Princesa, cadê sua majestade?
Elias de França
Muitos
crateuenses não compreendemos nem absorvemos positivamente a mudança no
transporte interestadual Crateús-Fortaleza, de quando as empresas Rápido e Trans-Crateús
foram substituídas pela Princesa dos Inhamuns.
Sabe-se que
ocorreu num processo licitatório de concessão promovido pelo Estado do Ceará,
por certo à luz da lei, segundo a qual há de vencer quem possui condições de oferecer
melhores serviços a menores custos. Fora o preço das passagens, que vem se
mantendo praticamente inalterado, no mais tem sido difícil notar esse plus de qualidade. Para não soar como injustificado
apego ao passado e a resistência às “mudanças”, vamos a algumas comparações.
Comecemos
pela frota, que deve ter sido um dos critérios considerados no processo
licitatório. As velhas Rápido/Trans-Crateús não possuíam tantos ônibus, mas
eram bastantes para dois horários diurnos e dois noturnos, diariamente, ida e
volta. Nas datas especiais sempre eram disponibilizadas aos passageiros tantas
conduções extras, quanto necessárias. É certo que a maioria emprestada e
algumas davam prego, mas ter, tinha sim. Quanto à qualidade dos veículos, boa
parte era de nível básico. Mas havia alguns bem melhores, com padrão semi-leito
e até de dois andares, parecendo uma espaçonave.
Já a nova
Princesa dos Inhamuns, dizem ter uma frota gigante, com centenas de veículos. Porém
todos nos quais viajei, no itinerário Crateús-Fortaleza, são rigorosamente
iguais e ordinários. Tirando-se o ar-condicionado, nenhum item de conforto
relevante: mesma marca, modelo, tamanho. Poltronas estreitas e magras, de pouca
inclinação para o sono, braço de apoio fino e seco e, as vezes, inexistente do
lado da janela. Porta-pés desconfortável e de pouca mobilidade, e ausência de
apoio de pernas – que no caso das velhas empresas era frequente. Nos dias
especiais, é um sufoco conseguir passagem, mesmo com três, quatro dias de
antecedência. Ônibus extra é sempre uma incógnita e, muitas vezes, também
emprestado.
Vamos aos
serviços, que devem ter sido outro critério considerado. As velhas Rápido/Trans-Crateús
não tinham venda online de passagens nem aceitavam cartão de crédito. No mais,
tudo era facilitado. Estivesse lá ou cá, bastava dar um telefonema para as
agências e tudo estava resolvido. Se pedíssemos, alguém trazia a nossa passagem
em casa. Para os mais exigentes e que desejassem uma viagem executiva, tinha um
horário mais rápido, sem paradas, ao custo de R$ 5,00 a mais. Os passageiros
eram saudados por uma produzida e simpática “rodomoça”, que oferecia chocolate
quente de graça. Não bastasse isso, o serviço de bordo disponibilizava a venda de
refrigerante, água mineral e outros. Enquanto se “pegava” no sono, sempre se
podia assistir a um bom filme, no padrão “lançamento”, durante o percurso. No
desembarque em Fortaleza, quem precisasse ir além da rodoviária central, até as
garagens, não via cara feia. Moradores do bairro Montese e vizinhos também
podiam saltar do ônibus na porta de casa ou há alguns quarteirões, assim como
os que moram nas imediações da Bezerra de Menezes/ Mister Hull.
Nos tempos da
nova Princesa dos Inhamuns, também nada de vendas online ou cartão de crédito.
Os horários são todos ordinariamente iguais. Os ônibus param mais do que jegue cansado
nos vilarejos da estrada, seja que hora for. Ainda que não haja passageiros a
subirem, o motorista estaciona em plena madrugada para comer seu lanche e joga
a luz interna nos olhos de todos os que dormem. Do sorriso da “rodomoça” e do
chocolate quente, só a doce lembrança. Quem não tiver tempo de pegar a fila do
quiosque de água na rodoviária, viaja com sede. Em vez do filme no padrão
lançamento, só se for um galo na testa após bater nos inúteis monitores que
descem do teto dos ônibus. Não tem história de garagem. Para termos a compra
deslocada, foi preciso provocar uma confusão. E agora, se não remarcar in loco a viagem três horas antes, perde
a passagem. E na última viagem, fui avisado de uma novidade: uma espécie de check-in para quem está em Fortaleza e compra a passagem em
Crateús. Tem que chegar uma hora antes de embarcar para retirar a passagem na
agência. É assim ou não viaja.
Poder-se-ia
reclamar de muito mais, como agora a trama para privatizar a rodoviária (como
já foi feito em Canindé e outras cidades); ou da cobrança de taxa de embarque e
a ameaça de fechamento do único ponto de apoio remanescente, coisas “nunca
antes vistas na história de Crateús”.
Em síntese,
não se trata aqui de defender o retorno do velho. Sabe se que os serviços de
antes tinham suas precariedades. Também não é mera bravata anticapitalista
contra o que dizem, a grandes bocas, quanto a existência de um processo de
cartelização do transporte no Ceará, em torno de quatro grandes grupos. Ao usuário,
isso não desperta atenção. Muito lamentamos ter que fazer comparações entre
presente e passado, quando já devíamos nos mirar pelos padrões de embarque
internacionais, como nos aeroportos, em que se pode agendar e programar todo o
pacote de casa, escolhendo voos, formas de pagamento, poltronas e até check-in.
O que nos toma
é a sensação de mau trato e desconforto atormentando as necessárias viagens ou
retornos da capital. Trata-se tão somente de manifestar o sentimento de que nós
crateuenses merecemos muito mais do que já tivemos um dia: merecemos ao menos
um horário executivo que chegue ao destino mais rápido com tempo de um descanso
reparador para o trabalho no outro dia; merecemos – por que não? – uma condução
com padrões de conforto melhores, quem sabe até um leito; merecemos saltar o mais
perto possível de nossa casa e embarcar/desembarcar na Rodoviária, construída
com recursos públicos, no ponto de apoio, na rua... sem barramento de cancelas
e taxas extorsivas.
A palavra
“princesa”, que dá nome à atual empresa responsável pelo deslocamento dos
crateuenses, remete-nos a ideia de realeza, nobreza, grandeza, pompa, majestade.
As sensações que vivenciamos no dia-a-dia das viagens, entretanto, nos deixam a
impressão de que aquela que se proclama “Princesa dos Inhamuns”, cá nos SERTÕES
DE CRATEÚS presta, isto sim, um medíocre e ordinário serviço de Bruxa.
A "majestade" num está estas grandes coisas mas, tudo continua como antes a fora o serviço "disk passagem".
ResponderExcluirComentário exagerado, beirando a politicagem.
Neneto
ResponderExcluirConcordo com Elias no seu comentário, estive em crateús este final de semana e vivenciei a falta de qualidade da empresa citada, se é politicagem não sei, até porque não época da rapido crateus era um verdadeiro monopólio. Acho que deviamos ter outra empresa fazendo crateus-fortaleza.
eu acho é pouco, antes tudo que acontecia na nossa Rápido Crateús era motivo de ir em rádio reclamar e hoje pergunte se a poty dar espaço pra alguém reclamar? Dá não, a empresa é do Chiquinho Feitosa, isso mesmo, do presidente do DEM e procure algum diretor pra fazer reclamações. Sabe quando vai encontrar? Nunca. Cada povo tem o que merece, reclamavam tanto da Rápido Crateús, taí uma empresa "boa" Princesa dos Inhamuns, excelente, parabésn crateuenses.
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