segunda-feira, abril 15, 2013

Lula busca um candidato em SP e esbarra em Mercadante


Conselheiro da presidente Dilma Rousseff, o ministro da Educação volta a ganhar força na disputa interna do partido. Mas o ex-presidente Lula não topa

Gabriel Castro, de Brasília
Presidente Dilma Rousseff e o Ministro Aloisio Mercadante
Mercadante: proximidade com Dilma para tentar candidatura (Nilton Cardin/Futura Press)
Há uma semana, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, se reuniu com a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em São Paulo. O assunto nada tinha a ver com o sistema educacional do país: o trio discutia a possibilidade de candidatura do ministro ao governo de São Paulo. Seria a terceira vez. Mercadante já perdeu as duas primeiras para tucanos: em 2006 para José Serra e, em 2010, para Geraldo Alckmin. Agora, entretanto, ele volta a aparecer como um nome dentro do PT justamente pela falta de quadros - a rejeição a Marta Suplicy, por exemplo, não encoraja quase ninguém no partido.
O projeto de Mercadante esbarra hoje na resistência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que sonha em repetir o feito das eleições de Dilma Rousseff e Fernando Haddad, apostas que entraram nas disputas sem nunca ter recebido um voto e saíram vitoriosos. Nesse cenário, o favorito de Lula atualmente é o ministro da Saúde, Alexandre Padilha. 
Discretamente, entretanto, Mercadante já começou a se mobilizar em busca de apoio para a empreitada. Na semana passada, ele falou para integrantes do grupo Lide, que reúne parte da elite empresarial do país. Na semana anterior, discursou no Congresso Paulista de Municípios. O principal trunfo do petista é a confiança da presidente Dilma Rousseff, o que ajuda a explicar sua ascensão após ter a imagem tão desgastada pelo jamais explicado escândalo do dossiê dos aloprados. Mercadante costuma aconselhar a chefe em questões importantes, ainda que, segundo integrantes do governo, seja especialista em dizer somente aquilo que Dilma quer ouvir. Ele também acompanha Dilma em quase todas as viagens - inclusive na cerimônia de posse do Papa Francisco. 
A agenda de Mercadante, aliás, não revela muitos compromissos ligados à educação. São mais frequentes as cerimônias públicas - e os despachos internos, especialmente às sextas-feiras. Na semana passada, por exemplo, a rotina resumiu-se a um almoço com empresários (segunda-feira), uma audiência pública na Câmara e a uma reunião do Fórum Nacional de Educação (quarta). Já a terça-feira, a quinta e a sexta foram dedicadas a "despachos internos". Na mesma semana, um ranking elaborado pelo Fórum Econômico Mundial colocou o Brasil em 116º lugar entre 144 países. Em ciências e matemática, nossos alunos sabem menos do que os etíopes.
Mercadante parece não se incomodar: com estilo bonachão, costuma emplacar sequências de piadas em seus discursos. Depois de um deles, quando empossou novos secretários-executivos do ministério, Mercadante falou ao site de VEJA sobre 2014: "O PT vai definir essa situação em São Paulo até o fim do semestre", disse o petista. E, como se não fosse ele o primeiro a misturar as atividades de ministro com as de pré-candidatura ao governo, o petista disse que sua prioridade é a educação: "O MEC não pode estar envolvido nesse tipo de discussão. Temos que preservar as relações republicanas com os entes federados. O que eu vou fazer agora é trabalhar como ministro da Educação", disse.
Entraves - O site do ministério informa que Mercadante concluiu seu doutorado em economia em 2006; mas a defesa da tese do petista - um elogio desmedido do governo Lula - só foi feita quatro anos depois. Pequenas mentiras no currículo já derrubaram autoridades em países mais sérios. Por aqui, não fazem grande estrago. E esse não é o maior problema de Mercadante: em 2011, VEJA mostrou como ele participou da compra do chamado dossiê dos aloprados, cinco anos antes. Era uma tentativa de atingir o então candidato tucano ao governo de São Paulo, José Serra. A Polícia Federal apreendeu cerca de 1,7 milhão de reais em poder de um grupo de petistas - inclusive Hamilton Lacerda, coordenador de campanha de Mercadante à época. Apesar de a Justiça ter livrado o ministro de punições, ainda restam lacunas que podem voltar à tona durante a campanha, como a pergunta que até hoje não foi respondida: qual a origem do dinheiro usado na compra do dossiê?
Cargo-chave - O governo de São Paulo é o cargo mais relevante que o PT ainda não pôs as mãos. Com a oposição está enfraquecida, Luiz Inácio Lula da Silva não quer perder a oportunidade de destronar os rivais tucanos. Em 2010, por pouco a disputa não chegou ao segundo turno - o que, em um estado onde o PSDB tem hegemonia, foi visto pelo PT como um sinal de força. Na ocasião, Mercadante ficou com 35,2% dos votos válidos. Em 2006, ele obteve 31,6%. 
A eleição de Fernando Haddad para a prefeitura paulistana, no ano passado, foi uma vitória importante no projeto de Lula. Mas, para chegar ao Palácio dos Bandeirantes em 2014, o PT vai precisar ir mais longe e romper a resistência do eleitor nos municípios do interior do estado, que resiste ao PT. 
Neste cenário, também surgem candidatos fora da polarização PT-PSDB: Gilberto Kassab (PSD) e Gabriel Chalita (PMDB) cogitam entrar na disputa. O PT incentiva: sabe que a pulverização das candidaturas é sempre ruim para quem está no poder. E, em um eventual segundo turno, os tucanos teriam dificuldades de obter novos apoios.
A criação do PSD foi especialmente danosa para o PSDB de Geraldo Alckmin. Apesar do "equilibrismo" de Gilberto Kassab, que pretende se manter ao lado de qualquer governante no poder, a influência do PT e de Dilma Rousseff deve deixar o ex-prefeito da capital mais próximo do candidato petista em um eventual segundo turno. Mas o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP), diz estar otimista: "Eu penso que o eleitor que vota no Kassab e nos candidatos do PSD tende muito mais para o nosso lado do que para o PT", diz ele. Ainda de acordo com o senador, não há razão para ver a disputa de 2014 como uma disputa especialmente difícil para os tucanos: "Todas as vezes o PT se empenhou muito; na última vez, inclusive, o Mercadante fez apelos dramáticos, quase implorou ao eleitor: 'Me dê uma chance'. E não funcionou".
Alckmin não está parado: na semana passada, anunciou um corte de 10% nas tarifas de pedágio - ao lado do crescimento da violência, os valores cobrados nas rodovias devem ser um tema central da campanha em 2014. O tucano também tem usado a ocupação de espaços no governo para se aproximar de partidos como  PDT e o PSC. Assim como no plano federal, com as movimentações dos possíveis candidatos, o jogo pelo governo paulista já começou.
 
Após a publicação da reportagem, a assessoria do ministro enviou nota na qual afirma que Mercadante "foi inocentado pelo rigoroso procurador da República Antonio Fernando de Souza e pelos onze ministros do Supremo, por unanimidade". A nota diz ainda que, "recentemente, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, voltou a arquivar a representação apresentada pelos partidos de oposição, reafirmando de forma taxativa que não há qualquer indício de participação do ministro Mercadante no episódio".
 

Geraldo 

Aloizio Mercadante

Para o ministro da Educação, a disputa pelo governo de São Paulo não seria uma novidade: ele perdeu em 2006 para José Serra e, em 2010, para Geraldo Alckmin. Agora, ele volta a aparecer como uma possibilidade para os petistas. Em parte, simplesmente porque não há um nome de consenso. O petista teria, em 2014, o apoio de Fernando Haddad, prefeito da capital, como puxador de votos.

Alckmin

O atual governador buscará o quarto mandato à frente do estado de São Paulo - no primeiro, ele era vice e assumiu após a morte de Mário Covas. A disputa promete ser a mais difícil para o tucano até aqui. Além da ofensiva do PT, que vê a conquista do Palácio dos Bandeirantes como questão de honra, Alckmin terá de combater os efeitos negativos do aumento da criminalidade no estado. E parte dos antigos aliados aderiu ao PSD de Gilberto Kassab, que está no campo de influência do PT. Ao mesmo tempo, o governador tem um bom índice de aprovação e se beneficia da grande rede de apoio que o PSDB possui nas prefeituras do estado.

Alexandre Padilha



O ministro da Saúde é uma alternativa ao nome de Mercadante dentro do PT. Tem a vantagem de não possuir um passado sujo e de simbolizar a renovação na política do estado. Mas a eterna crise na Saúde não ajuda: faltam bandeiras para apresentar à população. Padilha também é menos conhecido do eleitorado. E, apesar do sucesso de Fernando Haddad na disputa pela prefeitura da capital paulista, a corrida pelo governo pode ser complexa demais para um candidato novato. 

Gilberto Kassab

O ex-prefeito de São Paulo não esconde que pretende ser candidato ao governo. Com uma avaliação ruim na capital e pouca influência no interior, Kassab terá muitos problemas a resolver. De qualquer forma, parte de sua disposição em concorrer pode ser atribuída a uma tentativa de valorizar um eventual apoio do PSD a outro candidato. Mas, se sair do papel, o voo de Kassab auxiliaria o PT - quanto mais candidatos contra Alckmin, melhor para o PT. Em um eventual segundo turno, a aliança do PSD com o PT no plano federal pode pesar na balança.

Gabriel Chalita

O deputado federal do PMDB já viveu melhores dias. Depois do mau resultado na disputa pela prefeitura da capital, no ano passado (quarto lugar, com 13,6%) e das denúncias de corrupção que lhe tiraram a chance ser ministro, ele perdeu força política. Ainda assim, pode ser o nome peemedebista na disputa pelo governo paulista. As chances de vitória são poucas. Mas a candidatura de Chalita (também como o Kassab, um ex-aliado de Alckmin) também pode ser útil para o PT atingir os tucanos e reunir forças para o segundo turno.




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