domingo, novembro 28, 2010

Prédios históricos ameaçados

Clique para Ampliar
Casarão na rua Barão do Rio Branco, em Crateús, é um dos poucos remanescentes do passado com as características originais. Ainda falta conscientização dos proprietários 


Época pautada por modismos e mudanças afeta edificações antigas, que sobrevivem nas memórias e fotografias
Crateús. O crateuense que chegar a este Município após dez anos de ausência perceberá a falta de muitas construções antigas, especialmente no Centro da cidade. Prédios, casarões e residências construídos no passado, e que representavam importantes fontes de pesquisa e preservação cultural para o Crateús, já não existem mais.
A maioria das edificações sofreu modificações radicais ou tiveram suas fachadas alteradas. Alguns foram demolidos, outros reformados. Em poucos foram mantidas as características originais. Enquanto mundialmente há uma preocupação em preservar os patrimônios históricos da humanidade, por meio de leis de proteção e restaurações que possibilitam a manutenção das características originais, na cidade de Crateús essa realidade ainda caminha a passos lentos.
"Infelizmente aqui não existe ainda uma política de resgate de nossa cultura e história", lamenta o colecionador Paulo Taumaturgo, que tem um vasto registro dos eventos e fatos históricos de Crateús em um acervo fotográfico, composto de um total de 1.200 imagens.
Para o colecionador, o crescimento da cidade, notadamente na área comercial, pode ser considerado um dos fatores da não preservação do patrimônio material de Crateús. Empresas de grande porte vão chegando na cidade e ocupam prédios antigos, realizando grandes reformas, mudando a concepção original, normalmente para seguir um padrão próprio.
Apenas lembranças
Quem ainda lembra, por exemplo, do prédio antigo da Rua D. Pedro II, que foi praticamente demolido pelas Lojas Samasa, que em pouco tempo foi embora e hoje funciona as Lojas Zenir? E para citar um exemplo bem recente, alguém ainda lembra do casarão do farmacêutico Elpídio, na Rua Coronel Zezé, também no Centro, que foi demolido há menos de um ano?
"O que falta na verdade é uma base educacional sólida e acadêmica. Crateús precisa de universidades e também de indústrias, para crescer firme", avalia Taumaturgo. O pesquisador acredita que somente o crescimento da cidade não justifica a falta de preservação.
Para ele, a falta de instituições de Ensino Superior, que agora é que começa a chegar ao Município, ocasionou essa falta de cuidado com a identidade histórica por parte das pessoas, pois o meio acadêmico influencia na reflexão das questões históricas e culturais. Salienta também a falta de um interesse maior de preservação por parte das autoridades municipais. "As autoridades também deixam a desejar nesse aspecto", pondera o colecionador.
Na contramão desse processo, o colecionador produz documentários que registram a história de Crateús. Por meio do seu acervo, seleciona imagens de acontecimentos históricos, como a passagem da Coluna Prestes pela cidade, intempéries da natureza, prédios históricos, além de passagens da vida de personalidades que fazem parte da história de Crateús.
"Com a fotografia é possível contar a história do Município que as novas gerações não conhecem", diz, garantindo que o seu objetivo é preservar a identidade histórica de sua terra. Faz parte do seu dia a dia registrar todas as mudanças nos prédios da cidade e aumentar a sua coleção, com a qual sonha fazer uma exposição fotográfica.
Relembrando um trabalho de identificação e catalogação dos prédios históricos de Crateús, realizado nos idos de 2000 por ele mesmo, quando trabalhou pela primeira vez no setor de cultura do Município, Sílvio Werta salienta que a cidade tem que acelerar suas ações nesse aspecto. "Já perdemos muito tempo, temos que cuidar dos nossos prédios antigos que ainda restam e que são poucos", avalia o chefe do setor de Cultura de Crateús.
Ele cita os prédios da estação da Rffsa, algumas residências e casarões como exemplos do que ainda restam do patrimônio histórico da cidade. Na época chegou a ir ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), mas o trabalho não prosperou. Relembra que a própria população não compreendia a proposta.
Não tomar, preservar
"Muitas pessoas têm uma concepção errônea de tombamento, acham que é tomar, e não é isso, é preservar para as próximas gerações". Sílvio Werta diz que pretende retomar o trabalho e que uma das metas do Departamento para 2011 é iniciar ações de preservação do patrimônio histórico, em parceria com o Governo do Estado.
Para ele, novas ações que estão surgindo no Município levarão a uma conscientização maior por parte de todos. "Com a expansão da praça e com o projeto ecológico do Rio Poti, creio que teremos uma maior preservação e conscientização da nossa cultura". Ressalta, ainda, que o departamento é voltado também para a preservação do patrimônio imaterial, como as tradições, a cultura, eventos e pessoas. "Mesmo com poucos recursos, pois somos apenas um departamento, apoiamos grupos artísticos e realizamos eventos culturais no Município", diz Sílvio Werta.
PRAÇA DA ESTAÇÃO
Monumento lembra Coluna Prestes
Além dos prédios, monumentos desta cidade lembram momentos relevantes para a história do Brasil
Crateús. A atual Praça Gentil Cardoso, antiga Praça da Estação, possui dois dos maiores patrimônios históricos de Crateús: o prédio da Rffsa e o Memorial da Coluna Prestes. Este memorial marca um fato histórico e curioso ocorrido nesta cidade.
Crateús foi o local onde ocorreu um tiroteio entre soldados da Polícia e componentes da Coluna Prestes, movimento armado que visava derrubar as oligarquias que dominavam o Brasil durante a República Velha. Para isso, realizaram uma grande marcha procurando denunciar o governo que percorreu o interior do País entre os anos de 1925 e 1927. Além do Exército, muitas vezes eram mobilizados soldados da Polícia e, no Nordeste, jagunços e cangaceiros para combater os participantes da revolta.
Aqui em Crateús, a história registra o combate que ficou conhecido pela população como "A Passagem dos Revoltosos", que, acirrado, culminou na morte do tenente Tarquínio e do cabo Antônio Cabeleira, dois dos componentes do movimento armado.
Os revoltosos, comandados pelo líder revolucionário Luís Carlos Prestes, passaram pela cidade de Crateús na madrugada de 15 de janeiro de 1926, chefiados pelo capitão João Alberto. A sepultura dos dois revoltosos que morreram durante o tiroteio fica localizada na comunidade de Boa Vista, situada nas imediações desta cidade.
Em memória a este acontecimento, o Governo do Estado construiu, em 2007, o Memorial da Coluna Prestes nesta cidade. O monumento foi projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, que mostra o percurso da Coluna pelo Brasil.
Crateús foi o único local em que houve combate entre os revoltosos e as forças oficiais dentro de uma zona urbana. Recentemente reformado e valorizado, o monumento que lembra a passagem da Coluna Prestes passa a ser conhecido pelos crateuenses e tornou-se ponto turístico para os visitantes que chegam à cidade.
O livro "A história de Crateús", escrito pelas professoras Ivane Sales e Maria Aureni, conta o episódio: "O vigário de Crateús na época, padre Juvêncio, avisou, durante a missa de domingo, da possibilidade dos revoltosos chegarem à cidade. Recomendou que todos ficassem em locais seguros. Muitos foram para as fazendas, distritos e povoados. Outros ficaram e viram a passagem dos revoltosos. O comandante da Polícia, tenente Peregrino, mobilizou 100 soldados para enfrentar os revoltosos. Eles chegaram à cidade em grupos, entrando por áreas distintas da cidade", descreve.
MAIS INFORMAÇÕES 
Departamento de Cultura Rua Barão do Rio Branco, 1679(88) 3692.3315
Paulo Taumaturgo: (88) 8824.8594
Silvania Claudino
Repórter

1 comentários:

  1. SILVIO. TUDO BEM? VOCÊ COMO SEMPRE COM BOAS IDÉIAS! AGORA NAS FÉRIAS TERIA ALGUM ESPACO PARA FAZER ESSA EXPOSICÃO DO PAULO? MESMO QUE FOSSE COBRADO UM PRECO POPULAR? SÍLVIO, SEI DO EXCELENTE TRABALHO QUE VOCÊ FAZ. TAMBÉM SEI DAS DIFICULDADES, MAS SERÁ QUE NÃO TERIA UM ESPACO PARA ESSA EXPOSICÃO?
    VOCÊS PODERIAM IR ATRÁS DE ALGUNS PATROCÍNIOS.
    PARABÉNS PAULO, POR ESSE TRABALHO QUE VOCÊ TEVE AO LONGO DOS ANOS.

    ResponderExcluir