Lideranças do partido querem mudança no perfil de Dutra; administrar relação com PMDB e agradar a aliados são desafios
Marina Dias
José Eduardo Dutra concede entrevista coletiva na sede do diretório do PT em Brasília (Wilson Pedrosa/AE)
A transição do governo de Luiz Inácio Lula da Silva para o de Dilma Vana Rousseff transformou-se em um período de alerta para o PT. É o momento em que as principais lideranças petistas querem mostrar força e imprimir a marca partidária no próximo governo. A briga pelo poder existe desde a campanha eleitoral. Mas, a menos de dois meses da posse, setores da legenda querem uma mudança de comportamento de José Eduardo Dutra, presidente do PT: que ele passe a ser um canal entre partido e governo e não mais um relações públicas entre os aliados.
Mesmo vitoriosa, a campanha presidencial terminou com insatisfações, que vão desde brigas internas no PT – e com a base aliada – até o descontentamento de lideranças estaduais. Na avaliação de dirigentes do partido, Dutra priorizou "excessivamente" as atividades externas durante a campanha, como o acompanhamento das agendas de Dilma pelo Brasil, em detrimento da organização funcional e da audiência dada ao partido.
Até mesmo o atraso na divulgação do programa de governo, feito somente após o primeiro turno, foi atribuído indiretamente a Dutra. Segundo petistas, o texto já estava pronto, mas o presidente foi cauteloso na hora de fazer a divulgação do documento, devido às polêmicas enfrentadas durante a campanha.
No primeiro turno, o PT registrou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) uma cópia do programa aprovado em fevereiro, no Congresso Nacional do PT, que trazia questões delicadas como o controle social da mídia, a taxação de grandes fortunas e a redução da jornada de trabalho. Em pouco tempo, a campanha retirou o documento do TSE, prometendo nova versão.
Aliados – O vice-presidente eleito, Michel Temer (PMDB), chegou a dizer que seu partido não irá reivindicar mais do que os seis ministérios que já possui no governo Lula. No entanto, pessoas próximas a ele dizem que “movimentação e realocação” de cargos não estão descartadas. Segundo petistas da alta cúpula, o PMDB não gostou do discurso de coalizão total feito por Dilma em 31 de outubro, dia de sua vitória, e resolveu mostrar a que veio. Em contrapartida, dizem os companheiros de partido da presidente eleita, o PT precisou reagir à altura.
Na última semana, o PMDB anunciou a formação de um superbloco na Câmara dos Deputados, com participação do PP, PR, PTB e PSC. Criaria-se uma maioria artificial de mais de 200 deputados e o partido de Temer poderia sair beneficiado ao disputar a presidência da Câmara. Em pouco tempo, o PT reagiu e disse que não aceitaria participar do bloco e – mais do que isso – negou a existência real da coalizão. A alternativa de Temer foi recuar e dizer que o bloco era apenas uma “intenção” e que não criaria atrito entre os aliados. Um prenúncio das disputas que ainda estão por vir.
Farpas nos estados – Outro imbróglio que o PT governista terá de enfrentar é a insatisfação ou excesso de demanda do partido em diversos estados do país. Em Minas Gerais, por exemplo, o PT está incomodado com o fato de nenhuma liderança mineira ter sido cotada para os ministérios de Dilma, cujo primeiro grupo deve ser anunciado até o dia 15 de dezembro.
O ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, e o ex-ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, são os dois principais nomes do PT em Minas. Pimentel é amigo de juventude de Dilma e foi indicado pela presidente eleita para a coordenação de sua campanha. Em maio, porém, reportagem de VEJA revelou que integrantes da pré-campanha petista tentaram contratar um grupo de inteligência para investigar adversários políticos e aliados incômodos. Pimentel foi um dos envolvidos no escândalo e acabou escanteado.
Agora, o grupo do ex-prefeito – que não conseguiu se eleger senador – deseja que ele assuma algum ministério. A pasta de Cidades era uma das mais cotadas para ele. Mas, desde a vitória de Dilma, nenhuma negociação avançou. Já pessoas ligadas a Patrus Ananias – que foi vice do peemedebista Hélio Costa, candidato derrotado ao governo de MG – esperam que ele volte ao Ministério do Desenvolvimento Social. Essas chances podem ser maiores.
O PT do Rio de Janeiro, por sua vez, precisa disputar a tapa indicações para ministérios com o PMDB de Sergio Cabral, eleito governador do estado e um dos principais apoiadores da nova presidente. Esporte, Saúde e Transportes estão na mira dos peemedebistas. Como articulador político do governo de transição e responsável por costurar os acordos entre os aliados, José Eduardo Dutra tem um grande desafio pela frente: construir um governo sem desagradar alianças, mas, principalmente, apagando o fogo dentro de seu próprio partido.
Mesmo vitoriosa, a campanha presidencial terminou com insatisfações, que vão desde brigas internas no PT – e com a base aliada – até o descontentamento de lideranças estaduais. Na avaliação de dirigentes do partido, Dutra priorizou "excessivamente" as atividades externas durante a campanha, como o acompanhamento das agendas de Dilma pelo Brasil, em detrimento da organização funcional e da audiência dada ao partido.
Até mesmo o atraso na divulgação do programa de governo, feito somente após o primeiro turno, foi atribuído indiretamente a Dutra. Segundo petistas, o texto já estava pronto, mas o presidente foi cauteloso na hora de fazer a divulgação do documento, devido às polêmicas enfrentadas durante a campanha.
No primeiro turno, o PT registrou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) uma cópia do programa aprovado em fevereiro, no Congresso Nacional do PT, que trazia questões delicadas como o controle social da mídia, a taxação de grandes fortunas e a redução da jornada de trabalho. Em pouco tempo, a campanha retirou o documento do TSE, prometendo nova versão.
Aliados – O vice-presidente eleito, Michel Temer (PMDB), chegou a dizer que seu partido não irá reivindicar mais do que os seis ministérios que já possui no governo Lula. No entanto, pessoas próximas a ele dizem que “movimentação e realocação” de cargos não estão descartadas. Segundo petistas da alta cúpula, o PMDB não gostou do discurso de coalizão total feito por Dilma em 31 de outubro, dia de sua vitória, e resolveu mostrar a que veio. Em contrapartida, dizem os companheiros de partido da presidente eleita, o PT precisou reagir à altura.
Na última semana, o PMDB anunciou a formação de um superbloco na Câmara dos Deputados, com participação do PP, PR, PTB e PSC. Criaria-se uma maioria artificial de mais de 200 deputados e o partido de Temer poderia sair beneficiado ao disputar a presidência da Câmara. Em pouco tempo, o PT reagiu e disse que não aceitaria participar do bloco e – mais do que isso – negou a existência real da coalizão. A alternativa de Temer foi recuar e dizer que o bloco era apenas uma “intenção” e que não criaria atrito entre os aliados. Um prenúncio das disputas que ainda estão por vir.
Farpas nos estados – Outro imbróglio que o PT governista terá de enfrentar é a insatisfação ou excesso de demanda do partido em diversos estados do país. Em Minas Gerais, por exemplo, o PT está incomodado com o fato de nenhuma liderança mineira ter sido cotada para os ministérios de Dilma, cujo primeiro grupo deve ser anunciado até o dia 15 de dezembro.
O ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, e o ex-ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, são os dois principais nomes do PT em Minas. Pimentel é amigo de juventude de Dilma e foi indicado pela presidente eleita para a coordenação de sua campanha. Em maio, porém, reportagem de VEJA revelou que integrantes da pré-campanha petista tentaram contratar um grupo de inteligência para investigar adversários políticos e aliados incômodos. Pimentel foi um dos envolvidos no escândalo e acabou escanteado.
Agora, o grupo do ex-prefeito – que não conseguiu se eleger senador – deseja que ele assuma algum ministério. A pasta de Cidades era uma das mais cotadas para ele. Mas, desde a vitória de Dilma, nenhuma negociação avançou. Já pessoas ligadas a Patrus Ananias – que foi vice do peemedebista Hélio Costa, candidato derrotado ao governo de MG – esperam que ele volte ao Ministério do Desenvolvimento Social. Essas chances podem ser maiores.
O PT do Rio de Janeiro, por sua vez, precisa disputar a tapa indicações para ministérios com o PMDB de Sergio Cabral, eleito governador do estado e um dos principais apoiadores da nova presidente. Esporte, Saúde e Transportes estão na mira dos peemedebistas. Como articulador político do governo de transição e responsável por costurar os acordos entre os aliados, José Eduardo Dutra tem um grande desafio pela frente: construir um governo sem desagradar alianças, mas, principalmente, apagando o fogo dentro de seu próprio partido.
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