quinta-feira, julho 11, 2013

SERTÃO DOS INHAMUNS Ocupação de açude perto do fim

Manifestantes ocupam há mais de 20 dias o reservatório Flor do Campo. Até sexta-feira Cogerh emitirá parecer
Novo Oriente. Após 20 dias desde o início da ocupação por manifestantes do açude Flor do Campo, neste município, surgem avanços nas negociações para a solução do colapso de água em Crateús. O caso nos últimos dois meses tomou conta do cotidiano da população de Novo Oriente e de Crateús. Uma reunião ocorrida na tarde da última terça-feira entre representantes dos manifestantes e secretários de Estado abriu novas possibilidades e sinaliza para a resolução do impasse.

Açude Flor do Campo é uma das principais reservas de água para Crateús FOTO: SILVANIA CLAUDINO

Um dos encaminhamentos do encontro é a possibilidade de transferência de água do açude Jaburu II, em Independência, para o açude Carnaubal, em Crateús. Outro é a articulação de uma audiência com o governador Cid Gomes.

"A Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) vai estudar a possibilidade e emitirá até sexta-feira uma nota técnica sobre o assunto", informou Pedro Neto, do Movimento de Trabalhadores Sem Terra (MST), que está na linha de frente do movimento.

Ainda segundo o assessor, a transferência de água seria realizada como medida paliativa e emergencial para o colapso de água no município. De forma concomitante, seria construída a adutora, ligando o açude Flor do Campo, de Novo Oriente para Crateús, como precaução para futuras estiagens.

Volume
O açude Jaburu II está atualmente com 4,2% de sua capacidade total, com 4,45 milhões de metros cúbicos de água. A ação, se concretizada, não prejudicaria o vizinho município de Independência, abastecido pelo açude Barra Velha, atualmente com 16,6 milhões de metros cúbicos. Os manifestantes protestam contra a transferência de água para Crateús, pelo leito do rio Poti, por gravidade. Defendem a construção da adutora para conduzir a água pelo percurso de 40 quilômetros a fim de socorrer a população de Crateús, em vias de ficar completamente sem água. Argumentam que, por gravidade, não há garantia de que a água chegue a Crateús, bem como a ocorrência de desperdício de considerável volume de água no trajeto.

O açude Carnaubal, reservatório que abastece a cidade, desde abril provê a população com água de seu ´volume morto´ e, de acordo com as previsões, a reserva chega apenas até meados do próximo mês.

No local desde o dia 20 de junho, o grupo de manifestantes mantém diuturnamente entre 30 e 50 pessoas, com o intuito de impedir a abertura das comportas do açude.

Atividades religiosas, como o "cerco de Jericó", missas, meditações e orações são realizadas com frequência pela Paróquia São Francisco, de Novo Oriente, uma das primeiras instituições a se colocar contra a iniciativa da Cogerh. Paróquias de Crateús e Quiterianópolis, bem como a própria Diocese de Crateús, prestam apoio à Paróquia de Novo Oriente, conduzida pelo padre Alexandre Fonseca.

Ainda no início de junho, antes da ocupação - mas já com a polêmica levantada - a regional Nordeste da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) emitiu um documento apoiando a posição da Paróquia de Novo Oriente e defendendo também a transferência da água pela adutora. Assinam o documento os bispos do Ceará e o administrador diocesano de Crateús

Consulta
Duas consultas públicas foram feitas na região para debater o assunto. Uma em Crateús, ainda no mês de março, e outra em Novo Oriente, já no mês de maio. Em ambos os encontros, a Cogerh mencionou o plano de transferência pelo rio como alternativa viável, informando que, dado o iminente colapso, não haveria mais tempo suficiente para construção da adutora.

Pelo plano do órgão, 7 dos 15 milhões de metros cúbicos de água do açude Flor do Campo serão transferidos para Crateús, volume que garante o abastecimento da cidade até dezembro. Os 8 milhões que ficassem no reservatório garantiriam o abastecimento de Novo oriente, Quioterianópolis e algumas localidades de Tauá até dezembro de 2014.

A primeira manifestação pública contrária ao plano ocorreu com uma paralisação na rodovia CE 187, na entrada de Novo Oriente, no mês de abril. O movimento recuou com a garantia de que seria recebido pelo governador do Estado, na semana seguinte. A audiência ocorreu com assessores do Governo, mas não houve consenso e, poucos dias depois, os manifestantes ocuparam o açude flor do campo.

No final de junho interditaram mais uma vez a CE 187, na entrada de Crateús. Saíram do local novamente com a garantia de que seriam recebidos pelo governador Cid Gomes, em audiência, que não aconteceu devido à viagem do governador para o Exterior.

Impasse
O prefeito de Crateús, Carlos Felipe, emitiu uma nota na semana passada pedindo o fim do impasse e que os manifestantes acatassem o plano da Cogerh. "Dados técnicos garantem a possibilidade de transferência e o sucesso da operação. E nós, do Governo Municipal, confiamos nos dados técnicos, que são gerados a partir de estudos e técnicas com base científica. Na atual conjuntura, não há alternativa para não entrarmos em total colapso de água. Acordemos enquanto é tempo", diz o documento divulgado à população.

Mais informaçõesCompanhia de Gestão dos Recursos Hídricos - Cogerh
Rua Adualdo Batista, 1550 Parque Iracema, Fortaleza
Telefone: (85) 3218.7020


SILVANIA CLAUDINOREPÓRTER 

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