Chávez quebra silêncio em Havana e admite que fez operação para retirada de tumor

Janaína Figueiredo, correspondente (janaina.figueiredo@oglobo.com.br)

 Três semanas depois de ter sido operado de urgência em Cuba e em meio a uma usina de rumores sobre sua saúde, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, confirmou nesta quinta-feira, em mensagem transmitida por rede nacional de rádio e TV, ter sido operado em Havana para eliminar "um tumor abscedado com presença de células cancerígenas".

Visivelmente abalado por uma doença que fora revelada por meios de comunicação locais mas até agora era negada pelo Palácio Miraflores (o Executivo venezuelano), Chávez assegurou que continuará à frente do governo, apesar de estar em tratamento para "combater as diferentes células encontradas" pelos médicos cubanos.

- Obrigado meu povo, obrigado vida minha, até a vitória sempre. Nós venceremos - assegurou Chávez, que, segundo versões não oficiais, teria emagrecido 12 quilos.

O presidente venezuelano não informou a data em que retornaria ao país, uma das principais incógnitas que continua inquietando aliados e adversários do líder bolivariano. No próximo dia 5 de julho, a Venezuela comemorará seus 200 anos de independência e o governo está organizando um grande desfile militar que, na eventual ausência de Chávez, será comandado pelo vice-presidente Elias Jauá.

Presidente não detalha tratamento

Em mensagem gravada num estúdio em Havana oferecido pelo governo cubano a seu colega venezuelano, Chávez deu alguns detalhes sobre o tratamento que está realizando na ilha desde 10 de junho passado.

Até esta quinta, a única notícia que fora confirmada pelas autoridades do país era a realização de uma primeira cirurgia de urgência para drenar um abscesso pélvico. Nos últimos dias, importantes dirigentes chavistas, entre eles o presidente da Assembléia Nacional (o congresso venezuelano), Fernando Sorto Rojas, negaram qualquer possibilidade de que Chávez tivesse câncer.

Num tom mais pausado do que o habitual, o líder bolivariano comentou que após realizar a cirurgia para dissolver o abscesso pélvico, outros exames realizados pelos médicos cubanos "confirmaram a existência de um tumor abscedado com presença de células cancerígenas que demandou uma segunda intervenção - que permitiu a extração total do tumor".

- Foi uma intervenção maior, sem complicações, depois da qual continuei evoluindo de forma satisfatória - explicou.

- Agora estou realizando tratamentos para combater as diferentes células encontradas - continuou Chávez, sem informar se trata-se de radioterapia, como assegurou o jornalista venezuelano Nélson Bocaranda, um dos primeiros em afirmar publicamente que Chávez sofria um câncer.

Na tentativa de mostrar-se ativo, apesar dos problemas de saúde, o presidente fez questão de dizer que "estou informado sobre as ações do governo, em comunicação com toda minha equipe de governo". Apesar da pressão da oposição, que desde a internação de Chávez pediu ao governo que o poder fe assumido pelo vice-presidente, ontem o líder bolivariano deixou claro que essa possibilidade não está sendo cogitada. Na visão da bancada de 67 congressistas da oposição, a ação do Palácio Miraflores é inconstitucional.

O presidente venezuelano admitiu ter descuidado sua saúde, segundo ele, "um erro fundamental, sobretudo para um revolucionário que tem algumas modestas responsabilidades".

- Ao longo de toda minha vida cometi um daqueles erros fundamentais, descuidar a saúde e resistir aos exames e tratamentos médicos - lamentou Chávez, que disse ter sido interrogado pelo ex-presidente cubado Fidel Castro "quase como um médico" quando chegou a Havana nos primeiros dias de junho.

- Minha intenção era apenas revisar meu joelho esquerdo - contou o presidente venezuelano.

Segundo ele, "não foi difícil para Fidel perceber alguns problemas que vinha tentando dissimular".

FOnte: O GLOBO