sábado, setembro 27, 2014

Campanha de Dilma em 2010 pediu dinheiro ao esquema do 'petrolão'

Paulo Roberto Costa, no processo de delação premiada, diz às autoridades que, no fim do governo Lula, o ex-ministro Antonio Palocci o procurou para pedir 2 milhões para a nova disputa à Presidência

Rodrigo Rangel
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, presta depoimento à CPI da estatal sobre a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, e as obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, presta depoimento à CPI da estatal sobre a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, e as obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco (Dida Sampaio/Estadão Conteúdo/VEJA)
Há três semanas, VEJA revelou que o ex-diretor da Petrobras havia dado às autoridades o nome de mais de trinta políticos beneficiários do esquema de corrupção. A lista, àquela altura, já incluía algumas das mais altas autoridades do país e integrantes dos partidos da base de apoio do governo do PT. Ficou delineada a existência de um propinoduto cujo objetivo, ao fim e ao cabo, era manter firme a adesão dos partidos de sustentação ao governo. O esquema foi logo apelidado de “petrolão”, o irmão mais robusto mas menos conhecido do mensalão, dessa vez financiado por propinas cobradas de empresas com negócios com a Petrobras. À medida que avançava nos depoimentos, Paulo Roberto ia dando mais detalhes sobre o funcionamento do esquema e as utilidades diversas do dinheiro que dele jorrava. Era tudo tão bizarro, audacioso, inescrupuloso e surpreendente mesmo para os padrões da corrupção no mundo oficial brasileiro, que alguém comparou o esquema a um “elefante-voador” — algo pesadamente inacreditável, mas cuja silhueta estava lá bem visível nos céus de Brasília.
A reportagem de VEJA estampada na capa da edição de 10 de setembro passado revelou a mais nítida imagem do bicho. Ninguém contestou as informações. Agora, surge mais um “elefante-voador” originário do mesmo ninho do anterior. Paulo Roberto Costa contou às autoridades que, em 2010, foi procurado por Antonio Palocci, então coordenador da campanha da presidente Dilma Rousseff. O ex-diretor relatou ter recebido o pedido de pelo 2 milhões de reais para a campanha presidencial do PT. A conversa, segundo o ele, se deu antes do primeiro turno das eleições. Antonio Palocci conhecia bem os meandros da estatal. Como ministro da Fazenda, havia integrado seu conselho de administração. Era de casa, portanto, e como tal tinha acesso aos principais dirigentes da companhia. Aos investigadores, Paulo Roberto Costa contou que a contribuição que o ex-ministro pediu para a campanha de Dilma sairia da “cota do PP” na Petrobras.
Quando as autoridades quiseram saber se o dinheiro chegou ao caixa de campanha de Dilma em 2010, Paulo Roberto limitou-se a dizer que acionou o doleiro Youssef para providenciar a “ajuda”. Pelo trecho da delação a que VEJA teve acesso, Paulo Roberto Costa diz não poder ter certeza de que Youssef deu o dinheiro pedido pela campanha de Dilma, mas que “aparentemente” isso ocorreu, pois Antônio Palocci não voltou a procurá-lo.

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