sexta-feira, março 29, 2013

Tênis ecológico tipo exportação

Agricultura orgânica feita em Tauá produz algodão que serve como matéria-prima para calçado esportivo

Cultivo de algodão orgânico em Tauá, sem o uso de agrotóxicos. O produto é utilizado na fabricação do tênis que está sendo lançado por empresa francesa. O nome do calçado faz homenagem à ONG Esplar, do Ceará
Tauá Moda e sustentabilidade ambiental. Esses são os frutos de uma parceria que já dura nove anos e culmina com o lançamento do tênis denominado "Esplar", pela empresa francesa Veja Fair Trade, homenageando o Centro de Pesquisa e Assessoria (Esplar), Organização Não-Governamental (ONG) cearense que desenvolve atividades na área de agroecologia. A homenagem é o reconhecimento pelos nove anos de parceria.

Desde 2004, a Veja Fair Trade compra algodão agroecológico do Ceará. O calçado é fabricado a partir de algodão produzido pela agricultura ecológica, promovida neste município e em outros dois Estados nordestinos, Paraíba e Pernambuco, bem como com a borracha natural da Amazônia e couro do Rio Grande do Sul. O produto pode ser comprado via internet, no site da empresa francesa.

De uma parceria firmada entre o Centro de Pesquisa e Assessoria (Esplar) e a Associação de Desenvolvimento Educacional e Cultural de Tauá (Adec) surge o projeto Consórcios Agroecológicos com o algodoeiro, em 1994. O projeto é desenvolvido no semiárido com agricultores familiares na produção de algodão ecológico.

O produto é cultivado em sistemas consorciados com culturas alimentares como milho, feijão, gergelim e guandu, além de espécies arbóreas, como leucena. O projeto foi iniciado em 2003, em parceria com os respectivos Sindicatos de Trabalhadores Rurais da região, com apoio dos técnicos do Esplar.

Para o presidente da Adec, Manoel Siqueira (Lino), que conhece e usa o tênis - assim como outros membros da entidade - diz que ver um produto de qualidade vendido na Europa oriundo do seu trabalho no sertão cearense é motivo de orgulho.

"É compensador e ficamos orgulhosos porque mostra a nossa vitória diante dessa luta diária na terra. É como um reconhecimento de nosso trabalho", conta o agricultor familiar, que junto com mais 107 sócios compõem atualmente a Adec, cujos braços se estendem pelos municípios de Parambu, Arneiroz, Independência e Catarina.

Anteriormente, atuava também em municípios do Sertão Central, como Senador Pompeu, Quixadá, Massapê e Choró.

Mulheres
A Adec foi fundada em 1986, por iniciativa de grupos de mulheres artesãs de Tauá. Em 1993 redirecionou suas atividades para a agricultura familiar, responsável pelo plantio consorciado do algodão agroecológico. Desenvolve todo o cultivo sem a aplicação de nenhum agrotóxico.

"De uns anos para cá, decidimos concentrar nossos esforços aqui mesmo na região, nos municípios mais próximos. A distância dificultava nosso trabalho", destaca o produtor.

A Adec produz, atualmente, a décima safra em parceria com a empresa francesa e também para a Justa Trama, cooperativa gaúcha que utiliza a pluma de algodão na fabricação de roupas. Lino conta que a parceria é rentável para as famílias agrícolas que trabalham de forma consorciada no município e que a melhor safra foi no ano de 2008, quando vendeu 18 toneladas do produto para a empresa francesa e seis toneladas para a Justa Trama. Já no ano passado, comercializou apenas duas toneladas, uma para cada empresa, "pois a produção caiu muito devido à estiagem", lamenta.

Produção em risco
Conforme o agricultor, as expectativas para este ano não são boas. Se a quadra invernosa não se concretizar, a previsão é que não haja produção. Conta que a Adec já decidiu atuar na recuperação do solo, enquanto aguarda um bom inverno para colher uma boa produção.

"Nosso intuito é trabalhar também a questão social, econômica e ambiental. Não visamos somente o econômico e, por isso, em um período de estiagem como este, destinamos os nossos esforços para cuidar do solo", afirma Lino.

O cultivo do algodão pelo sistema consorciado com outras culturas é uma estratégia adotada pelos produtores para minimizar riscos de perdas da safra devido ao clima do semi árido.

Mais informações
Associação de Desenvolvimento Educacional e Cultural de Tauá (Adec), Av. Odilon Aguiar, S/N

Tauá - (88) 9654.1056

SILVANIA CLAUDINO
REPÓRTER

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