domingo, novembro 06, 2011

Produtores criam máquina de debulhar feijão verde


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FRANCISCO Estevão Gomes de Sousa mostra a invenção. Ele conta que é a primeira do gênero no Ceará 
ANTÔNIO CARLOS ALVES
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A Máquina DE debulhar a leguminosa chamou a atenção de autoridades agrícolas do Ceará e de outros agricultores. Após o processo, o feijão fica inteiro, sem quebras
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PRODUTOS Orgânicos fabricados na cidade de Canindé deverão ser aproveitados pela Petrobras

Dois irmãos da cidade de Canindé desenvolveram uma máquina debulhadora de feijão verde elétrica
Monsenhor Tabosa. Uma máquina de debulhar feijão verde é a mais nova criação dos irmãos Francisco Estevão Gomes de Sousa e João Batista Gomes de Sousa, residentes no Município de Canindé, cidade que fica localizada no Sertão Central a 126 quilômetros de Fortaleza. O destaque tecnológico foi apresentado na Feira da Agricultura Familiar, realizada na cidade de Monsenhor Tabosa.

É uma máquina debulhadora de feijão verde elétrica, desenvolvida por meio de um sistema de peças usadas e feita com material reciclável e é capaz de beneficiar 30 quilos de vagem em dois minutos. Isso corresponde ao trabalho de 26 agricultoras durante um dia inteiro de trabalho.

Características
O equipamento, com 60 quilos de estrutura de madeira, alumínio, aço inox, redutor de velocidade (jacaré), rolamentos de carro, canelas de moto e motores usados. O consumo é de apenas dois watts de energia elétrica por hora, conta com dois motores de seis cavalos de força e irá ajudar principalmente os pequenos produtores, reunidos em associações e cooperativas. Com isso, será possível liberar mão de obra para a lida no campo, elevando, dessa forma, a produtividade.

Francisco Estevão Gomes de Sousa, um dos idealizadores do protótipo, disse que a obra custou R$ 2 mil e é a primeira do gênero no Estado do Ceará, fabricada por agricultores familiares, explica.

"Além de dinamizar o trabalho, hoje feito manualmente, a máquina propicia uma maior higiene ao produto, agregando-lhe valor de mercado", contou.

Atualmente, os dois irmãos trabalham em uma área de 20 hectares plantados de feijão de corda, o mais comum na região, na localidade de Pé da Serra do Bonito, a 30 quilômetros da sede. "A ideia surgiu devido à grande dificuldade que encontramos para conseguir mão de obra local. Muita gente não quer mais trabalhar no campo e a nossa produção cresceu e foi necessário encontrar meios de garantir o produto de entrega dentro do prazo estabelecido pelo cliente, que é a Secretaria de Educação de Canindé, que utiliza o alimento na merenda escolar", frisa João Batista Gomes dos Santos. Um quilo de feijão verde chega à mesa das crianças do Ensino Fundamental e Centro de Educação Infantil a preço de R$ 4,50 o quilo.

Dificuldade
Para os irmãos, a grande dificuldade hoje é a falta de incentivo dos Governos Federal e Estadual. "Nós trabalhamos com produtos orgânicos e nossa preocupação é preservar o meio ambiente, tornando-o saudável e sem problemas para a saúde humana, e os incentivos não existem", ressalta Francisco Estevão. Foi ele quem desenhou o protótipo, que foi confeccionado em oito dias.

A novidade é tão grande que o presidente do Instituto Agropolos do Ceará, Celso Crisóstomo, disse que a instituição, que garante assistência técnica aos produtores familiares, irá assessorar os idealizadores da máquina para que ela seja patenteada no Estado.

"É uma grande inovação. É de grande utilidade para o homem do campo. Será mais um aliado forte na produção de alimentos oriundos da produção comunitária e que chega à mesa do povo cearense de forma saudável", observa Crisóstomo.

O secretário de Desenvolvimento Agrário do Estado, Nelson Martins, gostou do que viu. "É muito interessante, o feijão debulhado manualmente, muitas vezes, quebra, amassa e na máquina não: sai inteiro, limpo e o que mais importante, muito higiênico", ressaltou o subsecretário de Desenvolvimento Agrário, Antônio Amorim.

Interesse
Os dois irmãos irão levar a máquina para ser apresentada na Expocrato, uma das maiores feiras do Norte e Nordeste. O sucesso é tamanho que técnicos de Organizações Não Governamentais (ONGs), associações comunitárias, sindicatos de trabalhadores rurais de Municípios vizinhos querem conhecer de perto a invenção. "A nossa grande preocupação é com a falta de créditos. Utilizamos recursos próprios e as dificuldades são muitas. Queríamos que os gerentes de bancos da cidade, o Sebrae, olhassem com bons olhos para o nosso projeto, porque isso irá gerar melhorias no campo e na vida dos agricultores familiares", diz Estevão.

O secretário de Agricultura e Recursos Hídricos de Canindé, Manoel Barroso de Araújo, disse que o Município realizará estudos para viabilizar a fabricação de outras máquinas a serem utilizadas na colheita. "É uma obra que irá nos fortalecer tanto no setor agrícola, quanto na preservação do meio ambiente", destacou Araújo.

Custo
R$ 2 mil foi quanto custou a máquina criada pelos agricultores de Canindé. Ela é capaz de beneficiar 30 quilos de vagem em dois minutos, uma das suas vantagens para aprimorar o trabalho

MAIS INFORMAÇÕES 
Francisco Estevão Gomes de Sousa: (85) 9904.0141/ João Batista Gomes de Sousa: (85) 8637.3532
Rua: Euclides Barroso,1025, Canindé
PRODUÇÃO
Adubo orgânico preserva ambiente

Canindé.
 Outra grande novidade nos Sertões de Canindé pode ser encontrada no Assentamento Pitombeiras, onde o agricultor familiar e ambientalista, Domingos Forte, está aproveitando a casca da mamona, restos de poda, calcário dolomítico, fosfato natural, biocatalizador e água não clorada para a fabricação de adubo orgânico, chamado de biocomposto.

"Estamos utilizando 700 gramas de casca de mamona, 200 gramas de restos de poda, 50 gramas de calcário, 50 gramas de fosfato natural, 20 litros de biocatalizador e 200 litros de água não clorada para a produção de uma tonelada de adubo orgânico", explica Forte.

Duas pessoas cuidam do projeto que tem as parcerias do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Agrário, Prefeitura Municipal de Canindé e Sindicato dos Trabalhadores Rurais.

Toda a produção é comercializada na região e agora a Petrobras acena com os bons olhos a possibilidade de compra para a utilização em plantios de mamona no Ceará na produção de biodiesel. "É um trabalho que gratifica, porque estamos contribuindo para a produção familiar de forma limpa, sem o uso de agrotóxicos", comemora Francisco Eudes dos Santos. Já Francisco Geovani Forte destaca que o trabalho vem ganhando a conscientização dos moradores. "Aqui, ninguém desmata sem orientação técnica e nem tão pouco queima a mata ciliar".

Para o presidente do Instituto Agropolos do Ceará, Celso Crisóstomo, a segurança para o aumento da produção pela agricultura familiar também conta com o suporte de políticas de comercialização e meio ambiente. Elas asseguram ao agricultor mercado para os seus produtos e, também, incentivam o aumento da produção.

"Essa estratégia foi reforçada com a criação da Lei 11.947 de 2009, que determina que no mínimo 30% dos recursos financeiros repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação ao Programa Nacional de Alimentação Escolar sejam destinados à compra de produtos de agricultores familiares e empreendedores familiares rurais", ressalta Celso.

Prioridade
A prioridade é para assentamentos da Reforma Agrária e comunidades tradicionais, indígenas e quilombolas.

Além de garantir alimento de qualidade na refeição dos alunos da rede pública, a lei da alimentação escolar assegura apoio ao agricultor familiar para comercializar seus produtos e mais renda para quem produz.

Em Canindé, o prefeito da cidade, Cláudio Pessoa, autorizou a secretária de Educação do Município, Rosinha Cardoso, a comprar o maior número possível de produtos da agricultura familiar. "Vamos garantir esse incentivo, porque entendo que ainda é mantendo o homem no campo que iremos conseguir combater a prostituição, as drogas, enfim, dando ao homem o direito de produção no seu habitat", disse o prefeito.

Quanto às inovações criadas pelos irmãos Sousa, na fabricação de debulhar feijão, Cláudio Pessoa garantiu que irá conhecer o protótipo e no que depender da sua administração vai ajudar os idealizadores. Já a produção de adubos orgânicos que tem a parceria do Município ele parabenizou a ideia. "Esse é o caminho para garantirmos uma vida mais saudável", finalizou.

Orientação
De acordo com Domingos Forte, a fabricação dos produtos orgânicos recebe ainda a orientação técnica do Instituto Agropolos, Ematerce, por meio de estudos no campo. "Estamos conseguindo atender a todas as exigências dos órgãos ambientais e, dentro de um prazo médio, estaremos colocando o nome de Canindé a nível nacional com essa tecnologia de ponta", assegura o ambientalista.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Canindé, José Thomé de Cruz Almeida, ressalta que a fabricação dos produtos orgânicos trazem uma nova mentalidade para o meio rural. "Já é fácil encontrarmos pessoas que não desmatam mais e o que é mais importante orientam os colegas agricultores a forma correta de raleamento das matas", concluiu o sindicalista rural.

Antônio Carlos AlvesColaborador

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