quinta-feira, outubro 19, 2017

Ex-diretor da RioTrilhos diz que empreiteira ficou devendo propina em obra da Linha 4

Diretor da RioTrilhos, Heitor Lopes de Sousa Junior, no dia de sua prisão, em março (Foto: Cristina Boeckel)
Diretor da RioTrilhos, Heitor Lopes de Sousa Junior, no dia de sua prisão, em março (Foto: Cristina Boeckel)
A 7ª Vara Federal Criminal interrogou, na tarde desta quinta-feira (19), o ex-diretor da RioTrilhos Heitor Lopes de Souza Junior, por conta da suspeita de desvios das obras da Linha 4 do Metrô. Logo no início do depoimento, ele assumiu que recebeu a propina das empreiteiras, mas afirmou que recusou num primeiro momento.
De acordo com o diretor da RioTrilhos, a Carioca Engenharia ficou devendo parte das vantagens ilícitas e ele teria se recusado a cobrar.
“O que sei é que a Carioca não honrou o que tinha combinado. O Marcos Vidigal [que, segundo ele, operava a propina pela Odebrecht] me pediu para que eu cobrasse. Já achava que era uma coisa meio ilícita, muito mais cobrar. Não tinha essa cara de pau, achei absurdo cobrar uma coisa que fosse errada”, disse Lopes.
Procurada pelo G1, a Carioca Engenharia informou que não vai comentar.
Os pagamentos eram feitos em pacotes de dinheiro, segundo Heitor, que negou o recebimento através de pagamentos de sua empresa.

R$ 2,5 mi na conta para devolver

Heitor admitiu a negociação por uma delação premiada, mas negou que tenha feitos contratos fictícios para lavar dinheiro. Afirmou ainda que se dispõe a devolver o que, segundo ele, foi desviado: cerca de R$ 2,5 milhões. Segundo o MPF, Heitor movimentou R$ 36,1 milhões em lavagem de dinheiro.
“Esse valor recebido de 2,5 milhões está na minha conta e está disponível para ser retirado e tem que ser devolvido para o Estado. Tentei ao máximo acertar delação”, afirmou.

Choro e arrependimento

O réu se emocionou durante o depoimento e, ao se lembrar do pai, chorou.
“Esse dinheiro foi uma coisa ilícita, um erro absurdo que fiz na minha vida porque tenho 37 anos de metrô e nunca fiz nada de errado. Nunca percebi a nenhum grupo (político) no Metrô, que tem três níveis de arquiteto. Com 37 anos, só fiquei no segundo nível porque só era promovido quem pertencia a algum grupo. O pior para mim não é o arrependimento, que é grande, mas a vergonha é muito maior. Eu tenho o nome do meu pai. E a vergonha de (errar ao carregar o) nome dele. Meu pai foi um homem extremamente correto, era militar, e eu levar o nome dele para isso é uma vergonha”, declarou.
O interrogatório é comandado pelo juiz Marcelo Bretas, que julga processos da Lava Jato no Rio. Além de Heitor, que está preso desde março, serão ouvidos sua esposa Luciana Cavalcanti Gonçalves Maia e os empresários Jean Louis de Billy e Manoel José Salino Cortes.
Heitor foi preso na Operação Tolypeutes que investiga superfaturamentos na obra da Linha 4 do Metrô, que custou cerca de R$ 10 bilhões, e ficou pronta pouco antes da Olimpíada – cuja escolha agora também é investigada.
A propina seria paga através de empresas como a Arqline Arquitetura e Consultoria, da qual Jean Louis é sócio, e a MC Link Engenharia, da qual Manoel era sócio.

Processo contra Cabral

Mais cedo, Bretas ouviu o depoimento de testemunhas de acusaçãoem que o ex-governador do Rio Sérgio Cabral e outras cinco pessoas são acusadas de lavar R$ 1,7 milhão de propina através de contratos fictícios com a empresa Survey Mar e Serviços. Nesse processo, o ex-governador é denunciado por 36 atos de lavagem de dinheiro.
Foram ouvidos: Paulo Rezende da Silva (ex-sócio da empresa Survey), Nádia Lubi Martins de Oliveira (secretária de Flavio Werneck, dono da FW Engenharia) e Sonia Ferreira Baptista (secretária particular de Cabral).

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