Demóstenes pode perder o mandato por quebra de decoro parlamentar em votação secreta no plenário do Senado. Para o relator do processo no Conselho de Ética, Humberto Costa (PT-PE), ele mentiu ao negar relações com o contraventor Carlinhos Cachoeira.
Autor do requerimento que pede a cassação do político goiano, o PSOL diz que Demóstenes recebeu vantagens indevidas de Cachoeira. Conversas telefônicas interceptadas pela Polícia Federal revelam, por exemplo, que o senador pediu dinheiro ao contraventor para arcar com despesas de um táxi aéreo e que atuava, como parlamentar, para defender os interesses do bicheiro
Democratas, nunca pederam suas origens(Roubo),tanto lá fora como aqui em CRateus.
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