quinta-feira, abril 03, 2014

Brasil

O choro de Dilma (Foto do dia)

Foto: Ricardo Moraes / Reuters


Militares, empresários e entreguistas, por Carlos Tautz

A historiografia e a imprensa hegemônicas costumam reduzir o golpe de 64 a uma quartelada de democratas contra uma suposta ameaça comunista. Essa também é a versão da elite militar. Mas, a tese do “perigo vermelho” esconde sob o véu verde oliva e imaculado a verdade que teima em escapar de arquivos secretos: a mais alta camada das forças armadas se fundiu com a nata do empresariado internacional para derrubar o presidente João Goulart e banquetear-se da ditadura. Foi um golpe de classe, empresarial-militar, muito mais orgânico e forte do que Jango pudesse supor ou desmontar com seu tão esperado quanto inexistente “dispositivo militar”.
Generais, almirantes e brigadeiros faziam parte de conselhos e diretorias de grupos econômicos sediados no Brasil, e também de multinacionais, assumindo seus interesses mais estratégicos, muito antes da derrubada de Goulart – como em 1981 denunciava o cientista político René Dreifuss no seminal “1964: a conquista do Estado”.
“(...) já em meados da década de 50 (...), a participação militar na empresa privada era uma realidade”, escreveu Dreifuss. “Alguns oficiais militares eram diretores importantes e acionistas de corporações privadas”: “general Riograndino Kruel e o general James Mason (Eletrônica Kruel SA), general Paulo Tasso de Resende (Moinhos Rio-grandenses Samrig SA – grupo Bunge&Born), Brigadeiro Eduardo Gomes (Kosmos Engenharia SA), general Joaquim Ribeiro Monteiro (Cia Carbonos Coloidais, CCC – grupo Wolney Attalla), general Edmundo Macedo Soares e Silva (Volkswagen, Mesbla SA, Banco Mercantil de São Paulo, Light SA, Mercedes Benz), general Euclides de Oliveira Figueiredo (Ind. Quím. e Farmacêuticas Schering SA – Schering Corporation e grupo Assis Chateubriand), general Moziul Moreira Lima (Máquinas Moreira SA) e almirante Álvaro Alberto da Motta e Silva (Rupturita SA Explosivos – Sociedade Financeira Portuguesa)”.
A lista de militares-empresários-entreguistas, porém, é mais longa. Em 1954, quando foi secretário geral do Conselho de Segurança nacional do presidente Café Filho, o general Juarez Távora militara por “tratamento preferencial aos EUA” em acordos envolvendo urânio e tório brasileiros e permitindo a americanos mapearem as reservas nacionais desse minérios e barrarem o desenvolvimento do País.
Quinze meses após ter passado a faixa ao também general-ditador João Figueiredo, o general-ditador Ernesto Geisel virou presidente da Norquisa e do conselho de administração da Copene, substituindo o marechal Ademar de Queiroz.
Golbery do Couto e Silva, notório conspirador no Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais, o Ipes, que recebia milhões da CIA para derrubar Jango, quando vestiu o pijama presidiu as seções brasileira e sulamericana da Dow Chemical (EUA), em espaçoso escritório de Brasília, onde continuava a fazer aquilo que sabia: conspiração, associado ao capital multinacional, como é da natureza da elite militar brasileira.

Carlos Tautz, jornalista e coordenador do Instituto Mais Democracia – Transparência e controle cidadão de governos e empresas.


Efeitos atuais do golpe de 1º abril – 2, por Bruno Lima Rocha

No artigo anterior abordei o tema das identidades políticas e o tímido ressurgimento de uma nova direita formada por viúvas do Golpe de 1º de abril, retroalimentadas pelo pensamento reacionário que está de moda na internet brasileira.
Neste texto, observamos a mudança de papel e perfil das Forças Armadas (FFAA) brasileiras em duas dimensões. Uma, trata do fim do Poder Moderador, ou seja, o cessar da capacidade das casernas em intervir em assuntos da política brasileira, moderando o avanço de mobilizações sociais e a consequente redistribuição da sociedade de classes.
A segunda dimensão aborda a mudança do perfil castrense, onde a uniformidade e o espírito de corpo derivados da “herança maldita” da ditadura não seguem mais acompanhados de pretensões de poder nacional ou Brasil potência.
Na primeira dimensão, observa-se que o último momento histórico onde as FFAA tiveram peso político foi no pífio governo do arenista José Sarney. O oligarca maranhense tomou posse como vice sem que o presidente eleito no colégio eleitoral tivesse antes assumido.
A fragilidade política e o pacto transacional (apelidado de “transição”) fizeram deste mandato um período onde os altos mandos militares ainda tinham peso na contenção social.
A situação limite foi em novembro de 1988, quando da invasão da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), seguida do assassinato de três metalúrgicos pelas tropas do Exército auxiliadas pela PM fluminense. Desde então não se nota movimentação significativa por parte dos militares, embora ainda circulem fantasiosos discursos alarmistas.
Já a mudança de perfil implica na cumplicidade com os porões e a incapacidade de realizar sua atividade-fim. As FFAA brasileiras eram um caldeirão político desde o final do Estado Novo, sendo que após a vitória dos golpistas, mais de 4 mil militares foram punidos e afastados de suas carreiras. O expurgo levou à uniformidade de pensamento, mas o retorno aos quartéis ao final dos anos ’80 implicou no abandono da doutrina de segurança nacional e suas variáveis.
Nenhuma força reacionária é antiimperialista e é justamente esta a possível tensão internacional. Tanto a defesa da integridade da Amazônia Legal como das 200 milhas náuticas confrontam a projeção de poder da superpotência.
Ao bloquear a revisão da Lei de Anistia e a abertura dos arquivos, os militares reforçam o espírito de corpo, permanecendo mais atrelados à preservação da ordem social do que sua pretensão de defesa dos interesses do Estado brasileiro.

Bruno Lima Rocha é professor de ciência política e de relações internacionais.
(www.estrategiaeanalise.com.br blimarocha@gmail.com)


PMDB avança em 3 estados e pressiona Dilma, por Gabriel Garcia

Pesquisas do Instituto Ibope divulgadas nesta quarta-feira (2) põem candidatos do PMDB à frente na disputa pelos governos de Alagoas, Amazonas e Ceará. O resultado aumenta a pressão sobre a presidente Dilma Rousseff.
Montar palanques fortes nos estados é fundamental para a reeleição de Dilma. Por esse motivo, ela tende a fazer concessões ao PMDB. É o caso do Ceará, onde a petista queria apoiar o candidato que fosse indicado pelo governador Cid Gomes (PROS). Dilma deve recuar e apoiar o senador Eunício Oliveira (PMDB), que lidera a disputa com 40% das intenções de voto.
No PMDB, a pressão é uma questão de sobrevivência. O PT tem a maior bancada na Câmara, com 88 deputados, contra 75 deputados peemedebistas. No Senado, quem tem o maior número de senadores é o PMDB: 20, contra 13 do PT. Se conseguir eleger, em outubro, mais senadores do que o PMDB e mantiver a maior bancada na Câmara, o PT pode presidir as duas Casas no próximo ano - reduzindo a força o partido aliado. Tudo o que não quer o PMDB.
De acordo com o Ibope, no Amazonas, o atual líder do governo no Senado, Eduardo Braga (AM), lidera com 61% das intenções de voto. Em Alagoas, o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), lidera com 41% das intenções.


O que eles temem, por José Aníbal

A quase histeria com que líderes do PT reagiram à possibilidade de que a condução da Petrobras nos últimos anos seja investigada tem motivo. A Petrobras é uma empresa pela qual os brasileiros nutrem afeto, tal a nossa identificação com ela. A estatal é o símbolo do Brasil grande, soberano e dono do próprio caminho.
Exceto pela prisão de um ex-diretor pela Polícia Federal, detido numa operação alheia ao episódio que revelou as lambanças de Pasadena, é a competência gerencial dos governos petistas que está sendo questionada, e não (ainda) sua honestidade. Por enquanto, a única coisa que eles têm a temer é a verdade. E ela vai aparecer.
Depois que Dilma desmentiu a versão construída pela antiga diretoria da Petrobras, a todo momento surgem novos exemplos do desleixo dessa gente com o dinheiro do contribuinte. Do alto a baixo, as desculpas de que "não sabia" vão sendo derrubadas pelos documentos, registros e atas -- dos quais todos tinham ciência.
A resposta do líder do PT na Câmara, como que a ameaçar de investigação os partidos que vão disputar a presidência da República contra Dilma, é um episódio que exige reflexão. Nunca a impudência foi tão audaciosa. Encantoado pelos fatos, o governo falha em tudo. Inclusive nas descomposturas.


A tropa de choque do Planalto tenta intimidar e dobrar aqueles que, honradamente, querem entender o que foi feito na estatal para que a empresa andasse para trás com tanta intensidade. A Petrobras encolheu, se endividou, perdeu musculatura. Seus projetos, sempre atrasados, viraram um sumidouro de dinheiro público.
Como e por que isso aconteceu é uma explicação que interessa a quase todos os brasileiros. Todos estão esperando dos responsáveis uma desculpa menos esfarrapada do que as que foram apresentadas até aqui. O deboche dos executivos belgas, depois da venda da refinaria de Pasadena à Petrobras, fala por si.
PS: Na próxima semana reassumo meu mandato na Câmara dos Deputados, pelo PSDB, depois de um árduo e vitorioso trabalho de reordenamento do setor energético de São Paulo. Deixo registrado minha gratidão a todos os servidores que participaram deste grande desafio. A hora de voltar não poderia ser melhor.

José Aníbal é economista, deputado federal licenciado e ex-presidente do PSDB.


Três perguntas para... o ministro José Eduardo Cardozo

Gabriel Garcia
Ministro, 50 anos do golpe militar. O Estado deve desculpas às vítimas da ditadura?
Se no passado muitos ministros diziam que não havia nada a declarar, hoje o dever constitucional do ministro do Estado de Justiça é pedir perdão por erros, por ilegalidades, por abusos que no passado foram praticados pelo próprio Estado.
Ontem, foi colocada uma faixa na Câmara dizendo que se os militares não tivessem agido, o Brasil teria virado uma Cuba. Teria?
Com toda discordância que tenho dessa ideia, as pessoas têm direito de manifestar. Na ditadura, faixas que atacassem o regime não seriam colocadas com liberdade. A democracia permite aos pensam diferente que possam expressar suas opiniões.
E o que o senhor pensa sobre a corrupção?
A corrupção é um fenômeno, infelizmente, mundial. Tem raízes culturais, no sistema político. É um mal que, muitas vezes, tem que ser analisado da perspectiva estrutural, não apenas em uma situação maniqueísta, sem prejuízo de punirmos aqueles que praticam o ato de corrupção. As democracias modernas têm um desafio: combater a corrupção e afirmar uma visão republicana que distingue o público do privado.

José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça. Foto: Leonardo Soares / AE

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