O lobista Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, executivo que trabalhou na empresa Toyo Setal e é um dos delatores da Operação Lava Jato, afirmou nesta quarta-feira à CPI da Petrobras que fez repasses de propina ao Partido dos Trabalhadores por meio de dinheiro desviado na estatal e a mando do ex-diretor de Serviços da petroleira, Renato Duque. Segundo o delator, as contribuições à legenda eram abatidas do saldo de propina devido à área de Serviços da companhia. No escândalo do petrolão, delatores afirmam que eram desviados de 1% a 3% dos contratos com a Petrobras para serem pagos como propinas a agentes públicos e políticos. "Parte dos valores a pedido de Duque eu fiz enquanto doações oficiais ao PT e eram relativos ao dinheiro que tinha que dar a eles [a Duque e ao ex-gerente Pedro Barusco]. O Renato Duque me pediu para fazer parte dos valores que deveriam ser repassados para eles como contribuições ao PT", disse.
Augusto Mendonça participou de acareação com Renato Duque e com o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto. O lobista manteve a versão de que Duque e o ex-gerente Pedro Barusco cobravam propina de contratos com a Petrobras, mas foi duramente atacado por Renato Duque, que classificou o delator como "mentiroso contumaz" e "mentiroso esquecido" por fazer ajustes no acordo de colaboração com a justiça. Nos últimos dias, Mendonça reajustou a versão que deu aos investigadores da Lava Jato e disse que parte da propina que havia creditado como da cota de Renato Duque na verdade seria dinheiro movimentado normalmente pela companhia dele.
"Entre ele [Renato Duque] e o Pedro Barusco as conversas aconteceram principalmente com Barusco e uma boa parte [dos repasses de propina] era feita através de Mario Goes [operador do petrolão], que tinha uma empresa lá fora e onde eram feitos os depósitos", disse. Segundo os delatores, parte da propina paga a Duque, de 12 milhões de reais, foi paga por meio da conta Drenos, no banco Cramer, da Suíça.
Na acareação, Renato Duque negou que tenha determinado o pagamento de propina ao PT e provocou: "Se isso fosse verdade, daria diretamente. Se tivesse que tirar propina do meu bolso para dar ao PT, daria diretamente. Ele [Augusto Mendonça] não tem competência nem para fazer isso". Sentado ao lado de Duque, o ex-tesoureiro petista João Vaccari permaneceu em silêncio na audiência da CPI. Ele conseguiu no Supremo Tribunal Federal (STF) um habeas corpus do ministro Dias Toffoli para ficar calado na acareação e não respondeu, por exemplo, se a propina ao PT era "contribuição ou pixuleco". Segundo a versão do delator, ele esteve ao menos dez vezes com Vaccari para tratar de contribuições ao PT, sendo que o próprio ex-tesoureiro telefonava cobrando, caso houvesse atraso nas contribuições.
Embora tenha se recusado a responder boa parte das perguntas formuladas pela CPI, o ex-diretor de Serviços apresentou uma contabilidade paralela para tentar comprovar que o delator estaria mentindo ao incriminá-lo. "Eu já li e reli o processo várias vezes e não bate. Ele [Augusto Mendonça] recebeu dinheiro do consórcio para repassar propina. E o que ele diz é ele fez contratos com [o lobista] Julio Camargo para repassar propina. Julio disse que repassou, mas o dinheiro sumiu. Dos 110 milhões [de reais que seriam propina] ele só mostra que repassou 33 milhões [de reais]. O resto sumiu. Se tem alguém que está mentindo ou esté roubando não sou eu. Estou dizendo que ele roubou. Não é opinião, é matemática. É pegar onde ele pegou o dinheiro e onde ele enfiou", acusou Duque.
Segundo o delator, um emissário da área de Serviços da Petrobras, identificado apenas como "Tigrão", recebeu parte da propina em dinheiro vivo no escritório. Em outras ocasiões, dois outros prepostos receberam o suborno em nome de Duque e Barusco. Nos autos da Lava Jato, Augusto Mendonça descreveu Tigrão como um homem "entre 1,70m e 1,80m de altura e gordinho". "Grande parte da população brasileira atende à descrição de 1,70m e 1,80m e gordinho. Poderia ser qualquer um dessa sala aqui", debateu Duque.
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