quarta-feira, novembro 30, 2016

Indiozinho mascote da Chape vai a homenagens e entende tragédia aos poucos

  • Felipe Vita/UOL
    Carlos Miguel, 5 anos, costumava entrar em campo ao lado dos jogadores da Chape
    Carlos Miguel, 5 anos, costumava entrar em campo ao lado dos jogadores da Chape
A cabeça do menino Carlos Miguel Garcia teve dificuldades para processar a terça-feira de luto em Chapecó. Vestido de verde e exibindo um cocar enfeitado, o pequeno mascote de 5 anos contou com ajuda do pai para entender a tragédia que abateu o clube de coração. Os jogadores com quem costumavam entrar em campo não voltarão mais para o gramado da Arena Condá, no mesmo local onde o torcedor conciliava brincadeiras e perguntas sobre o acidente do time na Colômbia.
Em meio a homenagens no estádio da Chapecoense, em memória dos mortos no acidente em Medellín, Carlos Miguel corria pelo campo e perguntava ao pai "qual dos seus amigos tinha morrido".
"Por enquanto ele não tem muita noção do que está acontecendo. Me perguntou se um amigo dele tinha morrido, um diretor chamado Gélson. Eu levei ele até o Gélson e falei: 'viu, ele não morreu'. Quando os corpos chegarem acho que ele vai começar a ter noção", afirmou Alessandro Garcia, pai do mascote da Chapecoense.
Bruno Freitas/UOL
Para Alessandro Garcia, Carlos Miguel só compreenderá tragédia quando corpos da delegação chegarem a Chapecó
Segundo o pai, Carlos Miguel é fanático pela Chapecoense desde os 3 anos de idade. Nos últimos tempos, o garoto cumpre o papel que muitas crianças de Chapecó gostariam, principalmente na fase de destaque do time em cenário nacional e continental. O filho de Alessandro vinha entrando em campo em todos os jogos da equipe, menos na Sul-Americana, por causa do regulamento da competição.
Além da tarefa de conscientizar o filho sobre a tragédia área na Colômbia, Alessandro passou parte da tarde de terça-feira observando o gramado da Arena Condá, de forma contemplativa. Assim como muitos torcedores, que viam o time quase como uma extensão familiar, o pai do pequeno mascote dizia não acreditar estar vivendo este luto.
"É muito complicado. Ontem (segunda-feira) mesmo, antes da viagem, a gente estava aqui brincando com eles. Brinquei com um, com outro. Era um momento ótimo do time, era o segundo time de todo brasileiro na Sul-Americana. Uma tragédia", disse o torcedor.
A delegação da Chapecoense sofreu um acidente aéreo no final da noite de segunda (horário colombiano), quando chegava a Medellín, palco do jogo de ida da final da Copa Sul-Americana, contra o Atlético Nacional. Segundo as autoridades locais, 71 pessoas morreram na tragédia, entre jogadores, comissão técnica, diretoria e jornalistas. Três atletas sobreviveram e estão sob cuidados médicos (o zagueiro Neto, o lateral Alan Ruschel e o goleiro Jackson Follmann)

Cármen Lúcia reage à Câmara: ‘Não se calará a Justiça’

A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) lamentou, por meio de nota, a aprovação da proposta legislativa que prevê medidas de combate à corrupção venha a ameaçar a autonomia dos juízes do país. Segundo a ela, a emenda que prevê punição por abuso de autoridade praticado por magistrados e membros do Ministério Público “pode contrariar a independência do Poder Judiciário”.
Na nota, Cármen Lúcia afirma que “hoje, os juízes respondem pelos seus atos, na forma do estatuto constitucional da magistratura”.
Segundo a magistrada, a democracia depende de poderes fortes e independentes. “O Judiciário brasileiro vem cumprindo o seu papel. Já se cassaram magistrados em tempos mais tristes. Pode-se tentar calar o juiz, mas nunca se conseguiu, nem se conseguirá, calar a Justiça”, finalizou.

Petistas unidos contra juízes e procuradores

Andrés Sanchez, o único deputado petista contrário à emenda do abuso de autoridade
Descoberto pela Operação Lava Jato enquanto liderava o maior esquema de corrupção da história do país, o Partido dos Trabalhadores mal disfarçou a intenção de dar o troco no juiz federal Sergio Moro e na Força-Tarefa que conduz as investigações da operação. Dos 56 deputados federais petistas que votaram ontem a emenda que tipifica o abuso de autoridade de juízes e procuradores do Ministério Público, uma das distorções no pacote anticorrupção aprovadas na Câmara, nada menos que 55 foram favoráveis ao texto. A ovelha negra no PT foi o ex-presidente do Corinthians Andrés Sanchez (SP), também investigado na Lava Jato por suposta corrupção na construção do Itaquerão pela empreiteira Odebrecht. PMDB e PP, os principais sócios do PT no consórcio do petrolão, deram, respectivamente, 46 e 34 votos favoráveis à aprovação da emenda.

Lava Jato reage a mudanças nas ‘dez medidas’ e ameaça renúncia

A força-tarefa da Operação Lava Jato reagiu nesta quarta-feira à desfiguração pelo plenário da Câmara, nesta madrugada, das dez medidas contra a corrupção propostas pelo Ministério Público no ano passado.
Em entrevista coletiva no auditório da Procuradoria da República no Paraná, o chefe da equipe de procuradores da Lava Jato, Deltan Dallagnol, atacou a emenda que prevê a tipificação do abuso de autoridades por juízes, procuradores e promotores e disse que as investigações da Lava Jato podem acabar caso a “lei de intimidação”, como chama, for aprovada.
“Não será possível continuar trabalhando na Lava Jato se a lei da intimidação for aprovada”, afirmou o procurador, que classificou a medida aprovada pelos deputados federais como “o golpe mais forte efetuado contra a Lava Jato concretamente em toda a sua história”.
O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos principais integrantes da força-tarefa da Lava Jato, também disse que a operação pode parar caso a emenda seja aprovada e falou em “renúncia coletiva”. “Vamos renunciar coletivamente à Lava Jato caso essa proposta seja sancionada pelo presidente”, disse Santos Lima.
“Aproveitaram um projeto de combate à corrupção para se protegerem. O motivo é porque estamos investigando, estamos descobrindo fatos, iríamos chegar muito mais longe. O instinto é de preservação”, afirma o procurador.
A inclusão do abuso de autoridade no “pacote anticorrupção”, a partir de uma emenda da bancada do PDT, foi a primeira mudança aprovada na sessão. A emenda obteve o apoio de 313 deputados – muitos deles, enrolados no petrolão. Mais cedo nesta quarta-feira, Deltan Dallagnol já havia postado em seu perfil no Twitter que “está sendo aprovada a lei da intimidação contra promotores, juízes e grandes investigações”.
Citando a infame frase do senador e ex-ministro do Planejamento Romero Jucá (PMDB-RR) em conversa gravada com o ex-presidente da Transpetro e delator da Lava Jato Sérgio Machado, Dallagnol afirma que “o objetivo é estancar a sangria. Há evidente conflito de interesses entre o que a sociedade quer e o que o Parlamento quer. Se instala a ditadura da corrupção”.

Câmara desfigura pacote anticorrupção e inclui punição a juízes


Deputados aprovaram na madrugada desta quarta-feira uma série de medidas que desfiguram o pacote de medidas contra a corrupção proposto pelo Ministério Público Federal
Em uma votação que varou a madrugada desta quarta-feira, o plenário da Câmara aprovou uma série de mudanças no pacote de medidas contra corrupção proposto pelo Ministério Público Federal. Para o relator do projeto, deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), o pacote foi completamente desconfigurado.
Apesar de terem desistido de incluir no pacote a anistia à prática do caixa dois, os deputados incluíram medidas controvérsias e retiraram do textos propostas consideradas essenciais do projeto. O projeto seguirá agora para a apreciação do Senado.
“O objetivo inicial do pacote era combater a impunidade, mas isso não vai acontecer porque as principais ferramentas foram afastadas. O combate à corrupção vai ficar fragilizado e, com um agravante, que foi a essa intimidação dos investigadores”, disse o relator.
Ao final da votação, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defendeu o resultado e disse que se tratou de uma decisão “democrática do plenário”. “Mesmo que não tenha sido o que alguns esperavam, isso foi o que a maioria decidiu”, disse.
Desde que o projeto foi votado na comissão especial na semana passada, líderes partidários não esconderam o descontentamento com o relatório elaborado por Lorenzoni. Segundo os parlamentares, o projeto contemplava apenas os interesses do Ministério Público.
Na madrugada desta quarta, o chamado texto-base do projeto foi aprovadopraticamente por unanimidade, mas depois disso diversas modificações no projeto foram aprovadas. A primeira delas foi a inclusão no pacote da previsão de punir por crime de abuso de autoridade magistrados, procuradores e promotores. A emenda, que obteve o apoio de 313 deputados, foi vista como uma retaliação por membros da força-tarefa da Operação Lava Jato. Muitos dos que votaram a favor da medida são investigados por conta do esquema de corrupção da Petrobras.
Os deputados também incluíram a possibilidade de punir policiais, magistrados e integrantes do MP de todas as instâncias que violarem o direito ou prerrogativas de advogados. A emenda foi patrocinada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Entre as medidas que foram retiradas do texto está a criação da figura do “reportante do bem”, que era uma espécie de delator que não havia participado do esquema de corrupção, mas que contaria tudo o que sabia e seria premiado com até 20% dos valores que fossem recuperados.
Os deputados também retiraram do pacote a previsão de dar mais poder ao Ministério Público em acordos de leniência com pessoas físicas e jurídicas em atos de corrupção.
A Câmara derrubou ainda a responsabilização dos partidos políticos e dirigentes partidário por atos cometidos por políticos filiados às siglas. Outra medida suprimida foi a tipificação do crime de enriquecimento ilícito e das regras que facilitavam o confisco de bens provenientes de corrupção.
Do texto original enviado pelo Ministério Público Federal, foram mantidos no pacote apenas a criminalização do caixa dois de campanha eleitoral, o aumento de punição para crime de corrupção (com crime hediondo a partir de 10.000 salários mínimos, ou seja, mais de 8 milhões de reais), a transparência para tribunais na divulgação de dados processuais, limitação de recursos para protelação de processos e ação popular, este último incluído pelo relator no pacote.
(Com Estadão Conteúdo)

terça-feira, novembro 29, 2016

Ex-jogador Mário Sérgio e jornalistas da Fox estavam no voo

avião que caiu nesta terça-feira nas proximidades de Medellín levava, de acordo com a Chapecoense, 72 passageiros, além de nove tripulantes. Destes,21 eram profissionais de imprensa. O único sobrevivente confirmado foi o jornalista Rafael Henzel, da Rádio Oeste Capital, que foi levado ao Hospital San Juan de Dios.
Fox Sports, que transmitia a Copa Sul-Americana, levava seis profissionais: o comentarista Mario Sérgio Ponte de Paiva, ex-jogador da seleção brasileira, Victorino Chermont, Rodrigo Santana Gonçalves, Davair Paschoalon (Deva Pascovicci) e Lilacio Pereira Júnior, Paulo Clement.
Da Globo, estavam no voo Guilherme Marques, Ari de Araújo Junior e Guilherme Lars, além de Laion Machado Espíndola, do GloboEsporte.com. Do Grupo RBS, de Santa Catarina, os jornalistas Djalma Araújo Neto e André Luis Goulart Podiacki.
Além disso, havia oito radialistas: Rafael Valmorbida, Renan Carlos Agnolin, Fernando Schardong, Edson Luiz Ebelliny, Gelson Galliotto, Douglas Dorneles, Jacir Biavitti e Ivan Carlos Agnoletto. Até o momento, cinco sobreviventes foram confirmados, incluindo os jogadores Danilo, Alan Ruschel, e Jackson Follman.
(Com Estadão Conteúdo)

Avião da Chapecoense cai na Colômbia. Há pelo menos 75 mortos

Equipes de resgate buscam sobreviventes dos destroços do avião da Lamia que transportava a equipe da Chapecoense que caiu nas montanhas de Cerro Gordo, no município de La Union, na Colômbia
A prefeitura de Medellín informa que ao menos 75 pessoas morreram na queda do avião que levava a equipe da Chapecoense. Outras cinco pessoas foram resgatadas com vida, segundo o prefeito Federico Gutierrez. Havia 81 pessoas na aeronave, das quais 72 eram passageiros e as outras nove, tripulantes. A confirmação da informação foi feita pelo general José Acevedo Ossa, comandante da Polícia Metropolitana de Valle de Aburrá.
As primeiras informações indicam que a aeronave não está completamente destruída. A Chapecoense viajava a Medellín, onde disputaria a final da Copa Sul-Americana amanhã contra o Atlético Nacional. O avião se chocou com o solo em uma região montanhosa na cidade de La Union.
A delegação da equipe catarinense tinha 48 integrantes, além de dois convidados e 21 jornalistas. O grupo embarcou em Guarulhos e fez escala em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. Lá, seguiu num voo fretado da empresa Lumia. Por volta das 22h15 (hora local), o avião sumiu dos radares.
O lateral Alan Ruschel foi um dos primeiros sobreviventes confirmados. Ele chegou lúcido ao hospital, com lesões na cabeça. O goleiro Danilo conseguiu fazer contato com sua família através do telefone celular. O goleiro reserva Jackson também foi resgatado com vida. A comissária de bordo Jimena Suarez também foi resgatada.
As autoridades locais disseram que o avião caiu numa região de difícil acesso e, em virtude das condições climáticas ruins, praticamente só veículos 4×4 conseguem chegar próximo.
Diretor da equipe de resgate, Carlos Ivan Márquez disse que pelo menos 150 pessoas estão trabalhando para tentar socorrer os passageiros do voo. O grupo embarcou em Guarulhos e fez escala em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. Lá, seguiu num voo fretado da empresa Lamia. Por volta das 22h15 (hora local), o avião sumiu dos radares. A causa do acidente ainda não foi esclarecida.

segunda-feira, novembro 28, 2016

PGR pede à Polícia Federal gravações de Calero

A Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitou à Polícia Federal (PF) que encaminhe as gravações feitas pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero sobre o caso envolvendo o ex-ministro da Secretaria do Governo Geddel Vieira Lima. Em depoimento à PF, Calero disse que o presidente Michel Temer o “enquadrou” para tentar resolver um impasse na liberação de um empreendimento imobiliário em área de patrimônio histórico de Salvador, onde Geddel comprou um apartamento na planta. Ao deixar o cargo, Calero acusou o então ministro de pressioná-lo para liberar a construção.
A PF encaminhou o depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), que, por sua vez, repassou-o à PGR. No material encaminhado aos procuradores, no entanto, não há menção às gravações feitas por Calero. Por isso, o Ministério Público enviou hoje a requisição à PF. Os procuradores alegam que só podem decidir qual andamento darão ao caso após analisar todo o material existente. Além disso, nos bastidores, há um desconforto com o fato de a PF não ter compartilhado informações que podem influenciar a investigação de autoridades com foro privilegiado — uma atribuição da Procuradoria. Segundo os delegados, o material ainda não foi encaminhado para a PGR  porque a qualidade dos áudios é ruim e é preciso fazer um tratamento técnico nas gravações para averiguar se elas se referem ao que Calero relatou.
No domingo, em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, Calero confirmou que realizou gravações “por sugestão de alguns amigos da Polícia Federal”. Segundo ele, há registro em áudio de uma conversa “protocolar” com o presidente Michel Temer. Ele disse que não poderia confirmar gravações de conversas com Geddel e com o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. O despacho para a PF foi assinado por José Bonifácio Borges de Andrade, vice de Rodrigo Janot e procurador-geral da República em exercício, pois Janot está em viagem ao exterior.

Caso Yoki: Elize comprou serra elétrica antes do crime, diz babá

Antes mesmo da primeira testemunha entrar no plenário, Elize Matsunagachorou em silêncio. Sentada no banco dos réus, por ter matado e esquartejado o ex-marido, o herdeiro da Yoki Marcos Kitano Matsunaga, em 2012, ela mantinha um lenço entre as mãos, usado para enxugar as lágrimas em pelo menos três oportunidades.
Elize chegou ao Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, nesta segunda-feira, vestida com um terninho preto e sapatilhas. O cabelo, mal amarrado, caía sobre o ombro direito. Nervosa, bebeu água com açúcar enquanto o Conselho de Sentença lia as peças do processo. Mantinha os olhos fixos o tempo inteiro em um ponto distante. Só desviou o olhar quando precisou usar o lenço.
Às 12h32, teve início o depoimento de Amonir Hercília dos Santos, que trabalhou por dois meses como babá para os Matsunaga. Ela foi convocada pela assistência da acusação. Folguista, cuidava da filha do casal aos fins de semana, de quinze em quinze dias. Nessas ocasiões, ela substituía a mãe, Mauriceia José Gonçalves dos Santos, também convocada para depor.
Ela falou aos jurados por uma hora e quatro minutos. Em uma das últimas perguntas, os advogados de Elize perguntaram: “Ela era uma boa mãe?”. “Sim, cuidava bem da criança”, respondeu a babá. A resposta fez Elize voltar a chorar.
Amonir esteve no tríplex do casal no dia seguinte ao crime, ocorrido em 12 de maio. À Justiça disse que chegou pela manhã, por volta das 5h30, trocou de roupa e subiu para o quarto de brinquedos, onde costumava ficar com a criança.
Amonir disse que foi recebida por Elize, que havia voltado de viagem ao Paraná. “Ela estava normal, de pijama”, afirmou. Da ré, recebeu a babá eletrônica para monitorar a criança e apanhá-la quando acordasse. “Não notei diferença nenhuma, era um dia de trabalho normal.” Segundo as investigações, Elize estaria esquartejado o marido quando ela chegou.
Questionada pelo promotor José Carlos Cosenzo, disse que nunca presenciou briga do casal. “Mas a senhora ouviu o Marcos gritando com a Dona Elize alguma vez?”, questionou a acusação. “Não, nunca”. Segundo relata, o casal era discreto e a tratava bem. “Eu os conhecia pouco. Só vi umas quatro, cinco vezes”, disse. Perguntada sobre horários e detalhes do que aconteceu naquele dia, Amonir disse não lembrar com clareza e fez declarações confusas, precisando ser confrontada duas vez com depoimentos que prestou antes à Polícia Civil e à Justiça.
Em outro ponto que deve ser abordado durante o julgamento, Amonir confirmou que soube que Elize parou para comprar uma serra elétrica na viagem de volta.
A testemunha deve ser usada pela acusação para mostrar que a ré agiu friamente e que não era vítima de um marido violento. A promotoria também vai tentar mostrar que o crime foi premeditado. Já a defesa afirmou que o relato de Amonir é “menos importante”. “Ela não conseguiu lembrar de horas e datas, o que dirá se Elize usou pijama no dia?”, questionou o advogado Luciano Santoro. Segundo a defesa, a serra elétrica foi comprada a pedido do próprio Marcos. “Se fosse premeditado, ela teria usado no esquartejamento.”

Conselho de sentença

O júri de Elize Matsunaga é formado por quatro mulheres e três homens. Para a composição do Conselho de Sentença, o Ministério Público(MPE) vetou três mulheres e a defesa, três homens.
(Com Estadão Conteúdo)

PSOL protocola pedido de impeachment de Temer

PSOL protocolou nesta segunda-feira um pedido de impeachment do presidente Michel Temer com base nas denúncias feitas pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero. Para o líder do partido na Câmara, Ivan Valente (SP), Temer cometeu “crime de responsabilidade” ao se envolver numa questão particular do ex-ministro Geddel Vieira Lima.
O deputado também afirmou que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), deveria analisar com cuidado o caso antes de decidir se vai aceitar ou não a denúncia. “Espero que a Câmara abra o processo de impeachment. O presidente da Câmara tem que levar esse caso a sério. A possibilidade de a insatisfação popular crescer é grande”, afirmou.
Segundo Ivan Valente, Temer não apenas foi “condescendente” com Geddel, como agiu em favor do aliado para que fosse resolvido o impasse da liberação do empreendimento imobiliário em Salvador (BA), onde Geddel comprou um apartamento. O deputado afirmou ainda que o presidente “se atolou” quando disse que atuou para resolver um eventual “conflito” entre órgãos do governo. “O problema particular de Geddel se tornou um problema da cúpula do governo”, disse.
Na visão do deputado, Temer “de certa forma” ameaçou o ex-ministro da Cultura, quando o “enquadrou” a encontrar uma solução para a questão, remetendo o caso à Advocacia Geral da União (AGU). A peça protocolada pelo PSOL na Mesa da Câmara nesta segunda-feira tem 23 páginas. Cabe a Maia, aliado de Temer, decidir se deflagra ou não o processo de impeachment.
(com Estadão Conteúdo)

O dia em que Fidel Castro quis destruir o mundo

O tempo histórico é demorado e o pessoal de Miami  prefere não esperar: morte comemorada
O tempo histórico é demorado e o pessoal de Miami prefere não esperar: morte comemorada
Um jornalista americano, a filha de Che Guevara e Fidel Castro reuniram-se um dia no aquário de Havana para ver golfinhos dançar. Isso aconteceu de verdade, há seis anos, e foi contado por Jeffrey Goldberg em todos os seus surreais detalhes.
Fidel já estava aposentado, por assim dizer. Havia lido um artigo de Goldberg, agora na direção da revista The Atlantic, sobre a ameaça do programa nuclear iraniano que o levou a convocar o jornalista americano para um encontro em Havana.
Quem diria não? Goldberg foi e voltou com duas declarações sensacionais. A primeira, sobre a há muito sepultada exportação da revolução cubana: “O modelo cubano não funciona nem mais para nós”. Nenhuma novidade, mas dito pela boca do barbudo ganhou outra dimensão.
Mesmo usada para o mal, a inteligência excepcional foi um dos traços marcantes de Fidel. Sem contar que ele não precisava mais convencer os cubanos de que viviam no mais sensacional dos mundos.
A segunda declaração teve dimensão histórica maior. Goldberg perguntou a Fidel como avaliava sua atitude durante a Crise dos Mísseis Cubanos, os terríveis treze dias de outubro de 1962 em que o mundo esteve mais próximo da destruição de boa parte da humanidade num holocausto nuclear.
“Não teria valido a pena”, respondeu Fidel. Foi o mais próximo que chegou de uma autocrítica ao modo como tentou insuflar a União Soviética a tomar a iniciativa e lançar um ataque nuclear contra os Estados Unidos. A inevitável retaliação incineraria o mundo e levaria junto a civilização, com centenas de milhões de mortos.
Para relembrar a crise: a União Soviética havia instalado, secretamente, mísseis nucleares em Cuba que, descobertos, levaram o presidente John Kennedy a declarar um bloqueio naval em torno da ilha. Durante os dias de perigo como jamais havia existido, as duas superpotências fizeram uma guerra de nervos sem precedentes. No fim, o regime soviético concordou em tirar os mísseis, em troca de um recuo equivalente dos americanos em suas bases na Turquia.
Se os soviéticos não tivessem cedido, Kennedy mandaria lançar um ataque convencional contra as bases nucleares em Cuba – já estava até com o anúncio da ação militar escrito. Os americanos não sabiam que cerca de cem mísseis nucleares soviéticos já estavam em condições operacionais.
Fidel Castro sabia do risco do ataque americano e estava disposto a destruir o mundo para impedi-lo. Numa carta escrita a Nikita Krushchev em 26 de outubro de 1962, ele argumentou: “Acredito que a agressividade dos imperialistas os torna muito perigosos e se conseguirem desfechar uma invasão de Cuba – um ato brutal de violação do direito universal e moral –, então seria o momento de eliminar este perigo para sempre, num ato de legítima defesa. Por mais dura e terrível que fosse essa solução, não haveria outra”.
Em outras palavras, falando em nome do direito universal e moral, Fidel defendeu um ataque nuclear que, inevitavelmente, acabaria levando sua própria ilha a ser varrida do mapa. Felizmente, não mandava nada. Krushchev, que havia sobrevivido como um dos carrascos de Stálin, mandou tirar os mísseis.
Três meses depois, escreveu uma longa carta a Fidel para apaziguar os ânimos, não só do cubano como “até de líderes de certos países socialistas que começaram a ficar agitados e a pontificar sobre a maneira como deveríamos ter agido durante a crise”. Apesar do tom amistoso e conciliador, o recado não poderia ter sido mais claro.
Quando foi preso e julgado pela invasão do quartel de Moncada, Fidel demonstrou a notável habilidade para construir o próprio mito ao dizer: “A história me absolverá”.
Depois de sua morte, o presidente Barack Obama recorreu à mesma linguagem como forma de evitar críticas ao homem que quis imolar os Estados Unidos com mísseis alheios, dizendo que “a história julgará” o seu papel. Em Miami, o pessoal da comunidade cubana preferiu não esperar o tempo histórico e saiu comemorando pelas ruas. Tudo registrado pelo celular, claro.
Um adendo para explicar os golfinhos e a filha de Che. Depois de almoçar na casa de Fidel num domingo, com Delia, a mulher dele, e o filho Antonio, Jeffrey Goldberg foi convidado a ir ao aquário de Havana para ver um espetáculo subaquático com golfinhos em que três mergulhadores interagiam com eles numa espécie de dança.
Depois da apresentação, a veterinária do aquário, chamada Celia Guevara, filha do próprio, deu explicações a Goldberg. O jornalista escreveu que, mesmo sendo pai de três filhos, com muita experiência em show de golfinhos, nunca viu alguém gostar tanto de um espetáculo assim como Fidel Castro. O comandante genial dos cetáceos não parecia nada preocupado com a absolvição da história.

sábado, novembro 26, 2016

Fidel Castro: 10 fatos sobre a vida do ex-ditador cubano

O ex-ditador cubano Fidel Castro, que morreu na noite da última sexta-feira, em Havana. Abaixo, uma lista de dez fatos sobre sua trajetória.
1)     Foi reconhecido pelo pai, Ángel Castro, um imigrante espanhol, somente aos 17 anos.
2)    Teve um caso extraconjugal com Natalia Revuelta. A filha deles, Alina, só soube aos dez anos de idade que era filha do ditador cubano. Atualmente, ela vive nos Estados Unidos.
3)    Tem um filho também chamado Fidel Castro, conhecido como Fidelito. Ele é físico nuclear e já foi chefe da comissão de energia atômica de Cuba.
4)     Enquanto governou o país, enfrentou nove diferentes presidentes americanos.
5)    A primeira vez que disse a famosa palavra de ordem “Pátria ou Morte!” foi em ato de luto pelas vítimas de atentado a um barco francês ancorado em Havana.
6)    Depois de participar de invasão frustrada à República Dominicana para depor o ditador Rafael Trujillo, foi perseguido pela polícia no mar e fugiu nadando.
7)    Conheceu o argentino Ernesto “Che” Guevara no México, para onde foi após sair da prisão em Cuba. Ele foi detido por liderar ataque frustrado ao quartel de Moncada, em Santiago de Cuba.
8)   A primeira visita que fez ao Brasil foi em 1959, apenas quatro meses após assumir o poder em Cuba. Ele também esteve presente nas posses dos presidentes Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e Lula.
9)  Entrou para o “Guinness Book” , o  livro dos recordes, por proferir o discurso mais longo da história da ONU (Organização das Nações Unidas): 4 horas e 29 minutos, em 29 de setembro de 1960. Em Cuba, seu recorde foi de 7 horas e 10 minutos, feito durante Congresso do Partido Comunista de 1986.
10)  Dizia ter sobrevivido a mais de 630 tentativas de assassinato, planejadas principalmente pela CIA, agência de inteligência dos Estados Unidos. As histórias envolviam coisas como pílulas envenenadas e charutos tóxicos.

Fidel Castro morre aos 90 anos

A saída de Fidel não significou uma abertura do país para a economia de mercado. Pelo contrário, a ilha seguiu emperrada, e melhorar de vida continuou a ser um ato tão subversivo quanto dar uma opinião sobre a política nacional. Se internamente as dificuldades não dão trégua, um sopro de esperança veio do inimigo externo, os Estados Unidos, que decidiu reatar relações diplomáticas com a ilha no apagar das luzes de 2014. Raúl, no entanto, fez questão de dizer que a aproximação não significará ‘tirar Cuba do rumo’, provando que Obama pode tentar a sua parte, mas alterações significativas dependem da saída de cena dos ditadores.

Cultuado por partidos de esquerda latino-americanos, Fidel passava a maior parte de seu tempo livre em uma ilha paradisíaca ao sul de Cuba, onde levava um estilo de vida nababesco, em contraste com a miséria da população. Morreu em Havana, aos 90 anos. Como ocorre em todos os regimes ditatoriais, detalhes sobre a vida pessoal e principalmente a saúde do chefe de Estado sempre foram mantidos em sigilo. Fotos esporádicas invariavelmente o mostravam decrépito, vestindo um agasalho Adidas. Em fevereiro de 2014, a agência de notícias Associated Press eliminou de seus arquivos imagens alteradas digitalmente para esconder um aparelho auditivo. No mês anterior, o ditador havia comparecido à inauguração de um centro cultural em Havana. O registro de sua passagem pelo local mostraram o gerontocrata caminhando com ajuda, curvado e com uma aparência fragilizada.
Em 2006, quando complicações de uma hemorragia intestinal o obrigaram a entregar o poder – primeiro provisoriamente, e dois anos depois, de forma definitiva –, muito pouco foi divulgado sobre a doença que o acometeu. Boatos apontaram para diverticulite (inflamação no intestino grosso) e até câncer, mas nada foi confirmado oficialmente. Os rumores sobre sua morte só aumentaram desde sua renúncia. “Já me mataram não sei quantas vezes”, disse, em uma de suas entrevistas para desmentir notícias sobre sua morte. Fato é que sua onipresença em público deu lugar a aparições cada vez mais raras.

Trajetória

Fidel Castro Ruz nasceu no dia 13 de agosto de 1926, na província cubana de Oriente, filho do fazendeiro Angel Castro e da camponesa Lina Ruz. Aos 17 anos, mudou-se para a capital para estudar. Formou-se em direito na Universidade de Havana, em 1949, e começou a defender gratuitamente camponeses, operários e prisioneiros políticos – em troca, chamava todos a fazer parte da revolta que articulava contra o governo. O Partido Ortodoxo o escolheu para ser candidato à Câmara dos Deputados nas eleições de 1952, quando também seria escolhido o novo presidente do país. Mas o pleito não chegou a ser realizado. Em 10 de março de 1952, o sargento Fulgêncio Batista tomou o poder, com o reconhecimento do governo americano, e no dia seguinte fechou o Parlamento e suspendeu as eleições.
Era o começo da farsesca carreira política de Fidel. Em 1953, ele liderou um grupo de rebeldes em um ataque suicida ao quartel de La Moncada. Foi preso e levado a julgamento no mesmo ano, quando assumiu a própria defesa, exercitando a retórica inflamada e arrogante que o caracterizaria por toda a vida pública. Dois anos depois, foi solto e exilou-se no México, onde começou a organizar seu retorno a Cuba.
No dia 30 de dezembro de 1958, seu escudeiro, o argentino Ernesto ‘Che’ Guevara, e mais quatrocentos guerrilheiros sob seu comando conseguiram conquistar Santa Clara, que era defendida por 3.500 soldados do governo. Essa vitória foi fatal para Fulgêncio, que abandonou o país na madrugada de 31 de dezembro. Em janeiro, Fidel já estava no poder.
Um dos primeiros atos do principiante ditador foi mandar fuzilar colaboradores do ex-sargento. Começou promovendo a reforma agrária e nacionalizando empresas, transformando em unidades de produção cerca de 70% da superfície cultivável do país, pertencente a companhias estrangeiras e latifundiários locais. Milhares de cubanos deixaram o país e se estabeleceram na Flórida (EUA), onde passaram a representar uma força política contrária ao regime castrista.
Enquanto isso, Cuba ia se afastando dos americanos, que decretaram bloqueio comercial ao país em 1960 e romperam relações diplomáticas em 1961 – ano em que o comunismo foi formalmente estabelecido. No ano seguinte, foi implementado o racionamento de alimentos – que prossegue até hoje e segundo o qual cada família cubana tem um limite mensal de produtos registrado em uma “libreta” de controle.

Economia

O país, então, começou a depender da União Soviética. Mas a ajuda durou apenas até o início dos anos 90. Depois disso, o colapso do regime soviético suspendeu o repasse financeiro e afundou Cuba em uma grave crise econômica, que obrigou Fidel a ensaiar tímidas reformas. A abertura de restaurantes familiares passou a ser permitida, assim como feiras livres para complementar a escassa ração oficial. Houve também incentivo ao turismo e investimentos estrangeiros. Fatalmente, algumas pessoas começaram a sentir uma leve melhora na qualidade de vida. Bastou para que, em 1996, o comandante-em-chefe engatasse a marcha a ré nas mudanças, que na visão dele teriam passado a afrontar o princípio revolucionário da igualdade. A repressão política ficou mais dura e dissidentes foram condenados a longas penas de prisão.
A Venezuela do caudilho Hugo Chávez (1954 – 2013) passou a pagar a “mesada” que antes cabia à União Soviética, o que possibilitou, por exemplo, reduzir os cortes de energia elétrica na ilha. Mas os recursos concedidos ao regime, que vieram também dos cofres da China, do Canadá e do Brasil, nunca tiveram como reflexo o bem-estar da população. Dois terços dos 11 milhões de cubanos que nasceram depois de 1959 não conheceram outro regime que o de miséria imposto pelos irmãos Castro – nenhum outro ditador de sua época permaneceu tanto tempo no poder. Há ainda 2 milhões de cubanos exilados.
Mesmo oficialmente aposentado, Fidel continuou mandando e desmandando no governo. Raúl e todos os demais dirigentes ainda eram obrigados a consultá-lo a respeito de qualquer assunto importante. Governavam, portanto, de mãos atadas. E quando perdeu as forças também para manter o padrão de seus célebres e longos discursos – no auge, chegou a falar por 8 horas ininterruptas – Fidel trocou o palanque da oralidade pelo texto escrito, mas igualmente nada sucinto: seu proselitismo foi reunido em um livro com nada menos que 896 páginas.
Os cubanos que viram nas promessas de reforma de Raúl a possibilidade de recuperar os anos perdidos decepcionaram-se ao perceber que nenhuma mudança foi para melhor. A vida ficou mais difícil. O Estado, dominado pelos militares, mantém o controle de todas as atividades relevantes. A perseguição política não foi aliviada. Apenas mudou sua natureza. Se antes era realizada buscando algum suporte na lei, agora se dá de forma clandestina, com milícias governistas reprimindo os opositores. E a população continua impedida de avançar pois, aos olhos do regime castrista, a concentração da propriedade contradiz a essência do socialismo e jamais será permitida.
Com a morte do ditador, Cuba tem o desafio de (finalmente) começar a caminhar com as próprias pernas e oferecer uma vida melhor (e livre) à população