quarta-feira, dezembro 12, 2012

Valério: PT cobrava pedágio em contratos do BB


Segundo empresário, dirigentes do banco cobravam 2% do valor dos contratos de publicidade e dinheiro ia direto para caixa do partido

Marcos Valério
No depoimento, Valério envolveu ex-presidente Lula no esquema do mensalão (Reprodução)
Dirigentes do Banco do Brasil cobravam 2% do valor de todos os contratos das agências de publicidade que prestavam serviço para a instituição financeira, afirmou Marcos Valério em seu depoimento à Procuradoria-Geral da República (PGR) em setembro deste ano. Segundo o empresário, o “pedágio”, cobrado pelo banco a partir de 2003, ia diretamente para o caixa do partido.
O depoimento de Valério sugere que os desvios que abasteceram o mensalão foram muito maiores do que avaliado pelo Supremo Tribunal Federal, que julga os envolvidos no esquema. No período de operação plena do mensalão, entre 2003 e 2004, quando uma série de parlamentares fez saques das contas das empresas de Valério, o Banco do Brasil pagou, segundo dados CPI dos Correios, pelo menos 434 milhões de reais a agências de publicidade. Ao longo desse período de dois anos, a agência DNA, uma das empresas de Valério, que detinha um dos contratos com o BB, aumentou sua participação nos acordos enquanto o bolo recebido pelas demais agências declinava aos poucos.
Ainda no primeiro ano de governo do ex-presidente Lula, em 2003, a DNA, que já trabalhava com o BB durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, conseguiu renovar o contrato com a instituição financeira pública.
O valor estimado dos gastos anuais de publicidade com a DNA era de 152,8 milhões de reais, segundo informações do Ministério Público Federal. A renovação teria rendido a Pizzolato mais de 300 000 reais de contrapartida, segundo dados usados pelos ministros do Supremo para condenar o ex-diretor do banco corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato, com pena de 12 anos e sete meses de prisão.
Além da DNA, a licitação 01/2003 originou contratos com a Ogilvy Brasil Comunicação Ltda. e a D+Brasil Comunicação Total. Já havia contratos em andamento desde 2002 com as agências Grottera Comunicação e Lowe Lintas Partners, que continuaram a ser prorrogados a partir de 2003, início do governo Lula.
Segundo o depoimento de Valério, o suposto esquema de desvio de dinheiro público que deveria ser aplicado em publicidade foi criado pelo ex-diretor de Marketing do banco, Henrique Pizzolato – também condenado no julgamento do mensalão – e Ivan Guimarães, ex-presidente do Banco Popular do Brasil, que integra a estrutura do Banco do Brasil. Pizzolato negou que tenha cobrado “pedágio” das agências de publicidade. Guimarães não foi localizado pela reportagem. Ivan Guimarães também esteve envolvido no episódio da compra do apartamento da ex-mulher de José Dirceu por Rogério Tolentino, sócio de Marcos Valério. 
Despesas de Lula – No seu depoimento, Valério disse ainda que dinheiro do esquema do mensalão – que comprou voto de parlamentares do Congresso Nacional entre 2003 e 2005 – também serviu para pagar “despesas pessoais” do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo Valério, o dinheiro era depositado na conta de uma empresa de Freud Godoy, na época assessor pessoal de Lula.
Outras acusações feitas por Valério em seu depoimento, após a condenação no STF por operar o mensalão, apontam que o ex-presidente deu “ok” para os empréstimos com os bancos BMG e Rural que viriam a irrigar o esquema. O empresário mineiro afirmou também que foi ameaçado de morte por Paulo Okamotto, atualmente presidente do Instituto Lula. Tanto Okamotto quanto Lula, ambos em viagem ao exterior, negaram as acusações.
Conforme revelou reportagem de VEJA, Valério procurou espontaneamente a PGR dizendo ter mais informações sobre o caso assim que foi condenado a 40 anos de prisão pelo STF. O empresário disse querer proteção e tentar uma delação premiada – instrumento jurídico que permite a redução da pena de um acusado quando ele concorda em dar mais informações sobre os crimes nos quais está envolvido.
Os ministros do STF adiantaram que as novas informações de Valério não poderiam beneficiá-lo no julgamento do mensalão, mas apenas em outros processos que envolvem o réu responde. Valério responde a outras ações na Justiça, como a do mensalão mineiro, no qual políticos são acusados de desviar dinheiro público do governo de Minas Gerais a fim de abastecer, no ano de 1998, a campanha à reeleição do então governador tucano Eduardo Azeredo, ex-presidente nacional do PSDB e atualmente deputado federal.
(Com Estadão Conteúdo)

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