segunda-feira, janeiro 20, 2014

ARTISTA CRATEUENSE FARÁ TRABALHO PARA COPA DO MUNDO 2014

unnamed (1)O discurso parece o de um atleta, bem preparado, à véspera da competição há muito aguardada. “É o meu próximo obstáculo, a próxima aventura”, define Francisco de Almeida, pensando no trabalho que acabou de fechar: uma obra para figurar em um dos espaços oficiais da Copa do Mundo de 2014.
A excitação não se deve apenas ao gigantismo do evento, ou mesmo à certeza de um público amplo para contemplar sua arte. Francisco de Almeida se mantém, assim, como que com nervos eletrificados, pelo caráter colossal de sua empreitada, que é terminar em cerca de três meses um gravura em dimensões gigantes, com 100 metros de cumprimento.
“Foi uma surpresa tão grande, que não entrei em detalhes acredita? Não sei onde vão colocá-la. Nada. Mas sei que, assim que for liberado o recurso para comprar o material necessário, começo a trabalhar na obra”, conta Francisco de Almeida. Ele diz estar preparado para trabalhar ao longo de 12, 13 horas diárias, de fevereiro a abril, para cria a imagem.
“Se Deus quiser, tudo vai acontecer de uma forma bem tranquila. Realizar esse trabalho é, também, uma maneira de demonstrar a experiência já adquirida nas outras obras que fiz em grandes dimensões”, conta o artista. Quem conhece sua obra, carregada de símbolos e ícones religiosos, sabe que a referência a Deus não é à toa.
Experiência
Ainda que não figure no Livro Guinness dos Recordes, há quem garanta que Francisco de Almeida é autor da maior gravura já feita. Ou melhor, das três maiores, já ele produziu três obras medindo 20 metros cada. Uma foi exposta do 7ª Bienal do Mercosul, em 2009; uma para o Governo do Estado do Ceará; e outra para o acervo particular do próprio gravador.
“A ideia de fazer uma gravura nessas dimensões, de 100 metros, foi minha. Na verdade, eu já pensava nisso há algum tempo. Gosto de obstáculos e desafios. É uma forma de ampliar minhas pesquisas, conhecimentos e técnicas”, explica o artista. Sua primeira obra de 20 metros também nasceu de um oferta de Francisco de Almeida a quem queria expor suas obras. “Fui selecionado para a Bienal do Mercosul e, a princípio, eu ia participar com obras de tamanho menor. Mas eu joguei a ideia, disse que estava com pesquisa de fazer uma de 20 metros e eles disseram: ‘você não vai participar mais com as pequenas, mas com essa gigante’. Fiquei feliz na hora, mas depois, botei as mãos na cabeça e pensei: ‘Meu Deus, procurei sarna pra me coçar’”, relembra aos risos.
Esta “aventura” ainda rendeu uma mostra no Espaço Cultural Unifor Anexo. “Vinte aos pedaços” foi exposta em 2010 e trazia gravuras em grandes dimensões, com motivos que havia sido usado na obra anterior. Além da arte gravada, impressa sobre o papel, era possível ver matrizes em madeira usadas nas obras.
A gravura encomendada pelo Governo do Estado, inicialmente, foi pensada para embelezar o Aeroporto Internacional Pinto Martins. “Acontece que a ideia da Pinacoteca do Estado cresceu, e tem sido levada adiante. Até onde sei, eles decidiram mantê-la na reserva técnica do Museu de Arte Contemporânea do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, para ser incorporada ao acervo da Pinacoteca”, revela.
Fé e engenho
Os trabalhos para a gravura gigantesca ainda não começaram no ateliê de Francisco de Almeida, mas já tiveram início na cabeça do artista. “Já posso imaginá-la. Será uma forma de mostrar a religiosidade, as crenças de nosso povo. Terá também a vegetação típica de nosso Estado. E, além disso, vamos estar mostrando a gravura em si, que é uma tendência muito forte na arte do Ceará, que veio lá de Juazeiro do Norte e hoje está em toda parte”, adianta.
Anjos, velas, santos, devotos ajoelhados e com as mãos aos céus; a vegetação ressecada do sertão, os pássaros (ou quem sabe o Espírito Santo neles corporificados) são algumas das imagens comuns às obras de Francisco. Para enfrentar seu novo “obstáculo”, o artista se valerá de uma máquina por ele criada, que permite a criação de gravuras extensas. Em uma mesa de cinco metros, o papel se derrama da bobina e vai, por meio de mecanismos construídos artesanalmente, ganhando imagens.“Eu uso uma matriz despedaçada”, explica Francisco de Almeida, que retalha as figuras que usa, permitindo que elas se combinem de formas diferentes, ao longo da peça.
“É um momento único. Às vezes, fico observando e me pergunto: ‘como consigo fazer isso?’. Nesse ponto, você consegue ver a resposta. Consegui fazer, porque não fui eu. Foi Deus”, diz.
Fique por dentro
Artista é um dos destaques de “Trajetórias”
Francisco de Almeida é um dos cearenses que integram a exposição “Trajetórias: Arte brasileira na coleção Fundação Edson Queiroz”, em cartaz no espaço Cultural Unifor. A mostra reúne mais de 250 obras da instituição, composta por pinturas, gravuras, esculturas e instalações do século XX. Trata-se de um dos mais importantes do acervo País e o maior mantido por uma universidade privada do Brasil. A exposição contempla os principais nomes da história artística do País, abrangendo diferentes períodos, cenas locais, estilos e escolas. Da primeira geração do modernismo, foram incluídos Candido Portinari, Anita Malfatti, Emiliano Di Cavalcanti, Oswaldo Goeldi e Lasar Segall, dentre outros protagonistas da vanguarda. O acervo ainda acompanha o desenrolar da arte moderna brasileira, com obras de seu principais continuadores, a exemplo de Alfredo Volpi, Burle Marx e Samson Flexor. Entre os cearenses presentes, além de Francisco de Almeida, podem ser apreciados trabalhos de artistas como Raimundo Cela, Antonio Bandeira, Ademir Martins, Leonilson, Estrigas, Luiz Hermano e Heloisa Juaçaba. A curadoria é do premiado crítico de arte Paulo Herkenhoff.

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