terça-feira, maio 29, 2012

"Eu não poderia adivinhar"


Demóstenes diz que não sabia de ligação de Cachoeira com o crime: "Eu não poderia adivinhar"

Senador apresenta defesa ao Conselho de Ética, após três meses de silêncio. Parlamentar apelou ao sentimentalismo e disse estar sofrendo de depressão

Laryssa Borges e Gabriel Castro
Senador Demóstenes Torres, acusado de quebra de decoro parlamentar, chega ao Senado para depor no Conselho de Ética
Senador Demóstenes Torres, acusado de quebra de decoro parlamentar, chega ao Senado para depor no Conselho de Ética (José Cruz/Agência Senado )
Falando ao Conselho de Ética do senado, Demóstenes Torres (sem partido-GO) afirmou nesta terça-feira que desconhecia as atividades criminosas de Carlinhos Cachoeira, com quem mantinha uma estreita relação: "Eu não tinha a lanterna na popa. Não poderia adivinhar o que sei hoje", afirmou o senador. "O que eu sabia é que me relacionava com um empresário e esse empresário também se relacionava com cinco governadores e dezenas de parlamentares". A tese de Demóstenes é questionável, porque as conversas gravadas pela Polícia Federal com autorização da Justiça mostram que o senador tinha ciência de que o contraventor operava uma rede de exploração de caça-níqueis. Ainda assim, o parlamentar disse ao Conselho de Ética que chegou a "jogar o verde" para tentar descobrir se o amigo explorava o jogo ilicitamente.
Demóstenes começou a falar às 10h20 e usou quase duas horas para tecer suas considerações iniciais. Com a fisionomia abatida, ele apelou para o sentimentalismo, disse passar por uma crise pessoal e citou a família. "Devo dizer a vossas excelências que vivo o pior momento da minha vida, um momento que jamais imaginaria passar", disse. "A partir de 29 de fevereiro desse ano, hoje estamos inteirando três meses do episódio, passei a enfrentar algo que nunca tinha enfrentado na minha vida: depressão, remédios para dormir e que não fazem efeito, fuga dos amigos e talvez a campanha sistemática mais orquestrada da história do Brasil".

O senador também fez referências religiosas: "Só pude chegar aqui hoje porque quero dizer para os senhores que redescobri Deus", declarou. Ele também citou sua atuação parlamentar e os projetos importantes que ajudou a aprovar, numa tentativa de resgatar a imagem positiva que construiu paralelamente às ligações com a quadrilha. E negou ter usado o mandato a favor de Cachoeira e disse não ser crime informar o contraventor do andamento de um projeto de lei sobre a legalização de jogos de azar. “Que lobista sou eu que nunca procurei nenhum colega senador para aprovar jogo, qualquer que seja o partido?”, questionou.
O ex-democrata também afastou a possibilidade de ter ligações com a empreiteira Delta e de conhecer o ex-presidente da construtora, Fernando Cavendish. “Como posso ser sócio de alguém que não conheço? Não posso ser responsável pelo que os outros dizem de mim”, reclamou o senador. “Tudo foi feito com o intuito de me destruir. Sócio oculto da Delta não sou eu. Se tem sócio oculto da empresa Delta procurem com uma lupa maior aí que não sou eu”, disse.
Milhão -  o senador disse ser improcedente a afirmação de que recebia 30% do que era arrecadado pela quadrilha com a exploração de caça-níqueis. Para sustentar sua versão, leu trechos dos autos que poderiam isentá-lo dessa acusação e entregou ao Conselho de Ética extratos de duas de suas contas bancárias. “Podem quebrar (o sigilo) a qualquer momento. Em nenhum momento foi depositado 1 milhão nas minhas contas. É preciso dizer que nem 1 milhão, nem 1 000 reais, nem 3 milhões”, declarou ele. "Todas as autoridades que atuaram nesse inquérito disseram textualmente que eu não tenho nada a ver com o jogo", afirmou. 
Nextel - O senador também disse que recebeu o rádio modelo Nextel do bicheiro Carlinhos Cachoeira e o utilizou por “comodidade”. Negou, porém, ter conhecimento de que as conversas supostamente não poderiam ser grampeadas. "Hoje é fácil verificar que foi um erro. Não podia imaginar jamais que 40 ou mais pessoas tinham esses rádios”, afirmou.
Aeronave - O parlamentar também confirmou ter usado aeronaves de empresários – a cessão de ao menos uma delas foi intermediada por Carlinhos Cachoeira. "Avião de empresários e amigos, utilizei. Vários", afirmou. "Não utilizei isso em troca do meu mandato parlamentar". Demóstenes afirmou, ainda, que nenhum dos aviões pertencia a Cachoeira.
Ministros - O senador também tratou do encontro que manteve em Berlim com o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes. Segundo o parlamentar, eles tinham destinos diferentes na Europa e se encontraram na cidade alemã por alguns dias. O retorno teria ocorrido em voos separados. Demóstenes também afirmou ter tido encontros com os ministros Luiz Fux e Antonio Dias Toffoli, mas por razões prosaicas e que nada têm a ver com as atividades do Congresso e do Supremo.
Peregrinação - Em seu depoimento, Demóstenes Torres também afirmou ter ter intermediado interesses da Vitaplan, empresa do bicheiro Carlinhos Cachoeira, junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Atuei em favor de todas as empresas do estado de Goiás. A Vitapan me procurou e era de propriedade do Carlos Cachoeira. Fui lá”, relatou. Ele disse ter feito uma espécie de peregrinação a gabinetes de ministros e de empresas para defender interesses do estado de Goiás. Em nenhum caso, disse ele, tratou de “interesses escusos”. 
Aécio - O senador reconheceu ter pedido ao colega Aécio Neves (PSDB-MG) a nomeação de uma prima de Carlinhos Cachoeira no governo mineiro. Mas se exime: "Como eu disse, eu não tinha naquele momento a dimensão do que estava acontecendo. Mas pedi o emprego, para uma vaga que era do DEM, de uma pessoa extremamente qualificada".
Funcionária - O parlamentar admitiu que manteve uma funcionária na cidade de Anápolis, onde não mantinha escritório parlamentar, mas disse que demitiu a servidora assim que ficou claro que a contratação feria as normas do Senado.
Cassação - O PSOL protocolou em março representação contra Demóstenes no Conselho de Ética logo depois de o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, ter pedido abertura de inquérito contra o parlamentar no Supremo Tribunal Federal (STF). Demóstenes pode perder o mandato por quebra de decoro parlamentar em votação secreta no plenário do Senado. Para o relator do processo no Conselho de Ética, Humberto Costa (PT-PE), ele mentiu ao negar relações com o contraventor Carlinhos Cachoeira.
Autor do requerimento que pede a cassação do político goiano, o PSOL diz que Demóstenes recebeu vantagens indevidas de Cachoeira. Conversas telefônicas interceptadas pela Polícia Federal revelam, por exemplo, que o senador pediu dinheiro ao contraventor para arcar com despesas de um táxi aéreo e que atuava, como parlamentar, para defender os interesses do bicheiro

1 comentários:

  1. Democratas, nunca pederam suas origens(Roubo),tanto lá fora como aqui em CRateus.

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