domingo, novembro 21, 2010

Ataque especulativo no PT: é hora de brigar pelo poder


Lideranças do partido querem mudança no perfil de Dutra; administrar relação com PMDB e agradar a aliados são desafios

Marina Dias
José Eduardo Dutra concede entrevista coletiva na sede do diretório do PT em Brasília
José Eduardo Dutra concede entrevista coletiva na sede do diretório do PT em Brasília (Wilson Pedrosa/AE)
A transição do governo de Luiz Inácio Lula da Silva para o de Dilma Vana Rousseff transformou-se em um período de alerta para o PT. É o momento em que as principais lideranças petistas querem mostrar força e imprimir a marca partidária no próximo governo. A briga pelo poder existe desde a campanha eleitoral. Mas, a menos de dois meses da posse, setores da legenda querem uma mudança de comportamento de José Eduardo Dutra, presidente do PT: que ele passe a ser um canal entre partido e governo e não mais um relações públicas entre os aliados.

Mesmo vitoriosa, a campanha presidencial terminou com insatisfações, que vão desde brigas internas no PT – e com a base aliada – até o descontentamento de lideranças estaduais. Na avaliação de dirigentes do partido, Dutra priorizou "excessivamente" as atividades externas durante a campanha, como o acompanhamento das agendas de Dilma pelo Brasil, em detrimento da organização funcional e da audiência dada ao partido.

Até mesmo o atraso na divulgação do programa de governo, feito somente após o primeiro turno, foi atribuído indiretamente a Dutra. Segundo petistas, o texto já estava pronto, mas o presidente foi cauteloso na hora de fazer a divulgação do documento, devido às polêmicas enfrentadas durante a campanha. 

No primeiro turno, o PT registrou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) uma cópia do programa aprovado em fevereiro, no Congresso Nacional do PT, que trazia questões delicadas como o controle social da mídia, a taxação de grandes fortunas e a redução da jornada de trabalho. Em pouco tempo, a campanha retirou o documento do TSE, prometendo nova versão.

Aliados – O vice-presidente eleito, Michel Temer (PMDB), chegou a dizer que seu partido não irá reivindicar mais do que os seis ministérios que já possui no governo Lula. No entanto, pessoas próximas a ele dizem que “movimentação e realocação” de cargos não estão descartadas. Segundo petistas da alta cúpula, o PMDB não gostou do discurso de coalizão total feito por Dilma em 31 de outubro, dia de sua vitória, e resolveu mostrar a que veio. Em contrapartida, dizem os companheiros de partido da presidente eleita, o PT precisou reagir à altura.

Na última semana, o PMDB anunciou a formação de um superbloco na Câmara dos Deputados, com participação do PP, PR, PTB e PSC. Criaria-se uma maioria artificial de mais de 200 deputados e o partido de Temer poderia sair beneficiado ao disputar a presidência da Câmara. Em pouco tempo, o PT reagiu e disse que não aceitaria participar do bloco e – mais do que isso – negou a existência real da coalizão. A alternativa de Temer foi recuar e dizer que o bloco era apenas uma “intenção” e que não criaria atrito entre os aliados. Um prenúncio das disputas que ainda estão por vir.

Farpas nos estados – Outro imbróglio que o PT governista terá de enfrentar é a insatisfação ou excesso de demanda do partido em diversos estados do país. Em Minas Gerais, por exemplo, o PT está incomodado com o fato de nenhuma liderança mineira ter sido cotada para os ministérios de Dilma, cujo primeiro grupo deve ser anunciado até o dia 15 de dezembro. 

O ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, e o ex-ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, são os dois principais nomes do PT em Minas. Pimentel é amigo de juventude de Dilma e foi indicado pela presidente eleita para a coordenação de sua campanha. Em maio, porém, reportagem de VEJA revelou que integrantes da pré-campanha petista tentaram contratar um grupo de inteligência para investigar adversários políticos e aliados incômodos. Pimentel foi um dos envolvidos no escândalo e acabou escanteado.

Agora, o grupo do ex-prefeito – que não conseguiu se eleger senador – deseja que ele assuma algum ministério. A pasta de Cidades era uma das mais cotadas para ele. Mas, desde a vitória de Dilma, nenhuma negociação avançou. Já pessoas ligadas a Patrus Ananias – que foi vice do peemedebista Hélio Costa, candidato derrotado ao governo de MG – esperam que ele volte ao Ministério do Desenvolvimento Social. Essas chances podem ser maiores.

O PT do Rio de Janeiro, por sua vez, precisa disputar a tapa indicações para ministérios com o PMDB de Sergio Cabral, eleito governador do estado e um dos principais apoiadores da nova presidente. Esporte, Saúde e Transportes estão na mira dos peemedebistas. Como articulador político do governo de transição e responsável por costurar os acordos entre os aliados, José Eduardo Dutra tem um grande desafio pela frente: construir um governo sem desagradar alianças, mas, principalmente, apagando o fogo dentro de seu próprio partido.

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