domingo, agosto 24, 2014

Brasil

POLÍTICA

Um pastelão filantrópico, por Dorrit Harazim

Dorrit Harazim, O Globo
Desde a largada o desafio do balde de gelo transformou-se numa corrida ao pote da famosidade
Não é apenas o Rio que produz a cada verão uma nova cota de fofocas, modismos, separações e paixões de famosos, segredos suculentos.
O verão no Hemisfério Norte também produz sua cota de falsas crises e fomento para tabloides. No mês de agosto, sobretudo, com a criançada de férias, os governos quase parados e a temperatura chegando a picos máximos, qualquer tolice bem turbinada tem chance de adquirir status de fenômeno viral.
Foi o que ocorreu com uma iniciativa beneficente de propósito claro e sério, mas lançada num formato de desafio-pastelão que caiu nas graças dos habitantes das redes sociais. A ideia original de Patrick Quinn e Pete Frates, dois jovens americanos que sofrem da doença degenerativa esclerose lateral amiotrófica (ALS, na sigla em inglês), também conhecida como doença Lou Gering, para a qual não existe cura, foi postar vídeos chamativos e bem-humorados no Facebook sob o hashtag #IceBucketChallenge.
A dupla quis dar visibilidade máxima a uma doença ainda bastante clandestina, além de arrecadar fundos para impulsionar as pesquisas voltadas a uma hipotética cura e, de quebra, injetar algum alento aos pacientes condenados a aguardar a progressiva morte.

















Pete Frates paga o desafio que inspirou o mundo 

Dorrit Harazim é jornalista


POLÍTICA

A nova velha política, por Mary Zaidan

Política no Brasil sempre foi personalista e, não raro, os partidos políticos são satélites girando em torno de personas. O PTB de Getúlio Vargas, o PDT de Leonel Brizola, o PMDB de Ulysses Guimarães são alguns exemplos. Mas nesse quesito o Partido dos Trabalhadores é imbatível: sem Lula o PT não respira. O horário eleitoral dito gratuito no rádio e na TV é só mais uma prova disso.
Onipresente, Lula ocupa todos os espaços. É destaque nos programas de Dilma Rousseff e dos governadores. Pede votos para deputados federais e estaduais. Já apareceu no modelito casual - jaqueta branca e iluminação brilhante, com ares de divindade -, de terno escuro, sério e contido, de obreiro ao lado de sua pupila-presidente.
Faz todo e qualquer papel. Elogia os seus, atiça adversários, desanca com a mídia. Tudo gira em torno dele. A overdose é tamanha a ponto de confundir o eleitor desavisado.
A liderança de Lula é indiscutível. Mas exercida em antigos moldes, com trejeitos e linguagem que deram nova roupagem ao caciquismo. É ele que dá as ordens, que monta alianças e palanques, que atrai financiadores. É ele que inventa candidatos e elege postes.
É bom de voto e para pedir votos. Mas para por aí. Os sucessos eleitorais dos afilhados de Lula se traduziram em governos avaliados como medíocres ou pior do que isso.
Criou Dilma, cujo governo débil ameaça o patrimônio do patrono. Um quarto dos brasileiros consideram o governo dela ruim ou péssimo e 34% rejeitam a sua candidatura. Números que devem fazer Lula se arrepender de não ter combinado com a criatura que a brincadeira duraria por um único quadriênio. Sem saída, esforça-se para recriá-la.
Tirou Fernando Haddad da cartola. Venceu e amarga os 47% de rejeição que o prefeito paulistano ostenta antes de completar o seu segundo ano de mandato. Agora, tenta – com aparições excessivas no horário eleitoral - emplacar Alexandre Padilha no estado de São Paulo.
Poderá até lograr novo êxito. Mas os governos de suas invencionices justificam as pulgas que mordiscam as orelhas dos paulistas e talvez expliquem por que Padilha não conseguiu ultrapassar 5% das intenções de votos a 40 dias das eleições.
Lula é dono do PT. E revés eleitoral algum muda essa condição. Que o diga a fragorosa derrota que o então governador Eduardo Campos impôs a ele na disputa municipal do Recife, há dois anos.
Campos, morto há duas semanas, era dono do PSB. Sua candidata-sucessora Marina Silva quer ter um partido para chamar de seu, mesmo que vença as eleições com a sigla que lhe deu guarida.
Eis o mistério da nova política.













Luiz Inácio Lula da Silva

Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília, e na Agência Estado (SP). Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas. 


O papel dos partidos, por Merval Pereira

Merval Pereira, O Globo
Com o retorno da ex-senadora Marina Silva ao proscênio da vida política brasileira na disputa pela Presidência da República, está em debate a importância dos partidos na democracia representativa. Marina, em reunião com aliados no primeiro dia de candidata, insistiu no descrédito do que chama de “velha política” junto à opinião pública e ressaltou que a aliança que importa neste momento é com a sociedade, não com os partidos.
Em outra ocasião, disse que o presidente “não é propriedade de um partido. A sociedade está dizendo que quer se apropriar da política. E as lideranças políticas precisam entender que o Estado não é o partido, e o Estado não é o governo”. Sua velha amiga e agora coordenadora da campanha presidencial, Luiza Erundina, do PSB, fizera há algum tempo uma crítica a essa visão de Marina, que agora foi revivida na internet.
Erundina dizia, em síntese, que Marina, embora seja “uma pessoa maravilhosa”, “entra no senso comum da sociedade do ponto de vista de negar a política, de negar o partido. Tanto é que (criou) uma Rede, não partido. Acho que isso desorganiza, deseduca politicamente. Não há política e não há democracia sem partidos. Pode ser um partido dentro da concepção do que ela defende, mas não negando o partido, não negando a política”.















Partido Políticos Brasileiros


POLÍTICA

O PT não é mais aquele, por Ilimar Franco

Ilimar Franco, O Globo
O ex-presidente Lula vai intensificar sua presença na campanha do PT na TV. Sua figura é o antídoto para tentar amenizar o desgaste do partido e conter a arrancada de Marina Silva (PSB). A direção petista teme a redução dos votos na legenda para a Câmara e treme com os indicativos de que a presidente Dilma pode ser batida no segundo turno. Um dirigente petista diz que, mesmo assim, fica a incerteza: “Não sabemos se vai resolver”.
O staff da candidatura Marina Silva vive grande expectativa com o resultado das pesquisas Ibope e Datafolha. Elas ficam prontas nos próximos dias. No fim de semana, o grupo recebeu pesquisa que confirma o Datafolha, do início da semana passada, com Marina superando a presidente Dilma no segundo turno. Só mudou a vantagem.
O mais alvissareiro, segundo seu time, é que a candidata aparece em empate técnico no primeiro turno com a presidente Dilma. Isso decorre de seu desempenho no Sudeste, no Sul e no Nordeste. Os marineiros comemoram a liderança na juventude, setor da sociedade sempre mais disposto a sair às ruas em defesa de suas ideias, ideais e objetivos.


GERAL

A nem tão nova seleção, por Luis Fernando Verissimo

O 7 a 1 não existiu. Ou existiu num universo à parte, só dele. A CBF deveria pedir a anulação do jogo e sua repetição, desta vez no mundo real
É difícil dizer por quanto tempo o 7 a 1 envenenará nossa memória coletiva como um rato morto no poço. O trauma da derrota para o Uruguai em 50 tinha se diluído no tempo e só a vaga possibilidade de a final da Copa de 2014 repetir a final de 50 justificava que fosse lembrado. A derrota de 50 ficou atravessada na garganta de uma geração, mas foi finalmente engolida e mais ou menos digerida. Aí veio o 7 a 1. Quanto tempo levaremos para engolir o 7 a 1? Quantas gerações?
Eu decidi fazer minha paz em separado com o 7 a 1. Me consolei com o seguinte raciocínio, meio desesperado: o 7 a 1 foi uma aberração. Nenhuma logica o explica, nenhuma explicação resiste à razão. E é impossível construir qualquer coisa em cima de uma aberração. Teses não ficam de pé, conclusões desmoronam, até a indignação afunda. Se o resultado final fosse, digamos, Alemanha 3, Brasil zero, seria um vexame com significado.
Um vexame aproveitável, uma lição, um castigo pelos nossos pecados, começando pelo da soberba. O 7 a 1 não significou nada. O 7 a 1 não existiu. Ou existiu num universo à parte, só dele. A CBF deveria pedir a anulação do jogo e sua repetição, desta vez no mundo real, onde há lógica e as coisas costumam ter sentido.
Pela sua convocação para a nova seleção não dá para ver se o Dunga concorda que é melhor fingir que o 7 a 1 não houve ou se achou melhor partir do 7 a 1 e das culpas pelo 7 a 1. Da seleção do Felipão foram chamados dez. Supõe-se que os 13 que sobraram foram considerados mais culpados pelo desastre do que os chamados, ou ficaram mais identificados com o fracasso.
A não convocação do Marcelo e a reconvocação do Hulk e do Ramires desmentem esta impressão. Marcelo foi um dos que se salvaram do naufrágio e Hulk e Ramires dois dos que afundaram mais notoriamente. David Luiz era uma unanimidade e ninguém nega seu valor, mas revelou-se ser o que no meu tempo se chamava de “peladeiro”, aquele zagueiro que, por impaciência ou imprudência, desguarnece seu time e se lança à frente o tempo todo.
E, naqueles seis minutos em que a Alemanha marcou quatro, ele e o Dante certamente não estavam onde deveriam estar. Mas imagino que David Luiz será o capitão da nova seleção como foi do Felipão. Um sinal de que Dunga não ignorou o 7 a 1 e quer um grupo dividido entre culpados perdoados e inocentes.
















Dunga, técnico da seleção brasileira - Foto: Guilherme Pinto / Agência O Globo 

Luis Fernando Veríssimo é escritor


POLÍTICA

O ‘faço porque posso’ de Graça Foster, por Elio Gaspari

Elio Gaspari, O Globo
Quem acompanha a desenvoltura do comissariado petista habituou-se a conviver com notícias chocantes. Assessor de deputado com dólares na cueca ou o vice-presidente da Câmara voando no jatinho de um doleiro. Ainda assim, pode (se quiser) atribuir esses malfeitos às deficiências do gênero humano. Aí, aparecem os repórteres Vinicius Sassine, Eduardo Bresciani e Demétrio Weber e informam:
Entre março e abril, a presidente da Petrobras, Graça Foster, doou a seus dois filhos um apartamento no Rio Comprido, outro em Búzios e uma casa na Ilha do Governador. (A mesma generosidade bafejou Nestor Cerveró, diretor da Petrobras, levando-o a doar aos filhos e a um neto dois apartamentos no Leblon e outro em Ipanema.)
Desde 2012 o Tribunal de Contas da União investigava a encrenca da Petrobras na compra da refinaria de Pasadena, que poderia resultar no bloqueio de bens do petrocomissariado. Ele efetivamente ocorreu, meses depois das doações. Na quarta-feira, quando o TCU decidia se deveria bloquear também o patrimônio de Graça Foster, veio a informação da transferência dos bens. “É grave, porque é como se fosse uma tentativa de burlar o caso”, disse o ministro José Jorge, relator do processo no Tribunal




















Graça Foster, presidente da Petrobras - Foto: Givaldo Barbosa - Agência O Globo  

Elio Gaspari é jornalista


POLÍTICA

No Brasil, 80% das estradas não contam com pavimentação

Carolina Benevides, O Globo
Pelos quase 1,7 milhão de quilômetros de estradas que cortam o Brasil escoa 58% do volume nacional de cargas. No entanto, 80,3% — mais de 1,3 milhão de km — não são pavimentadas. Ao todo, o país tem 12,1% de rodovias pavimentadas; os outros 7,6% são vias planejadas, isto é, ainda não saíram do papel.
Dividida por esfera de jurisdição, a malha rodoviária sob responsabilidade dos municípios é a que menos tem estradas pavimentadas, apenas 2%. Nas que estão na esfera estadual, a pavimentação não passa de 43,5%. As federais, por sua vez, têm 54,2% das vias asfaltadas.
Os dados, de junho deste ano, são do Sistema Nacional de Viação, do Ministério dos Transportes, e incluem a rede rodoviária administrada pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), concessões, convênios e MP-082.






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