segunda-feira, dezembro 14, 2015

E-mails revelam como Odebrecht planejava usar a influência de Lula para obter contratos na América do Sul

O executivo Marcelo Odebrecht, preso na Operação Lava Jato, durante depoimento à CPI da Petrobras em Curitiba, nesta terça-feira (01)
Marcelo Odebrecht, preso na Operação Lava Jato, durante depoimento à CPI da Petrobras em Curitiba(Vagner Rosário/VEJA.com)
Ex-presidente da maior construtora do país, o empreiteiro Marcelo Odebrecht era o principal responsável pela estratégia adotada pela empreiteira para abocanhar contratos bilionários de construção de navios-sonda na Petrobras. É o que revela um novo conjunto de e-mails disponibilizado pelos investigadores da Operação Lava Jato em um dos inquéritos que a empreiteira responde por envolvimento no maior escândalo de corrupção da história do país. Nas conversas de Odebrecht com os executivos da empreiteira, o que se vê são acertos em torno de contratos da Petrobras e planos de usar a influência de políticos importantes da República para alcançar os objetivos da empresa. Um dos nomes mais citados nas conversas dos executivos é o do ex-presidente Lula. O papel de líder da empreiteira nas negociatas do petrolão é um dos principais elementos usados pela Justiça para manter Marcelo Odebrecht preso em Curitiba. O novo conjunto de mensagens pode atrapalhar os planos do empreiteiro de conseguir a liberdade por meio de um habeas-corpus que deverá ser julgado nesta terça-feira pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Em uma das mensagens, de 2008, os executivos falam de um encontro entre Lula e o então presidente do Peru, Alan Garcia, e questionam a possibilidade de incluir assuntos de interesse da construtora na visita. O executivo Roberto Ramos, da Braskem, escreve para o executivo Rogério Araújo, da Odebrecht: "Só para sua informação. O ideal era voltar ao assunto depois do Carnaval e ver se conseguimos combinar com nosso amigo Nestor (Cerveró) estar em condições de assinar o protocolo durante a visita do Lula!". Há troca de e-mail entre Rogério Ramos e Cerveró, perguntando sobre a estratégia a ser adotada. Cerveró responde: "Este assunto já foi acertado com o Cesar Gutierrez (presidente da Petroperu) na minha reunião da última semana, quando estive em Lima. Acho boa a ideia e vamos andar rápido com o assunto". Em seguida, há e-mail do próprio Marcelo Odebrecht para os executivos Rogério Araújo e Márcio Faria: "Ótimo. Estes eventos com Lula são bons, pois criam um deadline".
Nos e-mails, os executivos demonstram ter plena influência sobre as ações de Lula nos encontros com outros chefes de Estado. Eles chegam a sugerir o que Lula deveria fazer ou dizer aos presidentes. Ainda em 2008, os executivos acertam os termos de um texto que deveria ser entregue para leitura do ex-presidente Lula durante viagem à Argentina. Marcelo Odebrecht ironiza: "Roberto. Um terço de página apenas ou o cara não lê". Há também mensagem de Marcelo Odebrecht abordando viagem de Lula à Argentina. "Pela dimensão e importância dos projetos atualmente em execução e em estudo pela Odebrecht na Argentina, havendo oportunidade, seria importante que o presidente Lula pudesse reforçar, junto à presidente Cristina, a confiança que tem na Odebrecht". E há ainda referência a viagem à Bolívia: "Sugere-se ao presidente Lula comentar com o presidente Evo Morales sua satisfação em relação a boa evolução do projeto". Há várias mensagens mostrando uma postura agressiva nos negócios por parte de Marcelo Odebrecht, especialmente quando o assunto é a construção de sondas para a Petrobras. Em uma mensagem de 2011, Marcelo escreve sobre a construção de sondas para a estatal: "A divisão das 21 Sondas, caso ocorra a contratação, deverá ser a seguinte: 6 p/ nosso Consórcio + 6 Alusa Galvão + 6 Jurong".
Outro lado - O site de VEJA entrou em contato com a Odebrecht e aguarda resposta da empreiteira sobre os e-mails.

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