quinta-feira, março 31, 2016

Chefe da Força Nacional pede demissão e diz que Dilma não tem "escrúpulos"

O ex-chefe da Força Nacional de Segurança Pública, coronel Adilson Moreira
O agora ex-chefe da Força Nacional de Segurança Pública, coronel Adilson Moreira(VEJA.com/Reprodução)
A quatro meses dos Jogos Olímpicos, o chefe da Força Nacional, coronel Adilson Moreira, pediu demissão do cargo, alegando que estava passando por um "conflito ético" por trabalhar para um governo que, segundo ele, é comandado por um "grupo sem escrúpulos, incluindo aí a presidente da República". A decisão da sua exoneração foi publicada no Diário Oficial da União nesta quinta-feira. Ao se demitir, o coronel enviou um e-mail aos seus subordinados criticando o governo da presidente Dilma Rousseff.
"Minha família exigiu minha saída, pois não precisa ser muito inteligente para saber que estamos sendo conduzidos por um grupo sem escrúpulos, incluindo aí a presidente da República. Me sinto cada vez mais envergonhado. O que antes eram rumores, se concretizaram", diz o texto do coronel. No e-mail, ele explica que pediu para ser destituído do cargo em no máximo 15 dias, em 21 de março.
Ele ainda diz que sempre viveu um "conflito ético de servir a um governo federal com tamanha complexidade política". "A nossa administração federal não está interessada no bem do país, mas em manter o poder a qualquer custo. Como o compromisso era de não causar solução de continuidade, solicitei apontar um substituto."
Adilson Moreira estava no cargo de diretor da Força desde janeiro em caráter interino. Segundo escreveu no comunicado, ele pretendia ficar até o fim dos Jogos Olímpicos, mas que "agora, em março, não foi mais possível manter o foco na área técnica somente".A saída da diretoria a poucos meses da Olimpíada traz preocupação, porque a Força Nacional é responsável pela segurança durante o evento. A expectativa é de que cerca de 10 mil homens sejam enviados ao Rio de Janeiro com esse objetivo.
Inquérito - A Força Nacional de Segurança Pública é um órgão ligado ao Ministério da Justiça. A pasta afirmou ontem, por meio de nota, que considerou "graves" as declarações feitas pelo coronel e que, como elas "podem implicar falta disciplinar e gesto de deslealdade administrativa", o ministério vai instaurar inquérito administrativo e levar o caso à Comissão de Ética Pública da Presidência da República, uma vez que Moreira mencionou o nome da presidente Dilma Rousseff.
O Ministério da Justiça também informou que pediu à Advocacia-Geral da União (AGU) que verifique se cabem eventuais medidas judiciais contra o coronel Adilson Moreira.

(Com Estadão Conteúdo)

Após rompimento, Dilma demite diretores indicados pelo PMDB

Presidente Dilma Rousseff participa de reunião com juristas no Palácio do Planalto, em Brasília, nesta quarta-feira (30)
Presidente Dilma Rousseff pretende negociar os cargos com partidos da base aliada para evitar o impeachment(Adriano Machado/Reuters)
De olho na votação do impeachment, a presidente Dilma Rousseff demitiu nesta quarta-feira o diretor-geral do Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs), Walter Gomes de Sousa, e o diretor da Companhia Nacional de Abastecimento, Rogério Abdalla. Ambos haviam sido indicados pelo PMDB, que rompeu oficialmente com o governo em uma reunião relâmpago na terça. As exonerações foram publicadas na edição desta quinta-feira do Diário Oficial da União (DOU).
A direção do Dnocs é um dos cargos de segundo escalão mais cobiçados na região Nordeste. Sousa havia sido indicado para o posto pelo ex-ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que entregou o cargo na segunda-feira seguindo a orientação do partido. Até agora, porém, Alves foi o único dos sete ministros do PMDB a deixar o posto. Os outros resistem a deixar seus cargos, como é ocaso de Kátia Abreu, da Agricultura.
Em outra frente, Dilma negocia o espaço do PMDB no governo com os demais partidos da base - principalmente PP, PSD e PR - para evitar que essas siglas votem a favor do impeachment. Além da Conab e Dnocs, já houve mudanças na Funasa. Na semana passada, Antonio Pires foi demitido do cargo de presidente. Pires era ligado ao vice-presidente Michel Temer.
O Diário Oficial da União (DOU) desta quinta-feira também traz publicada a exoneração de George Hilton do cargo de ministro do Esporte. Para ocupar o posto, interinamente, foi nomeado Ricardo Leyser Gonçalves, do PCdoB. A mudança foi confirmada ontem pelo Palácio do Planalto. George Hilton havia se desfiliado do PRB para continuar no ministério depois que a sigla decidiu romper com o governo, há cerca de 15 dias.
Na semana passada, porém, em uma negociação política com PRB, o Planalto havia acertado que Leyser assumiria o posto definitivamente. Apesar de ser do PCdoB, o nome dele era considerado mais afinado com o comando nacional do PRB.
(Com Estadão Conteúdo)

O bunker dilmista contra o impeachment: ato quatro

Presidente Dilma Rousseff participa de reunião com juristas no Palácio do Planalto, em Brasília, nesta quarta-feira (30)
Presidente Dilma Rousseff participa de reunião com juristas no Palácio do Planalto, em Brasília, nesta quarta-feira (30)(Adriano Machado/Reuters)
A presidente Dilma Rousseff promoverá nesta quinta-feira o quarto ato político seguido contra o impeachment nas dependências do Palácio do Planalto. Ela receberá em Brasília um grupo de artistas e intelectuais. Nas últimas três semanas, Dilma transformou a sede da Presidência da República em uma espécie de bunker petista: abriu as portas a dezenas de militantes de movimentos sociais, estudantis e sindicais umbilicalmente ligados ao partido. São os mesmos que integram os coletivos de esquerda Frente Brasil Popular e Frente Povo Sem Medo e promovem manifestações nas ruas em prol de Dilma, dissimuladas pela veste de "defesa da Democracia". Eles estiveram presentes como convidados nos três primeiros atos de março no palácio presidencial e interromperam as cerimônias, aos gritos, com o mantra "Não vai ter golpe". Nesses eventos, confundem-se o palanque político e a cerimônia oficial. Dilma cede a estrutura e os meios de comunicação da Presidência para difundir não informações do governo, mas argumentos e opiniões dos defensores de seu mandato, além de ataques ao juiz Sérgio Moro e à Operação Lava Jato. Eles se revezam ao microfone no púlpito com o Brasão da República. Há transmissão ao vivo na TV pela NBR e ampla cobertura do Blog do Planalto e perfis do governo federal nas redes sociais. O primeiro ato foi a posse (suspensa pelo Supremo Tribunal Federal) do ex-presidente Lula como ministro da Casa Civil, no dia 17 de março. O segundo, a manifestação de advogados de esquerda, professores de direito e magistrados chapa-branca, batizados de juristas pelo marketing governista, no último dia 22. O terceiro, o lançamento da nova fase do Minha Casa, Minha Vida nesta quarta-feira com entidades organizadas de moradia popular. Em todos os casos, a impressão de quem assiste é de amplo apoio a Dilma sob o teto palaciano, uma clara dissintonia com a realidade - conforme mostrou a recente pesquisa Ibope, 82% desaprovam Dilma. (Felipe Frazão, de Brasília)

Ministros do PMDB tentam permanecer no governo, mas Dilma pode oferecer cargos a outros partidos

A senadora Kátia Abreu
Planalto avalia retorno da ministra Katia Abreu (PMDB) ao Congresso(Alan Marques/Folhapress)
Um dia depois de o PMDB ter desembarcado oficialmente do governo, ministros peemedebistas insistem em permanecer nos cargos de primeiro escalão, mas devem enfrentar processos no Conselho de Ética do partido caso permaneçam na equipe da presidente Dilma Rousseff. A contabilidade que está sendo feita envolve a representatividade das pastas comandadas por peemedebistas e o poder de influência que cada ministro teria para articular votos contrários ao processo de impeachment.
Embora a ministra da Agricultura Kátia Abreu (PMDB) tenha trocado mensagens nesta quarta garantindo a permanência dela e de mais cinco peemedebistas na Esplanada dos Ministérios, o Palácio do Planalto analisa as vantagens de manter os aliados em cargos-chave e a eficiência deles caso retomem os mandatos no Congresso. Se deixar o ministério, como exigem caciques peemedebistas, ela poderia voltar ao Senado, onde tem ampla influência sobre os quase 200 parlamentares da bancada ruralista de senadores e deputados. De volta ao Congresso, mesmo que no PMDB, poderia atuar como uma líder informal contra o impeachment. No Twitter, ela admitiu que deixou a presidente "à vontade caso ela necessite de espaço para recompor sua base. O importante é que na tempestade estaremos juntos".
Originalmente, Kátia Abreu cogitava a possibilidade de se licenciar do partido para continuar no cargo no Executivo, mas ela foi informada de que o estatuto do PMDB não permite licença nesses casos. Interlocutores do vice-presidente Michel Temer afirmam que quem ficar no ministério sofrerá processo no Conselho de Ética do partido e poderá ser expulso. Mas as decisões sobre o destino dos ministros peemedebistas que insistem em permanecer no governo serão tomadas apenas depois de muita conversa exatamente para medir os possíveis estragos de uma ruptura com ministros com maior capilaridade política no Congresso. A própria Kátia insiste em permanecer no ministério e desafia nos bastidores o PMDB a abrir um processo contra ela. Ela estimula os demais reticentes a fazerem o mesmo. Daí o motivo de ter verbalizado que continuará no governo.
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Depois do desembarque do partido, outra avaliação feita pelo PMDB e pelo Planalto é a de que, enquanto os titulares da Saúde, Marcelo Castro, e de Ciência e Tecnologia, Celso Pansera, são considerados detentores de menor influência sobre os correligionários, o amazonense Eduardo Braga, que ocupa a pasta de Minas e Energia, e o ministro Helder Barbalho, da Secretaria de Portos, precisam ser alvo de conversas específicas para que o destino no partido ou no governo seja selado de vez. Ex-líder do governo, Braga é próximo da presidente Dilma, enquanto Jader Barbalho, pai de Helder, tem forte influência no PMDB e poderia ser crucial ao angariar apoios contra o processo de impeachment.
Nesta terça-feira, o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL), que já havia sediado a reunião que selou a estratégia de o partido deixar, por aclamação, a base de apoio do governo petista, recebeu os ministros Eduardo Braga, Kátia Abreu, Marcelo Castro e Helder Barbalho para discutir como eles poderiam burlar a regra estabelecida pelo PMDB de deixar os cargos de confiança do governo.
"Eles conversaram externando um ponto de vista. Não havia consenso entre eles. Eles ficaram de conversar hoje com a presidente da República e definir com ela o que é que vão fazer", relatou Renan Calheiros. "Eles próprios não tinham ainda definido o que fariam e ficaram de conversar com a presidente da República, que é ao final e ao cabo a quem cabe dizer se eles vão ficar ou sair", completou ele.
Publicamente, Calheiros evitou falar em "apego exagerado" dos ministros peemedebistas ou mesmo na postura deles de não "largar o osso". Em vez disso, afirmou que o desembarque do PMDB do governo Dilma pode influenciar os demais partidos da base aliada. "Estamos vivendo um momento conturbado da vida nacional e o PMDB tem uma responsabilidade muito grande. Qualquer movimento que o PMDB fizer vai influir nos outros partidos", declarou.

Na comissão do impeachment, juristas acusam Dilma: ‘Sobram crimes de responsabilidade’

Juristas Janaína Paschoal e Miguel Reale em audiência pública da Comissão Especial do Impeachment, nesta quarta-feira (30) que analisa o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, juntamente com o também jurista Hélio Bicudo. Os três assinam a denúncia de suposto crime de responsabilidade de Dilma com base nas chamadas “pedaladas fiscais''
Juristas Janaína Paschoal e Miguel Reale em audiência pública da Comissão Especial do Impeachment, nesta quarta-feira (30) que analisa o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, juntamente com o também jurista Hélio Bicudo. Os três assinam a denúncia de suposto crime de responsabilidade de Dilma com base nas chamadas “pedaladas fiscais''(Pedro Ladeira/Folhapress)
Em sessão tumultuada, os juristas que apresentaram denúncia contra a presidente Dilma Rousseff prestaram depoimento nesta quarta-feira à comissão do impeachment. Aos deputados, o ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior e a advogada Janaína Paschoal acusaram a presidente da República de recorrer a expedientes que configuram tanto o crime de responsabilidade quanto crimes comuns ao maquiar os cofres públicos e fazer promessas durante a campanha eleitoral que, por causa do déficit fiscal, não poderiam ser cumpridas. "Crime não é apenas pôr a mão no bolso do outro e tirar dinheiro. Crime também é eliminar as condições desse país de ter desenvolvimento, cuja base é a responsabilidade fiscal", disse Reale Júnior.
Os juristas são autores da denúncia que deu início ao processo de impeachment de Dilma. O fundador do PT, Hélio Bicudo, também assina o documento. Ele não compareceu à sessão nesta quarta, mas esteve representado por sua filha, Maria Lúcia.
Os autores da ação acusam a presidente de infringir a lei brasileira em ao menos três momentos: na prática das chamadas pedaladas fiscais, já condenada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), na edição de decretos financeiros sem a autorização do Congresso, o que é proibido, e no comportamento "omisso-doloso" de Dilma no episódio do escândalo do petrolão. "Eu tenho visto várias frases que dizem que impeachment sem crime é golpe. Essa frase é verdade. A questão é que estamos diante de um quadro que sobram crimes de responsabilidade", afirmou a advogada Janaína Paschoal.
"Foi necessário baixar decretos não autorizados, abrindo credito não autorizado, quando se sabia que o superávit não era real. Foi necessário lançar mão de pedaladas fiscais porque do outro lado estava acontecendo uma sangria. Isso tudo é um conjunto de uma mesma situação que, ao meu ver como eleitora, como cidadã brasileira, mostra que nós fomos vítimas de um golpe. Para mim, vítima de golpe fomos nós", continuou Paschoal.
De forma didática, Reale Júnior comparou as maquiagens feitas no orçamento a um cheque especial. "As pedaladas fiscais se constituíram num expediente malicioso por via do qual foi escondido o déficit fiscal que transformaram despesa em superávit. Falseou-se o superávit primário, falseou-se a existência de uma capacidade fiscal que o país não tinha", disse o ex-ministro da Justiça. "É tal como um cheque especial: jogou-se para frente uma imensa dívida que só com relação às pedaladas fiscais alcançou 40 bilhões de reais. Essas dívidas não foram registradas. Isso constitui crime de falsidade ideológica, que é omitir declaração juridicamente importante", continuou, reforçando que a prática continuou acontecendo em 2015, ou seja, no atual mandato de Dilma.
"O que aconteceu é que de repente percebeu-se que o Estado estava falido. E a consequência foi emissão de títulos e aumento dos juros que tinham sido artificialmente reduzidos. Esse aumento levou a um processo inflacionário, a uma redução da atividade econômica, e o que é pior de tudo, levou à expectativa de mudança (...) à perda da confiança e da credibilidade. Sequestraram a nossa esperança", continuou Reale Júnior.
Ao fim das explanações, os juristas foram aplaudidos de pé por deputados pró-impeachment. Eles ergueram, ainda, cartões vermelhos que carregavam a frase "impeachment já". Parlamentares governistas, por outro lado, acusaram os autores de denúncia de transformarem a comissão em um comício político.
Nesta quinta-feira, será a vez de depoentes ligados ao governo prestarem esclarecimentos. Participarão da comissão o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, e o professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro Ricardo Lodi Ribeiro.

quarta-feira, março 30, 2016

Jaques Wagner: relação com Temer fica 'interditada'

Jaques Wagner, ministro-chefe do Gabinete da Presidência
Jaques Wagner, ministro-chefe do Gabinete da Presidência, fala sobre saída do PMDB do governo(Evaristo Sa/AFP)
O Planalto escalou o ministro-chefe do Gabinete da Presidência Jaques Wagner para falar nesta terça-feira sobre o rompimento do PMDB com o governo. Para o ministro, o desembarque deixa a relação entre a presidente Dilma Rousseff e o vice Michel Temer "interditada". "(Será) uma relação educada. Mas politicamente interditada", afirmou.
Sem citar o vice, Wagner questionou a legitimidade de um governo do peemedebista, que assume o poder em caso de impeachment de Dilma. "Se alguém com 54 milhões de votos já tem dificuldade, alguém que não tem pode ter ainda mais dificuldade." O ministro ainda ironizou a rapidez do encontro do partido de Temer, que durou menos de quatro minutos: "Eu não sei o que o PMDB queria, talvez um título no Guinness Book".
Governo - Apesar da perda do apoio do maior partido do Congresso - e do temor de uma debandada na base -, o ministro afirmou que a decisão do ex-aliado "chega em uma boa hora e oferece a Dilma espaço para a repactuação do governo".
Wagner disse que o governo vai redistribuir para outros partidos da base os cargos ocupados pelo PMDB, que comandava sete ministérios, e acrescentou que os novos acertos devem acontecer até sexta-feira. "Sai um aliado de longa data, mantêm-se outros", afirmou ele.
O governo aguarda para os próximos dias os pedidos de demissão dos peemedebistas Mauro Lopes, da Aviação Civil, Hélder Barbalho, da Secretaria de Portos, e de Eduardo Braga, das Minas e Energia. Os ministros da Saúde, Marcelo Castro, da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera, e da Agricultura, Kátia Abreu, pretendem ficar no governo. Jaques Wagner afirmou que nenhum dos ministros do PMDB falou com a presidente nesta terça.
(Com Reuters e Estadão Conteúdo)

PMDB deixa o governo Dilma aos gritos de 'Fora, PT'

Reunião que marca a saída do PMDB do governo é comandada pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR), vice-presidente do partido - 29/03/2016
Reunião que marca a saída do PMDB do governo é comandada pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR), vice-presidente do partido - 29/03/2016(PMDB/Facebook)
Vislumbrando a possibilidade de assumir o Palácio do Planalto, o PMDB sacramentou nesta terça-feira o fim da aliança com a presidente Dilma Rousseff. O partido, que estava havia mais de uma década na órbita do governo petista, decidiu abandonar Dilma em seu mais crítico momento político e agora tenta, nos bastidores, usar da crise como um trampolim para chegar ao poder.
A reunião do diretório nacional foi comandada pelo senador Romero Jucá (RR) e se deu a toque de caixa: durou exatos quatro minutos. Ao abrir a cerimônia, Jucá lembrou a convenção do último dia 12 de março, quando o PMDB definiu que iria discutir o desembarque em até 30 dias, e colocou em votação moção apresentada pelo diretório da Bahia, que pedia o rompimento com o governo. A proposta foi aprovada aos gritos e aplausos: "O PMDB se retira da base do governo da presidente Dilma Rousseff e ninguém está autorizado a exercer qualquer cargo federal em nome do partido PMDB", anunciou o senador. Em seguida, peemedebistas gritaram "Fora, PT" e cantaram o Hino Nacional.
Entre os caciques do PMDB, a avaliação é que, mesmo tendo se beneficiado no passado em momentos menos tortuosos do governo Dilma Rousseff, "o político não pode afundar junto com o governo". A debandada peemedebista, gestada há meses por um insatisfeito Michel Temer, escancara a estratégia de tentar se descolar do processo de impeachment, que avança a passos largos na Câmara dos Deputados, e garantir sobrevida, ainda que momentânea, ao partido que gravita na órbita do PT desde a ascensão de Lula ao Palácio do Planalto. "Não podemos ser reféns do governo", disse um cacique peemedebista. Nas palavras de um peemedebista, não é possível haver solidariedade se isso significar "suicídio político".
Internamente, também amplia o quadro de esgarçamento da relação PT-PMDB a percepção de peemedebistas de que o governo de Dilma Rousseff não tem condições de controlar o avanço da Lava Jato, operação que promete jogar por terra mandatos de ilustres políticos do partido. Estão atolados em denúncias de corrupção nomes de proa da sigla, como os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), e do Senado, Renan Calheiros (AL), os senadores Jader Barbalho (PA), Romero Jucá (RR) e Valdir Raupp (RO). O próprio vice-presidente Michel Temer apareceu recentemente como citado na delação premiada do ex-líder do governo no Senado Delcídio do Amaral.
Mesmo com o desmoronamento da massa de apoio ao cambaleante governo Dilma, alguns ministros indicados pelo partido opunham-se em abrir mão do cargo. O titular de Minas e Energia, Eduardo Braga, ex-líder do governo e um dos peemedebistas mais próximos da presidente, resistiu, mas depois entendeu que precisava deixar o cargo. Alvo da Operação Lava Jato, o ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves e um dos mais próximos do vice Michel Temer abriu a fila dos demissionários ao entregar nesta segunda-feira a Pasta do Turismo. Alves perde o foro e, se as investigações contra ele avançarem no petrolão, pode ter seu caso analisado pelo juiz federal Sergio Moro, de Curitiba. "Ele chorou menos desta vez", disse um aliado ao descrever a decisão do chefe do Turismo de abrir mão da pasta.
Também entre os ministros peemedebistas reticentes em abandonar o governo, uma das possibilidades é que políticos com cargos majoritários, como a senadora e ministra da Agricultura, Kátia Abreu, deixem a legenda ou pelo menos se licenciem para manter o posto na Esplanada. Situação semelhante ocorre com o ministro da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera, que disse ter pedido ontem à presidente Dilma e ao vice Michel Temer para continuar à frente do posto executivo.
O PMDB representa hoje as duas maiores bancadas no Congresso Nacional e era tido pelo Planalto como o contrapeso ao processo de impeachment. Além de não contar mais com a legenda, o governo deve amargar um efeito avassalador do desembarque peemedebista: o abandono de outros aliados, como o PP, PSD e PR, que esperavam a decisão do PMDB para chancelar a saída da base governista.

Depois de 33 anos, Walter Pinheiro deixa o PT

O senador Walter Pinheiro
O senador Walter Pinheiro(Agência Senado/VEJA)
No dia em que o PMDB anunciou seu rompimento com o governo federal, o senador Walter Pinheiro, um dos fundadores do PT, pediu nesta terça-feira ao diretório regional da Bahia e ao Tribunal Regional Eleitoral sua desfiliação do partido. Ele estava na sigla há 33 anos e nos últimos tempos havia decidido adotar uma posição de independência em relação ao governo Dilma Rousseff, o que acabou gerando atrito com demais quadros petistas. (Laryssa Borges, de Brasília)

Comissão do impeachment marca audiências e governo tenta adiar prazos

Sessão da comissão especial encarregada de analisar o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados - 22/03/2016
Sessão da comissão especial encarregada de analisar o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados(Marcelo Camargo/Agência Brasil)
O comando da comissão do impeachment agendou para esta semana audiências com testemunhas de acusação e de defesa da presidente Dilma Rousseff, entrando na última fase antes de a petista se manifestar oficialmente sobre as denúncias de que cometeu crime de responsabilidade fiscal. Aliados da presidente tentam a todo custo frear o avanço dos trabalhos e adiar as oitivas.
A previsão é que termine na próxima segunda-feira o prazo para que Dilma apresente sua defesa aos deputados. Em seguida, o relator Jovair Arantes (PTB-GO) tem até cinco sessões para apresentar seu parecer final determinando se a presidente deve ou não perder o mandato. O plenário da Câmara vai julgar o relatório de Arantes e a denúncia, então, segue para análise do Senado.
Na sessão desta terça-feira, foi acordado que os próximos dias da comissão serão dedicados a oitivas ligadas à acusação e à defesa. Nesta quarta, devem comparecer à Câmara dos Deputados os juristas Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal, autores do pedido de impeachment de Dilma. Já na quinta-feira será a vez de governistas darem explicações. O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) designou o ministro Nelson Barbosa (Fazenda) e o professor de direito Ricardo Lodi Ribeiro para falarem em defesa de Dilma.
Em uma tentativa de segurar os trabalhos da comissão, que tem acompanhado o aprofundamento da crise política, aliados de Dilma se uniram para adiar as oitivas. Paulo Teixeira chegou a apresentar um questionamento sobre os ritos adotados na comissão, já chancelados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e argumentou que as audiências somente poderiam ocorrer após a conclusão do prazo de defesa. Dessa forma, os trabalhos da comissão desta semana ficariam inviabilizados.
Presidente do colegiado, o deputado Rogério Rosso (PSD-DF) lembrou que nesta segunda esteve em audiência com ministros do STF e que não houve questionamentos sobre os trâmites adotados na comissão. "É salutar, importante e democrático que esta comissão tenha a possibilidade de convidar pessoas e técnicos para esclarecimentos da denúncia", disse, rejeitando o adiamento das oitivas.
Outra aliada de Dilma, a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) propôs o congelamento da comissão até que a presidente se manifeste formalmente sobre as acusações. Rogério Rosso ficou de se manifestar sobre a questão de ordem em um "momento oportuno". Os deputados Wadih Damous (PT-RJ) e Pepe Vargas (PT-RS) também ingressaram com questionamentos sobre o rito das audiências.

terça-feira, março 29, 2016

Henrique Alves pede exoneração do Ministério do Turismo

Presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves
Henrique Eduardo Alves entregou o cargo de ministro do Turismo a Dilma Rousseff(Pedro França/Agência Senado/VEJA)
O ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), pediu exoneração do cargo na tarde desta segunda-feira. Ex-presidente da Câmara e próximo do vice-presidente Michel Temer, Alves enviou à presidente Dilma Rousseff uma carta em que anuncia sua saída da pasta, ato que inaugura a debandada dos ministros do PMDB do governo da petista.
No documento enviado à presidente, Henrique Alves afirma que "o momento nacional coloca agora o PMDB, o meu partido há 46 anos, diante do desafio maior de escolher o seu caminho, sob a presidência do meu companheiro de tantas lutas, Michel Temer". O agora ex-ministro diz que sempre prezou pelo diálogo com o governo, "que - lamento admitir - se exauriu".
O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), afirmou hoje que Temer e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fecharam um acordo para que os ministros do partido entreguem os cargos na convenção marcada para a tarde de amanhã.
Eunício, que também é tesoureiro da legenda, participou do encontro dos dois realizado há pouco na residência oficial de Renan. O líder peemedebista ressaltou que, com a decisão, os cargos ficarão à disposição da presidente Dilma Rousseff e não poderão ser mais considerados cota do partido no governo.
Até a saída de Henrique Alves, o PMDB ocupava sete pastas na Esplanada dos Ministérios. Segundo o senador cearense, a tendência é que não haja nenhum prazo extra para que os ministros devolvam os postos. "Se ficar (no cargo), estará na cota pessoal da presidente", explicou Eunício. Os ministros de Minas e Energia, Eduardo Braga, e da Saúde, Marcelo Castro, seriam os dois peemedebistas que mais resistem a devolver os cargos.
A tendência é que a decisão de desembarque do partido do governo Dilma ocorra por aclamação.
(com Estadão Conteúdo)

Delatora diz que recebeu R$ 6,1 mi ilegalmente da campanha de Dilma

Presidente Dilma Rousseff comparece em reunião com juristas contra o impeachment, no Palácio do Planalto, em Brasília, nesta terça-feira (22)
Presidente Dilma Rousseff comparece em reunião com juristas contra o impeachment, no Palácio do Planalto, em Brasília, nesta terça-feira (22)(Evaristo Sa/AFP)
Em depoimento prestado no âmbito de seu acordo de delação premiada firmado com o Ministério Público Federal (MPF) e o STJ, a publicitária Danielle Fonteles, sócia da Agência Pepper, admitiu ter recebido 6,1 milhões de reais ilegalmente da empreiteira Andrade Gutierrez por serviços prestados à campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010. As informações são do jornal Folha de S. Paulo.
A revelação de Danielle, uma das investigadas na Operação Acrônimo, confirma o trecho da delação premiada de Otávio Azevedo, ex-presidente da empreiteira, em que ele relata pagamentos ilegais de 6 milhões de reais à agência de publicidade por meio de contratos simulados.
De acordo com o jornal, Danielle também corroborou depoimentos de outros executivos da empreiteira ao apontar a influência do governador mineiro Fernando Pimentel (PT) no fechamento dos contratos fictícios com a Andrade Gutierrez. Ainda segundo a Folha, a publicitária relatou ter usado dinheiro da empreiteira para bancar despesas de campanha da presidente em 2010, como pagamentos a funcionários do comitê eleitoral.
Danielle também admitiu o recebimento de 717.000 reais da construtora OAS em 2014 por serviços prestados à campanha que elegeu Rui Costa (PT) ao governo da Bahia.
Uma agência petista - A Pepper Interativa é uma agência de comunicação que presta serviços ao PT. Em 2010, desempenhou papel decisivo na campanha de Dilma à presidência, quando fez de tudo um pouco: da produção de conteúdo e organização da militância nas redes sociais ao pagamento, com dinheiro vivo, do aluguel do imóvel de luxo que servia de bunker para a coordenação petista. De coadjuvante, a Pepper passou a protagonista, tornando-se uma ferramenta imprescindível para a solução de vários problemas. Vitorioso na eleição, o PT retribuiu a ajuda recebida e garantiu à agência contratos milionários custeados com recursos públicos.

OAB oficializa novo pedido de impeachment de Dilma

Confusão no Salão Verde da Câmara dos Deputados, em Brasília, entre manifestantes favoráveis à presidente Dilma Rousseff e integrantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) - 28/03/2016
Confusão no Salão Verde da Câmara dos Deputados, em Brasília, entre manifestantes favoráveis à presidente Dilma Rousseff e integrantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) - 28/03/2016(Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)
Sob protestos de militantes do PT arregimentados por deputados do partido, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) protocolou na tarde desta segunda-feira na Câmara dos Deputados um novo pedido de impeachment da presidente da República Dilma Rousseff. A documentação será encaminhada para a apreciação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Quando chegou à Câmara portando os seis volumes que em 1.453 páginas compõem o pedido de impeachment, o presidente da OAB, Claudio Lamachia, foi recebido com protestos e vaias de servidores petistas e militantes da União da Juventude Socialista (UJS), um dos movimentos sociais que apoiam o governo Dilma. Alvo de tentativas de agressão, Lamachia foi isolado dentro do elevador privativo dos deputados. Ele chegou à Câmara acompanhado de presidentes das 27 seccionais da OAB e de 81 conselheiros federais. Um advogado recebeu chutes, fora da Câmara, desferidos por militantes estudantis defensores do governo. Militantes e advogados também trocaram tapas e xingamentos nos corredores da Câmara.
Por causa do tumulto, Lamachia não conseguiu chegar até a seção de protocolo da Câmara e entregou a denúncia contra Dilma ao secretário-geral da Mesa Diretora, Silvio Avelino da Silva. A OAB optou por não protocolar o documento na Presidência da Câmara - Lamachia disse que não se encontrou com Cunha por defender o afastamento do peemedebista, réu na Lava Jato, e que não reconhece legitimidade no parlamentar, também processado no Conselho de Ética da Casa.
"A sociedade e a OAB esperam celeridade na apuração de todos esses fatos e que este ódio que está instalado diminua. Não podemos colocar uma classe contra a outra. Vivemos num Estado Democrático de Direito e a nossa democracia tem que ser respeitada", disse Lamachia.
No início da tarde desta segunda-feira, os deputados Paulo Pimenta (PT-RS) e Elvino Bhon Gass (PT-RS) andavam pelos corredores da Câmara acompanhados de servidores comissionados e militantes com faixas e gritos contra o impeachment. O grupo era integrado, entre outros, pelo agitador petista Rodrigo Grassi, o Pilha, ex-assessor da deputada Erika Kokay (PT-DF) com longa ficha na Polícia Legislativa, o grupo gritava "Não vai ter golpe" e "A OAB apoiou a ditadura". Advogados responderam com gritos de "Justiça" e entoaram o Hino Nacional.
Mais cedo, Lamachia recebeu na sede da OAB em Brasília um grupo de advogados que discorda do apoio ao impeachment e cobrava uma consulta nacional a todos os integrantes da ordem. Eles protestaram com cartazes em frente ao prédio da OAB. "Isso deve ser encarado como uma divergência, não como um racha na OAB", ponderou o presidente da entidade.
Condutas - A nova denúncia por crime de responsabilidade tem por base, além das pedaladas fiscais de 2014 e 2015, a tentativa de nomear o ex-presidente Lula como ministro da Casa Civil para blindá-lo (com foro privilegiado) de um pedido de prisão preventiva, acusações da delação premiada do senador e ex-líder do governo Dilma Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) e a renúncia fiscal em favor da FIFA na Copa do Mundo de 2014. Para a OAB, crimes de responsabilidade do mantado anterior podem ser considerados no atual, uma vez que Dilma foi reeleita.
Os advogados também entenderam que o Executivo tentou interferir na Lava Jato por meio de pressão a ministros do Superior Tribunal de Justiça, conforme delatou Delcídio.
No último dia 18, o conselho federal da OAB aprovou em plenário, após mais de dez horas de reunião, o apoio ao impeachment da presidente por 26 votos a 2 - os únicos contrários foram do membro honorário Marcelo Lavenère, representante de ex-presidentes, e da seccional do Pará.
O presidente da OAB afirmou que a decisão foi democrática, tomada pelos representantes eleitos das 27 seccionais e que portanto não há divisão na entidade. "A OAB envolveu mais de 5.000 dirigentes da Ordem e os 27 Estados. A decisão é absolutamente técnica", disse Lamachia. "A questão política e partidária, as ideologias não nos pertencem. A OAB não é do governo e não é da oposição."
Na semana passada, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), havia dito que não despacharia de imediato o pedido da OAB, entidade com a qual sempre travou batalhas particulares durante sua trajetória como deputado - Cunha é, por exemplo, ferrenho defensor do fim do exame da ordem. Lamachia disse que caberá aos parlamentares apreciar as questões técnicas e decidir a conveniência de se apensar ou não a nova denúncia ao processo já em tramitação no Legislativo, ajuizado pelos juristas Miguel Reale Jr, Hélio Bicudo e Janaina Paschoal.

Governo só reúne 5 senadores em encontro da base

O ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, participa de audiência pública na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados, em Brasília - 29/04/2015
Ricardo Berzoini, ministro da Secretaria de Governo(Evaristo Sá/AFP)
Na véspera do desembarque do PMDB, o ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, conduziu uma reunião de líderes do Senado esvaziada no Palácio do Planalto. Apenas cinco senadores compareceram, três deles do PT. Além dos petistas, participaram do encontro Vanessa Grazziotin (PC do B-AM) e Wellington Fagundes (PR-MT).
O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), foi um dos ausentes. Integrantes de outros partidos da base aliada como o PDT, o PP e o PR também não compareceram. O grande temor do governo é que a decisão do PMDB cause uma debandada e faça com que os outras legendas também optem por abandonar o governo.
(Com Estadão Conteúdo)

segunda-feira, março 28, 2016

No último esforço, Dilma convoca ministros do PMDB

Dilma: não desiste nunca
Dilma: não desiste nunca
A presidente Dilma Rousseff deve fazer nesta segunda-feira uma derradeira tentativa de conter o desembarque do PMDB, previsto para o dia seguinte.
Ela pediu que ministros do partido cancelassem a agenda e viagens para recebê-los pela manhã. Os próprios governistas, no entanto, dizem que a margem de manobra que têm se estreitou muito depois que até diretórios antes firmes no apoio a Dilma, como o do Rio, aderiram à debandada.

Divisão do PSDB se acirra em meio à crise

ALTO TUCANATO - Alckmin, Serra, FHC e Aécio: o desafio é transformar uma “reunião de caciques” num partido político
ALTO TUCANATO - Alckmin, Serra, FHC e Aécio: o desafio é transformar uma “reunião de caciques” num partido político(JULIANA FLISTER/Estadão Conteúdo)
Principal partido de oposição ao governo da presidente Dilma Rousseff, o PSDB chega ao momento decisivo do processo de impeachment no Congresso assombrado pelo espectro da divisão interna e pelos desdobramentos da Operação Lava Jato, além de estar seriamente ameaçado de perder o protagonismo na disputa contra a petista.
Enquanto os senadores Aécio Neves (MG), presidente do partido, e José Serra (SP) disputam o protagonismo da transição (e reeditam a antiga rivalidade), o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, explodiu as pontes com os caciques tucanos de São Paulo, Estado que é o berço político e a principal base do PSDB.
Serra é o principal canal de comunicação do PSDB com o vice-presidente Michel Temer (PMDB). O tucano paulista tem defendido a ajuda do partido a um eventual governo do peemedebista. Mas Aécio apresenta resistência. O senador mineiro, no entanto, vem sendo citado em novas delações da Lava Jato e terá de se dedicar nos próximos dias a elaborar sua defesa, deixando um pouco de lado as articulações políticas.
Na semana passada, Aécio disse que o PSDB não deve discutir cargos com Temer e recomendou cautela ao partido. O problema para os tucanos é que o impeachment avança e o PSDB começa a perder espaço no processo para as alas rebeldes do PMDB, para o DEM e para o PPS.
"Aécio precisa ser cuidadoso com o que fala, pois é presidente do partido", afirmou o ex-deputado José Aníbal, presidente do Instituto Teotônio Vilela, braço de elaboração teórica do PSDB. "Quando se agrava a situação, as lideranças precisam ampliar o foco", conclui. O "foco" ao qual ele se refere são as pretensões eleitorais dos dois rivais internos: o Palácio do Planalto em 2018.
É nesse ponto que entra o terceiro elemento de instabilidade no ninho tucano. A decisão de Alckmin de patrocinar politicamente a pré-candidatura do empresário João Doria à Prefeitura de São Paulo foi uma declaração de guerra aberta ao grupo de Serra e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que apoiaram o vereador Andrea Matarazzo nas prévias do partido.
A leitura do racha paulista é a mesma em todas as alas do PSDB: Alckmin tentará ampliar sua influência na máquina partidária nacional para se viabilizar como presidenciável. Se não conseguir furar o bloqueio de Aécio, que preside a legenda, ele mudará de partido, provavelmente para o PSB. No atual cenário, entretanto, Alckmin está "preso" a São Paulo e à liturgia do cargo, e não tem como fazer frente a Serra e Aécio na arena nacional.
Se persistir o impasse entre os dois senadores, a decisão final será tomada pela executiva nacional do PSDB, algo que seria inédito na história do partido e sintomático da divisão interna. "Quando o impeachment passar na Câmara, esse debate vai aflorar nas instâncias partidárias", disse o deputado Jutahy Junior (BA), que é próximo a Serra.
"O PSDB enfrentou esse dilema (participar ou não do governo) duas vezes e tomou a decisão certa em ambas", lembra o deputado Bruno Araujo (PE), um dos vice-presidentes do partido.
Nos dois casos, porém, o cenário era muito diferente. Em 1992, o então senador Fernando Henrique Cardoso foi convidado para integrar o ministério do presidente Fernando Collor e estava disposto a aceitar a missão. Principal líder do partido à época, Mário Covas vetou a movimentação do aliado.
Após o impeachment de Collor, porém, FHC foi ministro das Relações Exteriores e ministro da Fazenda de Itamar Franco. Tucanos lembram que no primeiro caso havia uma liderança incontestável e no segundo, um consenso. Dessa vez não há nenhum dos dois elementos.
(Com Estadão Conteúdo)

OAB: tese do governo sobre impeachment ofende STF


O presidente da OAB, Cláudio Pacheco Prates Lamachia
O presidente da OAB, Cláudio Pacheco Prates Lamachia(Valter Campanato/Agência Brasil)
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Claudio Lamachia, interpreta como uma agressão ao Supremo Tribunal Federal (STF) a tese do Palácio do Planalto de que há um "golpe" em curso no país para destituir a presidente Dilma Rousseff. A entidade irá entregar na segunda à Câmara um novo pedido de impeachment da presidente. O documento de 43 páginas defende que a petista deve perder o mandato e ser declarada inelegível por oito anos sob acusação de crime de responsabilidade.
"Essa afirmação do governo, com tanta frequência, de que há um golpe em curso me parece ofensiva ao próprio Supremo Tribunal Federal. Se dizem que é golpe, então o Supremo, há poucos dias, regulamentou o golpe. Ou seja, tanto não é golpe que a instância máxima da Justiça, numa sessão histórica, regulamentou o procedimento de impeachment. Isso acaba com a ladainha de golpe", declarou Lamachia.
Além das pedaladas fiscais, argumento central do pedido de impeachment que tramita em comissão especial na Câmara, as justificativas do pedido da OAB envolvem renúncias fiscais em favor da Fifa na Copa do Mundo de 2014 e a intenção de blindar o ex-presidente Lula, investigado na Operação Lava Jato, ao dar-lhe foro privilegiado com a nomeação à Casa Civil do governo Dilma.
O presidente da OAB enfatiza que a Constituição é clara, no artigo 85, quando define que o crime de responsabilidade se caracteriza quando o presidente viola o texto constitucional. A denúncia é subscrita por Lamachia e pelo relator do processo, Erick do Nascimento.
(Com Estadão Conteúdo)

sábado, março 26, 2016

Debandada do PMDB do Rio deve acelerar impeachment

Presidente Dilma Rousseff comparece em reunião com juristas contra o impeachment, no Palácio do Planalto, em Brasília, nesta terça-feira (22)
ABANDONADA – A presidente Dilma Rousseff no Planalto(Evaristo Sa/AFP)
O anúncio do PMDB fluminense de que pretende se afastar da presidente Dilma Rousseff abalou a ala governista do partido e também o Palácio do Planalto. Em sentido inverso, deu força ao grupo peemedebista pró-impeachment, que decidiu acelerar o trâmite do processo na Câmara dos Deputados. A previsão é votar o pedido de afastamento antes de 17 de abril. O Planalto teme o reflexo da debendada peemedebista nos demais partidos da base.
Aliados do vice-presidente Michel Temer afirmaram nesta sexta-feira ao jornal O Estado de S. Pauloque ele se prepara para assumir o governo em maio e, por isso, também intensificou nos últimos dias as articulações no mundo político e empresarial nesse sentido.
A intenção do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), manifestada a aliados, é aprovar o impeachment o mais rápido possível. O relator do pedido de afastamento na Comissão Especial, Jovair Arantes (PTB-GO), já teria, segundo apurou o Estado, avisado Cunha de que vai apresentar parecer favorável à saída de Dilma.
Cunha também não desistiu de incluir a delação do senador Delcídio Amaral (sem partido-MS) no pedido de impeachment que tramita na Comissão Especial e tem como base as pedaladas fiscais (manobras contábeis) da atual gestão.
A pressa e o otimismo dos peemedebistas pró-impeachment também se deve às dificuldades do Planalto e do PT em definir na Justiça a nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a Casa Civil. Sem o cargo e os poderes dele, Lula está praticamente impossibilitado de fazer a articulação com o PMDB e demais partidos da base. O petista, no entanto, recorreu ao Supremo em busca de recuperar o direito de assumir a pasta.
Neste sábado, Jorge Picciani conversará com o ministro de Ciência e Tecnologia, Celso Pansera, indicado para o primeiro escalão em negociação direta do líder Leonardo Picciani com a presidente. Pansera e Leonardo deverão votar contra o rompimento com o governo na reunião do diretório nacional do PMDB, marcada para a próxima terça-feira. "Leonardo está desconfortável com essa situação, vai refletir, ele tem de ouvir a bancada. Pansera também tem grande dificuldade. Acredito que teremos dois ou três votos contra, mas o rompimento é o sentimento majoritário do PMDB do Rio. Leonardo é muito disciplinado, está desde os 15 anos no PMDB e hoje tem 36. Ele vai respeitar o que foi decidido pela maioria do diretório nacional", afirmou.
O presidente do PMDB-RJ disse ter recebido pesquisa do instituto GPP encomendada pelo diretório regional que apontou que 80,4% dos entrevistados no Estado foram contra a nomeação de Lula para a Casa Civil. "Não quero expressar minha opinião pessoal, o que digo é que estamos ouvindo a sociedade."
(Com Estadão Conteúdo)

Ex-deputado Pedro Correa cita Lula e ministro do TCU em delação

O ex-deputado Pedro Corrêa na CPI da Petrobras
O ex-deputado Pedro Corrêa (Vagner Rosario/VEJA)
O ex-deputado federal Pedro Correa, ex-presidente do PP, citou políticos da base do governo e da oposição, além de um ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), em sua delação premiada, que teve trechos divulgados nesta sexta-feira pelo jornal Folha de S. Paulo. A delação do ex-deputado tem pouco mais de 70 anexos, cada um com um tema. Em cinco anexos do acordo são citados os nomes da presidente Dilma Rousseff e, em outros cinco, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Um dos fatos apontados por Pedro Correa envolvendo o ex-presidente Lula é uma reunião entre os dois, o então ministro da Casa Civil José Dirceu, e José Eduardo Dutra, na época presidente da Petrobras. Nessa reunião, teria sido acertada a nomeação de Paulo Roberto Costa para o cargo de diretor da Petrobras. A informação havia sido adiantada por VEJA no ano passado.
De acordo com o relato, José Eduardo Dutra, que morreu no ano passado, era contra a nomeação mas Lula atuou a favor de Paulo Roberto Costa, que depois foi o primeiro delator da Operação Lava Jato. José Eduardo Dutra teria dito na reunião: "Mas Lula, eu entendo a posição do conselho. Não é da tradição da Petrobras, assim, sem mais nem menos, trocar o diretor". Lula teria respondido "Se fossemos pensar em tradição, nem você era presidente da Petrobras e nem eu era presidente da República".
Em outro anexo, intitulado "mesada de Augusto Nardes", ministro do TCU. Segundo a reportagem, Correa afirmou que, entre 2003 e 2005, quando Nardes era deputado federal pelo PP, ele estava entre os nomes da bancada da Câmara que recebiam propina arrecadada pelo deputado José Janene, morto em 2010, junto à Petrobras e a outros órgãos com diretorias indicadas pelo PP.
O ex-deputado também apresentou uma lista de operadores de propina, que incluiu o nome de Andrea Neves, irmã do senador Aécio Neves (PSDB-MG) e uma de suas principais assessoras, como a responsável por conduzir movimentações financeiras ligadas ao tucano.
A lista também traz nomes como Marcos Valério, operador do mensalão, e Benedito Oliveira, investigado na Operação Acrônimo, que apura suspeitas de irregularidades na campanha de Fernando Pimentel (PT) ao governo de Minas Gerais em 2014.
Ainda de acordo com a Folha, a delação tem um anexo sobre o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que tem como foco a votação que aprovou a emenda constitucional da reeleição em 1997. Conforme o relato, o o ex-presidente contou com apoio financeiro do empresariado para aprovar o projeto da reeleição.
O então presidente do conselho de administração do Banco Itaú, Olavo Setubal, morto em 2008, é um dos que teriam ajudado FHC. "Olavo Setubal dava bilhetes a parlamentares que acabavam de votar, para que se encaminhassem a um doleiro em Brasília e recebessem propinas em dólares americanos" diz o texto.
O jornal avalia que, apesar das revelações, há pouca prova documental apresentada pelo ex-parlamentar. Pedro Correa deve começar a prestar depoimentos e a apresentar as provas que tem a partir da semana que vem.
Resposta - Augusto Nardes afirmou ao jornal que o envolvimento seu envolvimento delação é "uma retaliação pela oposição que fazia dentro do PP". Acrescenta que foi candidato independente e não contou com o apoio de Pedro Correa.
O senador Aécio Neves afirmou que Andrea Neves, irmã dele, não conhece e jamais teve contato com Pedro Correa. O senador reforçou que repudia as falsas acusações mais uma vez repetidas sem indícios de comprovação. Já o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso classificou o relato como "ridículo".
O presidente do Itaú, Roberto Setúbal, disse ao jornal que fica "profundamente indignado" ao ver o nome do pai dele, Olavo Setúbal, "absurdamente envolvido numa história sem comprovações".
Já o Instituto Lula disse que não comenta falatórios e "quem quiser levantar suspeitas em relação a Lula que apresente provas.