sexta-feira, janeiro 02, 2015

Opositores e mídia nacional atacam Cid Gomes para atingir Dilma Rousseff

Foto: Roberto Stuckert Filho/PR. 
Em seu discurso de posse, proferido ontem (1º), no plenário da Câmara dos Deputados, a presidente Dilma Rousseff (PT) apresentou o novo lema de seu governo: “Brasil, Pátria Educadora”.

A ênfase na educação como “prioridade das prioridades” colocará em evidência o trabalho do ex-governador do Ceará e agora ministro da Educação, Cid Ferreira Gomes (PROS). Estar no comando da pasta com maior relevo político do governo e com o segundo maior orçamento da União pode, a médio e longo prazo, cacifar Cid para a realização de seu maior e mais ambicioso desejo: concorrer à Presidência da República. 

A reação imediata ao discurso, no entanto, não foi positiva para o cearense. Neste primeiro momento, a mídia, a oposição e até alguns aliados ressentidos buscam encontrar brechas e contradições nas palavras e nos gestos da presidente.    

“Dizer que vai priorizar a educação enquanto usa a pasta para composição política mostra o total descaso com educadores e alunos”, disse o deputado federal Carlos Sampaio (PSDB-SP).


(Jornal Folha de S.Paulo)

Além do tucano, o portal da Revista Veja e o jornal Folha de S.Paulo também consideraram a indicação de Cid Gomes para o comando do MEC como uma contradição ao lema apresentado por Dilma. 

A revista elencou “Dez frases do discurso de Dilma que ficaram mal explicadas” e apontou a escolha do novo ministro como a segunda maior incoerência no discurso presidencial, perdendo apenas para a crítica da presidente à corrupção na Petrobras. Para a Veja, “ficou mal explicado” a petista ter tirado o comando da pasta prioritária de seu governo das mãos de seu partido para usá-la “como moeda de troca eleitoral”.


(Portal da Revista Veja)

Ao analisar a fala de Dilma na posse, a Folha de S.Paulo destacou como ‘maior exemplo’ das ‘tradicionais ironias da oratória política’ o “anúncio de um mote de governo envolvendo educação no momento em que o ministério da área foi loteado na bacia das almas para um aliado sem qualquer intimidade com o tema”.

Os colunistas Dora Kramer, do Estado de S. Paulo, e Merval Pereira, do Globo, também miraram em Cid Gomes para atingir a presidente Dilma. "A desconexão entre as palavras e os fatos é uma constante nos pronunciamentos da presidente Dilma Rousseff. Raramente surpreende nesse quesito, mas, ontem, no discurso de posse no Congresso Nacional, ela superou-se em vários momentos", disse Dora Kramer.

"Em especial quando anunciou em tom solene o lema do segundo mandato: 'Brasil, Pátria Educadora', significando que o governo dará à educação total prioridade nos próximos quatro anos. Fosse real, essa primazia deveria necessariamente corresponder à escolha de alguém de reconhecido saber na área para comandar o ministério da Educação. A realidade, no entanto, faz daquele emblema um mero slogan: o ministro é o ex-governador do Ceará, Cid Gomes, nomeado para contemplar o PROS (11 votos na Câmara) e recompensá-lo pela saída do PSB quando o partido deixou a base do governo", completou a colunista do Estado de S. Paulo.

Merval Pereira fez coro à Dora, ao afirmar.“'Brasil, Pátria Educadora' seria um bom mote para um governo renovador, se não fosse apenas um achado propagandístico, e refletisse um verdadeiro objetivo prioritário, desmentido logo de cara com a escolha do ex-governador Cid Gomes para o ministério da Educação, sem o menor contato com a área e sem projeto educacional digno de nome", disse ele. "O improviso da escolha do ministro, que chegou a recusar o cargo, indicando o quanto lhe importa a 'pátria educadora', mostra bem que o projeto que a presidente Dilma anunciou ontem é oco de conteúdo, e entra na lista de mais um dos muitos passes de mágica com que a presidente se acostumou a ganhar eleições e a governar da boca para fora."

Resposta antecipada 

Antecipando a resposta às críticas vindouras, Cid Gomes afirmou, em visita à Esplanada dos Ministérios, em Brasília, na última sexta-feira (29), que não foi escolhido para ser ministro da Educação por ser um dos principais expoentes do PROS, mas sim, por seu perfil de gestor.

"Fui convidado [para assumir o MEC] pela presidente, que tem lá suas preferências. Não foi por causa do Pros, que é muito pequeno. Não fui escolhido por uma questão partidária", disse à reportagem do jornal Estado de S. Paulo.

Ainda sobre o assunto, o novo ministro disse que, como assumiu uma pasta técnica, irá se abster de fazer comentários políticos.

Contrariando a argumentação de Merval Pereira e a severa crítica da Folha, assinada por Igor Gielow, diretor da sucursal do jornal em Brasília, o ex-governador possui notabilidade tanto positiva quanto negativa – na área que comandará.

O bem-sucedido Programa Alfabetização na Idade Certa (Paic), criado pelo Governo do Estado do Ceará, inspirou o Governo Federal na criação de um programa nacional de ensino, o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC). Além disso, a cidade de Sobral, berço dos irmãos Ferreira Gomes, é vista como um caso de sucesso na implantação de políticas educacionais no País, registrando bons índices.

Em contrapartida, o tratamento destinado aos professores do Estado em greve durante o governo de Cid sempre foi alvo de críticas. Em 2011, o confronto entre professores da rede estadual de ensino e policiais do Batalhão de Choque, na Assembleia Legislativa, ganhou destaque nacional. Três professores que faziam greve de fome afirmaram que foram agredidos por policiais.

Mais recentemente, a afirmação de Cid Gomes de que o professor de escola pública deveria trabalhar por amor, não por dinheiro, também foi fortemente criticada, principalmente por professores que, à época, estavam em greve pela aplicação do piso para os profissionais de nível médio, graduados e pós-graduados. “Quem quer dar aula faz isso por gosto, e não pelo salário. Se quer ganhar melhor, pede demissão e vai para o ensino privado”, disse.


(Jornal Folha de S.Paulo)

Pátria Educadora

Leia, abaixo, trecho do discurso de posse no qual a presidente Dilma Rousseff declara a educação como a "prioridade das prioridades" em seu segundo mandato.


"Senhoras e Senhores,

Gostaria de anunciar agora o novo lema do meu governo. Ele é simples, é direto e é mobilizador. Reflete com clareza qual será a nossa grande prioridade e sinaliza para qual setor deve convergir o esforço de todas as áreas do governo. Nosso lema será: Brasil, Pátria Educadora!

Trata-se de lema com duplo significado. Ao bradarmos "Brasil, Pátria Educadora" estamos dizendo que a educação será a prioridade das prioridades, mas também que devemos buscar, em todas as ações do governo, um sentido formador, uma prática cidadã, um compromisso de ética e um sentimento republicano.

Só a educação liberta um povo e lhe abre as portas de um futuro próspero. Democratizar o conhecimento significa universalizar o acesso a um ensino de qualidade em todos os níveis – da creche à pós-graduação; Significa também levar a todos os segmentos da população – dos mais marginalizados, aos negros, às mulheres e a todos os brasileiros a educação de qualidade.

Ao longo deste novo mandato, a educação começará a receber volumes mais expressivos de recursos oriundos dos royalties do petróleo e do fundo social do pré-sal. Assim, à nossa determinação política se somarão mais recursos e mais investimentos.

Vamos continuar expandindo o acesso às creches e pré-escolas garantindo para todos, o cumprimento da meta de universalizar, até 2016, o acesso de todas as crianças de 4 e 5 anos à pré-escola. Daremos sequência à implantação da alfabetização na idade certa e da educação em tempo integral. Condição para que a nossa ênfase no ensino médio seja efetiva porque através dela buscaremos, em parceria com os estados, efetivar mudanças curriculares e aprimorar a formação dos professores. Sabemos que essa é uma área frágil no nosso sistema educacional.

O Pronatec oferecerá, até 2018, 12 milhões de vagas para que nossos jovens, trabalhadores e trabalhadoras tenham mais oportunidades de conquistar melhores empregos e possam contribuir ainda mais para o aumento da competitividade da economia brasileira. Darei especial atenção ao Pronatec Jovem Aprendiz, que permitirá às micro e pequenas empresas contratarem um jovem para atuar em seu estabelecimento.

Vamos continuar apoiando nossas universidades e estimulando sua aproximação com os setores mais dinâmicos da nossa economia e da nossa sociedade. O Ciência Sem Fronteiras vai continuar garantindo bolsas de estudo nas melhores universidades do mundo para 100 mil jovens brasileiros." 

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