sábado, abril 20, 2013

Seca e poluição têm alterado pontos de captação de água

O fornecimento vem sofrendo com a possibilidade de abastecimento com água contaminada
Fortaleza/Crateús. A 10ª Região Militar admitiu, ontem, que tem sido frequentes os laudos sobre mananciais que se apresentam sem condições de potabilidade ou seco. A informação foi dada pelo tenente-coronel Charles Moura, do setor de Comunicação Social, embora salientando que a água fornecida pelos carros-pipas, que tem o Exército com a responsabilidade logística, não tem risco de ser fornecida contaminada.
Em Crateús, a população enfrenta o racionamento de água e desabastecimento. FOTO: OTONNY STAYLER

Segundo o tenente-coronel, o descredenciamento de mananciais por não apresentarem condições de potabilidade tem sido recorrente. Um caso mais recente aconteceu com o município de Umirim, mas a logística fez uma alteração na rota, a fim de captar o produto em açude fora de suspeição. Ele informou que cada responsável pelos caminhões recebem pastilhas de cloro, a fim de tratar a água. Também houve remanejamento de rota dos veículos nas cidades de Quixadá e Quiterianópolis.

"Quando, eventualmente, não há laudo de potabilidade ou quando a análise da água indica que o seu uso é impróprio para consumo humano, a organização militar responsável passa a utilizar outro ponto de captação. Recentemente, em três municípios, ocorreram mudanças no ponto de captação de água: Quixadá (manancial secou); Quiterianópolis e Umirim (laudo de potabilidade atestando que a água estava imprópria para consumo humano)", disse o militar.

Atendimento
A explicação é que a estiagem prolongada tem reduzido o nível de água de alguns mananciais e aumentado a quantidade de famílias atendidas (entre março de 2012 e abril deste ano, o número de pessoas atendidas dobrou no Ceará). "Diante deste quadro e para continuar distribuindo água à população necessitada, a 10ª Região Militar, por meio das suas organizações militares, trabalham constantemente com o propósito de garantir pontos de captação adequados ao fornecimento, bem como para manter quantidade suficiente de pipeiros contratados", afirmou o oficial.

Para que haja qualidade na água fornecida, o Exército responsável pela logística na distribuição na zona rural, deve rece-ber da administração municipal, por meio da Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec), a indicação do ponto de captação, bem como o laudo de potabilidade da água, no caso de utilização de mananciais superficiais. A periodicidade estabelecida dos laudos é de 30 dias. Além dessa análise mensal e para garantir a qualidade da água distribuída, as organizações militares distribuem aos pipeiros pastilhas de cloro, ao final de cada abastecimento.

São 105 municípios cearenses inscritos na Operação Carro- Pipa coordenada pelo Exército Brasileiro, com uma população atendida de 776.850 pessoas e 760 carros-pipas.

A supervisora de Vigilância Ambiental, mantida na Secretaria de Saúde do Estado, Gláucia Norões, disse haver um acompanhamento on line sobre os níveis de contaminação de água transportada pelos carros pipas.

Em análise realizada em 20 municípios, cerca de 70% apresentaram falta de condições de potabilidade, sendo que em 26% havia presença de coliformes fecais e em 22% de turbidez, acima do permitido para consumo humano.

Cagece
Os moradores de Crateús começaram a conviver efetivamente com a falta d´água. A Cagece vem executando desde o dia 8 do mês passado, o plano de racionamento em regime de rodízio, que abrange todos os bairros da zona urbana. A medida visa à redução de consumo do volume de água armazenado nos mananciais, bem como prolongar a oferta do abastecimento na sede do município.

A cidade foi dividida em dois setores, que passam agora a receber o abastecimento de água de maneira alternada. O setor 1 é formado pelos bairros do Planalto, Planaltina, Campo Verde, Nova Terra, Conjunto São José, Maratoã/Cohab I e II, Ipase, Santa Luzia, Fátima I e II, Altamira, Venâncios I e II, Frei Damião, Conjunto José Rosa, BR-226 e Vila Esperança II. Este setor receberá abastecimento as terças, quintas e sábado.

Já o setor 2, concentra os bairros mais próximos ao Centro da cidade: São Vicente, Fátima I, São José, Ponte Preta, Vila Esperança I, Cidade Nova, Patriarcas, Cajás, Cidade 2000, Retiro e Centro, contando agora com abastecimento as segundas, quartas, sextas e no domingo.

De acordo com dados da Cogerh, o açude Carnaubal, que tem o potencial de armazenar 87 milhões de metros cúbicos de água, está atualmente com apenas 6,55% da sua capacidade.

Apesar da população já está sendo abastecida com o denominado "volume morto" do açude, a Cagece assegura que a qualidade da água não foi comprometida. Caso não chova nos próximos dias, o açude terá sua água esgotada já no mês de maio.

O quadro levou o Ministério Público a firmar dois termos de ajustamento de conduta (TACs), visando preservar somente para o consumo humano. O primeiro TAC foi assinado com irrigantes que captavam água do açude de maneira irregular para fins particulares. O documento estabelece que, dentre outras coisas, os irrigantes só vão retomar a captação e outras atividades após passarem pelo devido processo de licenciamento ambiental.

O outro TAC foi firmado com empresários da construção civil, que procuraram o Ministério Público argumentando que a falta de ligações de água nas novas obras do setor vinha causando prejuízo na economia local. De acordo com o promotor de Justiça Hugo Porto, a Companhia havia suspendido a realização de novas ligações por conta do período de estiagem, mas, através da assinatura do TAC, se comprometeu a fazer 44 novas ligações pleiteadas pelos construtores.

As autoridades do município se reuniram com o presidente da Cogerh, Rennys Frota, para discussão de um plano de ação para o enfrentamento do período critico buscando evitar efetivamente o colapso hídrico.

Segundo a assessoria de imprensa do órgão, a operação emergencial contempla a construção de uma estação de bombeamento para transpor as águas do açude Jaburu II até a Barragem do Batalhão. Além disso, o planejamento prevê a construção de uma adutora ligando o açude Carnaubal ao município de Crateús.

Segundo Wanderley Marques, secretário de Meio Ambiente de Crateús, a Prefeitura coordenará um trabalho de limpeza no leito do rio. "Será necessário realizar um intenso trabalho de desobstrução no leito do rio para que a água liberada com a abertura das comportas dos açudes não se perca no trajeto em valas e grotas". O trabalho de limpeza será coordenado pela Prefeitura de Crateús, em parceria com o Exército Brasileiro. Em todo o Estado, o volume dos açudes monitorados pela Cogerh é de 43,6%. Atualmente, 25 açudes no Ceará estão com menos de 9% de armazenamento.

ABASTECIMENTO105 municípios estão inscritos na Operação Carro-Pipa coordenada pelo Exército Brasileiro, com uma população atendida de 776.850 pessoas e 760 veículos.

Mais informações:Seção de Comunicação Social da 10ª Região Militar
(85) 3255.1673
Cogerh
(085) 3218.7020

MARCUS PEIXOTO/CARLOS RENÊREPÓRTER/COLABORADOR


Chove em 81% das cidades cearenses
Iguatu. Na madrugada de ontem, voltou a chover bem em todas as regiões do Ceará. A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) registrou precipitação em 149 municípios. A maior ocorreu em Hidrolândia (80 mm). Na região dos Inhamuns, em Quiterianópolis, choveu 72 mm e em Parambu 68 mm. Essas precipitações são decorrentes de convergência de umidade oriunda da região Norte (Amazônia) e do Oceano Atlântico.

Apesar dos cientistas apontarem precipitações bem abaixo da média, as últimas chuvas trouxeram esperança para os agricultores que ainda esperam salvar parte da lavoura de milho e feijão FOTO: ANTONIO CARLOS ALVES

De acordo com previsão da Funceme, esse quadro de chuva deve permanecer hoje, e reduzir a partir de amanhã. "Embora as chuvas tenham ocorrido em todas as regiões, são precipitações ditas localizadas, porque a intensidade varia de município para município", observa a meteorologista da Funceme, Meiry Sakamoto. "Para a nossa região, há vários fatores que influenciam a verificação de chuvas, daí as dificuldades de previsão de tempo", complementa.

O quadro de estiagem que castiga o Ceará desde o ano passado deve prosseguir até maio, o último mês da quadra invernosa. Esse cenário ocorre no semiárido nordestino. As chuvas estão 60% abaixo da normal. Anteontem, após nova reunião mensal de avaliação climática, realizada em Maceió, capital de Alagoas, meteorologistas mantiveram a previsão de maior probabilidade de chuvas abaixo do normal.

Além do mês de maio, o novo prognóstico também abrange os meses da pós-estação chuvosa no Estado, junho e julho. Este período também com previsão de registro pluviométrico bem abaixo da média histórica.

A reunião contou com técnicos do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/Inpe), da Funceme e dos núcleos de meteorologia dos Estados no Nordeste. Eles analisaram as condições atmosféricas e oceânicas e apontaram, para o Ceará, probabilidade de 45% para as precipitações ficarem abaixo da normal, 40% para chuvas em torno da normal e 15% de chances de chover uma quantidade acima no período.

Esperança continua
Apesar dos cientistas apontarem precipitações bem abaixo da média, as últimas chuvas trouxeram esperança para os agricultores que ainda esperam salvar parte da lavoura de milho e feijão.
Em Crateús, a população enfrenta o racionamento de água e desabastecimento. FOTO: OTONNY STAYLER
Em Ipu, as precipitações foram animadoras e quem estava no campo comemorou. É caso do produtor rural, Manoel Teixeira da Silva, que cuidava da plantação de feijão que escapou do veranico. "Se Deus quiser ainda vou colher alguns grãos para comer", disse. Desde a última quinta-feira que chove na região. No leito do Rio Canindé, que deságua no segundo maior açude da região, o São Matheus, com capacidade de 11 milhões de metros cúbicos, escorreu muita água. Se continuar chovendo até o fim do mês, ainda dará para segurar alguma lavoura, particularmente em regiões de serra.

O gerente local do Centro de Atendimento ao Cliente (CAC) da Ematerce, em Canindé, Domingo Sávio, disse que o órgão está orientando os agricultores, mas lamentou a escassez de precipitações. "O que falta na região é chuva, porque a assistência técnica está pronta para intervir na hora que o homem do campo precisar", frisou.

Na região Centro-Sul, os criadores observam que a irregularidade das chuvas intercaladas com períodos de veranicos e a ocorrência de baixa pluviosidade na maioria das áreas de produção não favorecem o nascimento de pasto nativo. Por isso, prossegue o quadro de dificuldades para alimentar o rebanho de bovinos, ovinos e caprinos. "Com essas últimas chuvas, houve uma melhora da situação, mas insuficiente para reverter o quadro de estiagem", observa o produtor Paulo Lopes.


Honório Barbosa

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