sábado, fevereiro 15, 2014

"A gente tem que se preparar é pro pior", diz governador

Apesar de as cúpulas dos órgãos de gerenciamento dos recursos hídricos serem reticentes quanto à admissão da possibilidade de cidades do Ceará entrarem em colapso por falta d’água, o governador Cid Gomes (Pros) confirmou ontem que a situação é, sim, preocupante.
Ele fez a análise minutos antes de inaugurar o Centro de Profissionalização Inclusiva para Pessoas com Deficiência (Cepid), na comunidade das Goiabeiras, na Barra do Ceará. “O Estado tem capacidade de armazenar 18 bilhões de metros cúbicos de água. Dessa capacidade, temos hoje seis bilhões. Se a gente tivesse esse um terço de capacidade bem distribuído, não teria problema. Vararíamos mais uma seca. Mas, infelizmente, essa água não é igualmente distribuída. Metade dela está num único açude. Dos seis bilhões, perto dos três bilhões estão no Castanhão. Regiões como o Cariri Ocidental, Sertões dos Inhamuns, Sertões de Crateús e Sertões de Canindé são críticas.”

Cid qualificou como delicadíssimas as situações de Tauá, Crateús e Canindé. Segundo ele, caso não chova nessas localidades, há água suficiente para apenas os próximos 60 dias. Para os três municípios, o Governo promete ações emergenciais (ver matéria na página 9). “O período de chuva dessas regiões é dezembro, janeiro e fevereiro. O que, infelizmente, já está comprometido. A gente tem que se preparar é pro pior”, admitiu.

O governador também apontou como frágeis os recursos hídricos de Fortim, Pindoretama, Mucambo, Pacujá e Irauçuba. Beberibe, onde os problemas eram graves há até pouco tempo, ele disse ser caso solucionado. “Hoje, nenhuma sede municipal está sem abastecimento. Mas há previsão de que, se não chover, cidades podem colapsar. Tudo o que for necessário para assegurar água, nós faremos.”

Controle da situação
Mesmo com a confissão de situação crítica, Cid assegurou ser do Ceará o melhor controle da situação no Brasil. “Nenhum estado tem tanto controle dessa questão como nós. Nós sabemos a quantidade exata de água em cada lugar, a quantidade de água que está sendo transportada, a quantidade exata de água que temos para suportar até maio, junho, julho, agosto ou até o ano que vem, se não chover nada esse ano. E, obviamente, temos sempre um plano de contingência.”

E alfinetou os opositores. “Nessas horas, é muito fácil os críticos dizerem o seguinte: ‘é porque não planejou’. As coisas não são tão fáceis assim. O Ceará tem, em matéria de planejamento de recursos hídricos, eu diria que, com tranquilidade e sem falsa modéstia, o melhor planejamento e a melhor execução de ações voltadas para o suprimento de água de todos os estados brasileiros. E se destaca no mundo.”

O governador revelou que a visita feita a Israel há cerca de seis meses lhe provou uma tese pessoal. Aquele país é mundialmente famoso por suas avançadas tecnologias de convivência com a seca e uso da água. “Eu lhe digo, com sinceridade, que o Ceará muito brevemente passará, em matéria de infraestrutura, mesmo a Israel.”

Ele destacou ainda a importância que terão os projetos Eixão das Águas e Cinturão das Águas para a garantia hídrica do Ceará nos próximos 30 anos. Conforme Cid, o Eixão tem 80% de suas obras executadas, enquanto o Cinturão está na sua primeira etapa, com canteiros entre Jati e Nova Olinda. “O Eixão foi planejado 20 anos atrás e é o que está garantindo, por exemplo, tranquilidade à Região Metropolitana de Fortaleza. O Cinturão vai deixar o Ceará estruturado em matéria de quantidade de água. Não vamos ficar dependendo de chuva. Chuva é boa e bem-vinda. Mas a gente tem que se livrar ou diminuir ao máximo a nossa dependência dela.”

Saiba mais

O Cinturão das Águas é um projeto que prevê a construção de 150 quilômetros de canais e adutoras com a capacidade de transportar até 30 mil litros de água por segundo. “Só pra você ter ideia do que isso significa, Fortaleza e Região Metropolitana consomem 10 mil litros de água por segundo. Isso vai assegurar ao Ceará água para beber, água para o consumo industrial e fins de agricultura”, explicou Cid.
O governador também comentou a política de cisternas de placas, uma das principais maneiras encontradas pelos governos para amenizar a convivência com a seca no Interior. “Em toda a história, até 2006, tinham sido construídas aqui 20 mil cisternas. Já temos mais de 160 mil executadas. E devemos executar mais 100 mil até o fim do ano.” 
Ele citou ainda a importância do projeto São José, responsável por pequenas obras hídricas. “São mais de US$ 200 milhões destinados a pequenos sistemas de abastecimento e estímulos aos pequenos produtores rurais.”

Segundo boletim da Companhia de Recursos Hídricos (Cogerh), o Sertão de Crateús tem a pior situação do Estado. No Ceará, nenhum açude está sangrando. Apenas um tem mais de 90% da capacidade (o Gavião, em Pacatuba). E 112 estão com volume abaixo de 30%.

Para este fim de semana, a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos prevê chuvas em todo o Ceará.

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