sábado, março 07, 2015

Lista de Janot tem 49 políticos, dos quais 34 serão julgados no Supremo

Entre os parlamentares com mandato, há 22 nomes do PP, sete do PMDB, quatro do PT, um do PTB e um do PSDB

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O deputado federal Aníbal Gomes disse que teve encontros com o ex-diretor da Petrobras, mas negou que negociasse propina
FOTO: JOSÉ MARIA MELO
Brasília O Supremo Tribunal Federal (STF) divulgou ontem a relação de nomes que serão investigados por suposto envolvimento no esquema deflagrado pela Operação Lava-Jato, que desviou recursos da Petrobras. Entre eles há senadores e deputados federais de cinco partidos (PP, PMDB, PTB, PT e PSDB).
Em relação aos parlamentares com mandato, há 22 nomes do PP, sete do PMDB, quatro do PT, um do PTB e um do PSDB. São, portanto, 35 nomes com foro privilegiado, 34 no Supremo e um no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
No total, a resolução habilita a serem investigadas 49 autoridades com mandato e políticos que em algum momento ocuparam cargos públicos, informou a procuradoria, que ficará a cargo das investigações.
Na terça-feira (3), a Procuradoria-Geral da República encaminhou ao Tribunal 28 pedidos de abertura de inquérito para investigar 54 pessoas. O material permaneceu em sigilo até ontem. Os nomes foram divulgados pelo gabinete do ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no STF. Também foram enviados ao Supremo solicitações de arquivamento.
Houve decisão por arquivar investigações contra os senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e Delcídio do Amaral (PT-MS), o ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) e o ex-deputado Alexandre José dos Santos (PMDB-RJ). Foi decidido pela remessa dos autos sobre o ex-ministro Antonio Palocci (PT) à Justiça Federal.
O procurador-geral Rodrigo Janot solicitou a abertura de inquérito contra um vice-governador, 12 senadores e 22 deputados pelo escândalo de corrupção na Petrobras, entre os quais os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, ambos do PMDB, partido da base do governo federal. "A instauração de inquérito foi considerada viável porque há indícios de ilegalidade", informou a alta corte em comunicado, citando Zavascki.
Tempestade política
A teia de crimes que enredou a Petrobras vinculou algumas das maiores empresas do país com a diretoria da petroleira, em um azeitado mecanismo de subornos e desvios de recursos que teria movimentado 4 bilhões de dólares na última década.
A chamada "lista de Janot", em alusão ao procurador-geral Rodrigo Janot, que apresentou ao STF os pedidos deferidos ontem, causou mal-estar e irritação no Congresso Nacional, provocando uma tempestade política entre o governo e seus aliados.
Os efeitos para a imagem pública dos políticos que serão investigados poderão azedar ainda mais a relação entre o governista PT e o PMDB, considerado o "partido da governabilidade" por sua estrutura legislativa.
Segundo depoimentos de alguns acusados de envolvimento no escândalo, que falaram com a condição de uma redução de suas eventuais penas, declarações que acabaram sendo divulgadas pela imprensa, os recursos foram destinados a contas pessoais ou para financiar partidos políticos.
As revelações da "Operação Lava-Jato" atingiram o PT quando seu tesoureiro, João Vaccari Neto, foi levado a depor na Polícia Federal e depois liberado. O pagamento para os diretores da Petrobras e operadores políticos variava entre 1% e 3% do total dos contratos.
A Procuradoria-Geral da República deixou a presidente Dilma Rousseff (PT) fora da lista, mas remeteu para a Justiça Federal do Paraná inquérito que terá como alvo o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci. Segundo a Procuradoria, a Constituição não permite apurar crimes comuns que não tenham ocorrido durante o mandato da presidente.
O STF também descartou investigar o senador Aécio Neves (PSDB-MG), adversário de Dilma na eleição de 2014, mas autorizou inquérito sobre o senador Antônio Anastasia (PSDB-MG), seu aliado. A ex-governadora Roseana Sarney (PMDB-MA) será investigada junto com o senador Edison Lobão (PMDB-MA).
Um ano depois
Deflagrada pela Polícia Federal em março de 2014, a Operação Lava-Jato começou investigando uma rede de doleiros e descobriu o esquema de corrupção.
O Partido dos Trabalhadores se manifestou ontem após a divulgação da lista. Em nota assinada pelo presidente do partido, Rui Falcão, o PT defende o prosseguimento das investigações e assegura que, em caso de comprovação de delitos, seus filiados receberão punições. "Reafirmamos integral apoio ao prosseguimento das investigações que se realizam no âmbito da chamada operação Lava-Jato, de forma completa e rigorosa, sem favorecimentos ou parcialidade, nos marcos do Estado Democrático de Direito", diz o texto petista.
Aníbal Gomes diz que nunca foi 'intermediário' de Renan
O Ceará tem dois políticos incluídos na lista dos que serão investigados em decorrência do resultado da Operação Lava-Jato. O deputado federal Aníbal Gomes (PMDB-CE) e o ex-deputado federal Padre José Linhares (PP), hoje presidente do Conselho Estadual de Educação do Ceará.
Após a divulgação dos nomes pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Aníbal Ferreira Gomes foi entrevistado por telefone pelo Diário do Nordeste. Ele reconheceu que teve vários encontros com o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, mas declarou que os temas eram sempre relacionados a projetos da estatal no Ceará, como a refinaria. O ex-deputado José Linhares não foi localizado para comentar a inclusão do nome na lista.
Propina
O parlamentar do PMDB também negou que tenha sido intermediário do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), em supostas negociações de propinas relacionadas a obras e serviços da Petrobras.
"Acho até bom que seja investigado para esclarecer o que houve. Já tinham lambuzado o meu nome (em matéria divulgada pelo jornal O Estado de São Paulo). Os culpados devem ser punidos", disse ontem.
Segundo Aníbal Gomes, Renan não precisa de interlocutor. "Ele é uma das figuras mais importantes do partido. Eu o conheço, conheço sua família, mas nunca obtive vantagem nenhuma por causa disso", garantiu.
Delação
O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou em delação premiada que Renan recebeu propina em contratos da Diretoria de Abastecimento e que, na prática, os pagamentos ao peemedebista "furaram" o teto de 3% estabelecido como limite dos repasses a políticos no esquema de cartel e corrupção desbaratado pela Lava-Jato.
O ex-diretor disse à força-tarefa que o peemedebista usava como "interlocutor" dos contatos com a Diretoria de Abastecimento - controlada pelo PP - o deputado Aníbal Ferreira Gomes. Aliado da família Calheiros, o deputado cearense empregou em seu gabinete o caçula de Renan, Rodrigo Rodrigues Calheiros.
O ex-diretor disse ter sido procurado pelo deputado entre 2007 e 2008 e que recebeu deste um pedido de Renan para que a Petrobras "passasse a contratar uma empresa, a Serveng-Civilsan". O deputado cearense disse que apenas sugeriu o nome da empresa para o projeto de um porto em São Sebastião (SP).
Veja a lista completa
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