quinta-feira, novembro 12, 2015

Baiano: aliado de Renan cobrou propina pelo PMDB

Deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE)
Deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE)(Glauber Queiroz/ME/Divulgação)
Apontado pelos investigadores da Operação Lava Jato como emissário do presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) no esquema do petrolão, o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE) reclamou com o lobista Fernando Baiano que propinas de contratos da Petrobras não estavam sendo repassadas a políticos do partido, que se sentiam "enrolados" por não receber o dinheiro. O relato foi feito pelo próprio Baiano nesta quarta-feira no primeiro depoimento que prestou ao juiz Sergio Moro desde que fechou um acordo de delação premiada.
Embora tenha voltado a rejeitar a tese de que seja o operador do PMDB no petrolão, Baiano relatou que dinheiro sujo era recolhido em favor do então diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, que teria apoio político do PP, do PT e de senadores do PMDB. Ele explicou, por exemplo, que a proteção de peemedebistas a Costa, costurada a partir de 2006, foi tratada diretamente pelo deputado Aníbal Gomes, aliado de Renan.
Sem especificar a data, Baiano disse a Moro que foi cobrado publicamente pelo parlamentar sobre as propinas devidas a políticos do PMDB. "Em determinado momento, em reunião do Aníbal com Jorge e Paulo Roberto na Petrobras, o Aníbal veio me cobrando 'ah, porque estava demorando muito para ter os repasses, que eles estavam sendo enrolados'", relatou. Segundo o delator, o deputado foi explícito e disse: "A gente sabe que está tendo contratos da Petrobras e a gente não está tendo acesso aos repasses relativos a esses contratos".
A partir desta cobrança, ainda conforme a versão de Baiano, ele se afastou de Aníbal Gomes, embora tenha conhecimento de que o ex-diretor Paulo Roberto Costa "tinha reuniões em Brasília e que se encontrava com Renan [Calheiros] e outros políticos do PMDB". Baiano disse que "se escutava que havia doações para os partidos que apoiavam os diretores", mas pontuou que ele próprio, como operador de Costa na Petrobras, não fazia pagamentos diretos a políticos do PMDB. A exceção são os repasses feitos ao presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ), alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal.
Doações a políticos - Em seu depoimento ao juiz Sergio Moro, Fernando Baiano não soube detalhar supostos repasses ao Partido Progressista (PP), como já havia declarado o doleiro Alberto Youssef. Ele disse que Paulo Roberto Costa pediu a ele, após solicitação prévia de Youssef, uma doação de 1,5 milhão de reais ao PP a ser feita pela empreiteira Andrade Gutierrez. O lobista, contudo, não soube precisar se houve ou não o repasse.
Baiano relatou ainda outro episódio envolvendo repasses a políticos e disse que ele próprio pediu certa vez uma doação eleitoral para a campanha do senador Valdir Raupp (PMDB-RO). Segundo o delator, o dinheiro foi providenciado por Youssef, mas teria sido uma doação oficial. Valdir Raupp é um dos políticos alvo de inquérito no STF por suspeitas de envolvimento no petrolão. Youssef já disse ter repassado 500.000 reais para o parlamentar financiar a campanha eleitoral de 2010, mas para o Ministério Público, as doações eleitorais eram, na verdade, um mecanismo para camuflar o pagamento de propina do esquema de corrupção instalado na Petrobras.

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