sábado, outubro 20, 2018

A segurança que garante o sigilo das redes de desinformação no WhatsApp

Whatsapp utiliza tecnologia de criptografia ponta a ponta para proteger dados das mensagens enviadas Foto: Dado Ruvic / Agência O Globo
O WhatsApp se transformou num dos principais atores desta eleição, servindo de plataforma para a difusão de informações e, sobretudo, notícias falsas para milhões de eleitores. Em grupos fechados, quase secretos, circulam memes, vídeos e áudios, que depois, sem qualquer checagem, emergem em outras redes sociais e nas rodas de conversa entre amigos e familiares. Essa campanha de desinformação, que esteve fora do radar de analistas, se aproveita da segurança criptográfica do aplicativo e da capilaridade das redes.
Após os escândalos de espionagem revelados por Edward Snowden, a indústria de tecnologia precisou rever seus padrões de segurança. O WhatsApp resolveu adotar a criptografia ponta-a-ponta. Cada conversa possui um código próprio de segurança, fazendo com que a mensagem seja criptografada no momento em que sai do celular do remetente e só possa ser aberta no celular do receptor. Nem mesmo a companhia tem acesso ao conteúdo trocado.
"Na eleição americana de 2016 e no Brexit, o Facebook foi a plataforma escolhida para a campanha de desinformação com anúncios direcionados. Para a eleição brasileira, eles se prepararam, removeram páginas e perfis usados por esses grupos, e o WhatsApp virou o escape ideal", explica o diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio, Carlos Affonso.
"Uma plataforma criada para a comunicação interpessoal foi “hackeada” para funcionar como uma rede de broadcast, de um para muitos, com pouquíssimo diálogo, conceito de viralização e reprodução em larga escala de conteúdos que se repetem."
O pouco entendimento sobre o que está acontecendo gerou medidas extremas, como o pedido do PSOL, depois retirado, de suspensão do aplicativo até o segundo turno da eleição. Em anos recentes, a Justiça determinou a suspensão das operações do WhatsApp no país em algumas oportunidades por informações que a companhia não armazena, dado o sistema de criptografia implementado. Na última delas, em 2016, o então presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, restabeleceu o uso do aplicativo e considerou que a medida feria a liberdade de comunicação.
Mas a pouco mais de uma semana da eleição, existe uma corrida contra o tempo para minimizar os impactos do WhatsApp na escolha dos eleitores. Na quinta-feira, o jornal “Folha de S. Paulo” revelou que empresários estariam bancando, de maneira supostamente ilegal, contratos com agências que fazem disparos em massa de mensagens pela plataforma, a fim de beneficiar o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, e atacar o PT de Fernando Haddad.
Para Carlos Affonso, o risco está nas soluções “8 ou 80”. Quebrar a criptografia para vasculhar o que anda se falando na plataforma não é viável, mas lavar as mãos e eximir o WhatsApp de culpa também não é o ideal. De acordo com o especialista, eleitores, partidos e candidatos e a companhia precisam assumir responsabilidades e buscar soluções.
Os eleitores, diz Carlos Affonso, devem assumir o dever “quase cívico” de ser um “agente contra a desinformação”.
"Por mais penoso que seja, sair do grupo da família é deixar de ser atuante no processo de informação e alfabetização digital", recomendou o especialista. "Cabe a cada um de nós atuar como agente de esclarecimento. Isso não é um problema dos outros, é de cada um de nós."
Os partidos e candidatos não podem dizer que a desinformação dos eleitores não é problema deles. Nos pronunciamentos, eles devem dizer que não concordam com o que está acontecendo, que as notícias falsas não são saudáveis para a democracia.
"Apenas lavar as mãos é um péssimo sinal de como estamos lidando com a tecnologia na política", avaliou Carlos Affonso.
Por último, o WhatsApp. Diferente de outras plataformas, como Twitter e Facebook, não é possível avaliar quais perfis devem ser excluídos ou bloqueados de acordo com o conteúdo das mensagens compartilhadas. Contudo, usando técnicas modernas de análise de grandes quantidades de dados, que certamente são implementadas na plataforma para a extração de informações, é possível determinar padrões de uso compatíveis com bots e spammers. Pelo endereço IP, é possível identificar contas com atividade suspeita operando a partir do mesmo local.
PUBLICIDADE
Aparentemente, o WhatsApp começou a atuar nesse sentido. Em comunicado divulgado nesta sexta-feira, a companhia informou ter banido “proativamente centenas de milhares de contas durante o período das eleições no Brasil. (...) Também estamos tomando medidas legais imediatas para impedir empresas de enviar mensagens em massa via WhatsApp e já banimos contas associadas a essas empresas”. Até mesmo a conta do senador eleito pelo PSL no Rio, Flávio Bolsonaro, filho do presidenciável Jair Bolsonaro, teve o número banido “por comportamento de spam”.
“Temos tecnologia de ponta para detecção de spam que identifica contas com comportamento anormal para que não possam ser usadas para espalhar spam ou desinformação”, informou o WhatsApp.

0 comentários:

Postar um comentário