quarta-feira, setembro 30, 2015

10% aprovam e 69% reprovam governo Dilma, diz Ibope


Filipe MatosoDo G1, em Brasília
Pesquisa Ibope divulgada nesta quarta-feira (30) mostra os seguintes percentuais de avaliação dos eleitores ao governo da presidente Dilma Rousseff (PT):
- Ótimo/bom: 10%
- Regular: 21%
- Ruim/péssimo: 69%
- Não sabe: 1%
Pesquisa Ibope de aprovação do governo Dilma Rousseff encomendada pela CNI (Foto: Editoria de Arte / G1)
Os percentuais divulgados nesta quarta mostram que a avaliação do governo Dilma ficou estável em comparação com o levantamento anterior, divulgado em julho deste ano, oscilando dentro da margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Na ocasião, o Ibope havia apontado que 9% aprovavam o governo (consideravam "ótimo" ou "bom"); 68% dos entrevistados avaliavam a administração Dilma como "ruim" ou "péssima"; e 21% consideravam a gestão "regular".
A rejeição ao governo Dilma apontado nesta edição da pesquisa (69%) é a maior já registrada pela série histórica das pesquisas Ibope desde a redemocratização. Conforme o instituto, entretanto, o percentual de pessoas que consideram a gestão da petista "ruim ou péssimo" ficou dentro da margem de erro, em comparação com a última pesquisa.
Desta vez, o Ibope também identificou que 14% dos entrevistados aprovam a maneira de governar da presidente. Porém, demonstra a pesquisa, 82% desaprovam e 3% não souberam ou não responderam.
Ainda de acordo com o levantamento divulgado nesta quarta-feira, 20% dos entrevistados confiam em Dilma e 77% não confiam.
O levantamento divulgado nesta quarta, encomendado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), foi realizado entre os dias 18 e 21 de setembro e ouviu 2.002 pessoas em 140 municípios.
O nível de confiança da pesquisa, segundo a CNI, é de 95%, o que quer dizer que, se levarmos em conta a margem de erro de dois pontos, a probabilidade de o resultado retratar a realidade é de 95%.
De acordo com os coordenadores do levantamento CNI/Ibope, a soma dos percentuais pode não igualar 100% em decorrência do arredondamento dos índices.
Segundo mandato
Após questionar os eleitores sobre a comparação entre o primeiro e segundo mandato de Dilma, a pesquisa afirma que 3% consideram a segunda gestão melhor; 14%, igual; e 82%, pior.
Quanto às perspectivas dos eleitores em relação ao restante do governo Dilma, 11% disseram esperar que seja "ótimo/bom"; 21%, "regular"; e 63%, "ruim/péssimo".
Notícias sobre o governo
O levantamento do Ibope listou as notícias sobre o governo mais lembradas pelos entrevistados. Leia as cinco mais citadas:
- Operação Lava Jato: 13%
- Volta da CPMF: 8%
- Aumento de impostos: 7%
- Impeachment da presidente Dilma Rousseff: 7%
- Corrupção do governo (sem especificar): 4%
A pesquisa também ouviu os eleitores sobre a opinião deles por área de atuação do governo. Veja os resultados:
Combate à fome e à pobreza
Aprovam: 29%
Desaprovam: 68%
Não souberam/não responderam: 4%
Segurança pública
Aprovam: 14%
Desaprovam: 82%
Não souberam/não responderam: 4%
Taxa de juros
Aprovam:6%
Desaprovam: 89%
Não souberam/não responderam: 5%
Combate à inflação
Aprovam: 12%
Desaprovam: 83%
não souberam/não responderam: 5%
Combate ao desemprego
aprovam:14%
desaprovam: 83%
Não souberam/não responderam: 3%
Impostos
Aprovam: 7%
Desaprovam: 90%
Não souberam/não responderam: 3%
Meio Ambiente
Aprovam:25%
Desaprovam: 65%
Não souberam/não responderam: 10%
Saúde
Aprovam:13%
Desaprovam: 84%
Não souberam/não responderam: 3%
Educação
Aprovam: 23%
Desaprovam: 73%
Não souberam/não responderam: 3%

Mudanças de Dilma indicam um ministério ainda pior

A presidente Dilma Rousseff participa do lançamento do Pronatec Jovem Aprendiz, em Brasília (DF), ao lado do ministro Aloizio Mercadante
O chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante: rebaixado para a Educação (Evaristo Sá/AFP)
Se as mudanças já combinadas pela presidente Dilma Rousseff com líderes dos partidos aliados e os futuros subordinados não caírem por terra mais uma vez, o governo passará a ser comandado por um ministério ainda pior e igualmente dispendioso - na prática, o enxugamento da máquina pode nem sequer alcançar os 200 milhões de reais por ano anunciados no pacote fiscal do governo.
As últimas novidades nos bastidores de Brasília são a possível realocação do chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, na pasta da Educação, que ele já administrou no primeiro governo de Dilma. Em seu lugar, assumiria Jaques Wagner, hoje na Defesa. A dança das cadeiras é uma tentativa da presidente de manter Mercadante, seu fiel escudeiro, protegido por um cargo no governo enquanto é investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por uso de caixa dois na campanha de 2010. Politicamente, a permanência de Mercadante como articulador político do Palácio do Planalto é considerada insustentável por partidos aliados e sua cabeça já havia sido cobrada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No caso de Wagner, ser alçado ao cargo mais importante da Esplanada é um indicativo de que seu amigo e principal padrinho, o ex-presidente Lula, terá forte influência nas negociações com o Congresso Nacional. Nesse cenário, sobraria a degola do professor Renato Janine, o "técnico" que Dilma escalou para comandar a "Pátria Educadora", depois de apenas cinco meses no posto.
Outra mudança desastrosa pode ser a extinção da Controladoria-Geral da União (CGU), responsável pela fiscalização da corrupção no Poder Executivo. Dilma cogita a incorporação de parte das atividades de controle interno do Executivo pela Casa Civil, tradicionalmente ocupada por um quadro partidário do PT. Desde que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou ao poder, as investigações dos maiores escândalos de corrupção bateram à porta da Casa Civil - inclusive derrubando ministros em série. Em outra hipótese, a CGU seria fatiada: a Ouvidoria ficaria sob o comando do novo Ministério da Cidadania, ainda em negociação com aliados do governo, e a parte da Corregedoria ficaria com o Ministério da Justiça.
O xadrez ainda inclui a realocação de Aldo Rebelo do Ministério de Ciência e Tecnologia para a Defesa, instalando um ex-deputado comunista na chefia das Forças Armadas. A atual pasta de Aldo ficaria com o PSB, que a comandou por mais de uma década com Lula e Dilma, mas que atualmente não integra o governo.
Desde segunda-feira, deputados e senadores envolvidos nas negociações fizeram circular informações de que Dilma pretende ampliar a participação do PMDB no ministério, avançando em terreno hoje ocupado pelo PT, numa tentativa de afagar e manter o partido aliado tutelado num momento em que os pedidos de impeachment começam a tramitar na Câmara dos Deputados. Nesse cenário, o PMDB deve faturar a cobiçada pasta da Saúde, cujo titular, o petista Arthur Chioro, foi demitido por telefoneontem. O restante dos ministérios serão partilhados pelas bancadas da Câmara, do Senado, e uma cota para o vice-presidente, Michel Temer.
Seguem em debate a fusão das Secretarias de Políticas para as Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos. O titular desta última, Pepe Vargas, já deixou o cargo. As Secretarias da Pesca e dos Portos, ambas com status de ministérios, também podem ser incorporadas por pastas maiores.
O resultado da dança na Esplanada deverá ser o corte de dez pastas, reduzindo para 29 o número de ministérios. Pior: o gigantesco e custoso quadro de funcionários comissionados será mantido. Nos Estados Unidos, Barack Obama comanda a maior economia do planeta com 22 secretários com status semelhante ao dos ministros de Dilma Rousseff.

E-mails indicam que Odebrecht pediu ajuda de Dilma

O executivo Marcelo Odebrecht, preso na Operação Lava Jato, durante depoimento à CPI da Petrobras em Curitiba, nesta terça-feira (01)
Executivo Marcelo Odebrecht está preso desde 19 de junho deste ano, por suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro na Petrobras(Vagner Rosário/VEJA.com)
Além de deixar claro o empenho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para favorecer a Odebrecht em contratos no exterior, os e-mails interceptados pela Polícia Federal na Operação Lava Jato incluem mensagens entre Marcelo Odebrecht e Giles Azevedo, chefe de gabinete na gestão Dilma Rousseff, e Anderson Dornelles, assessor especial da Presidência. Nas trocas de correspondência, o empresário queria que Dilma fizesse lobby do grupo na República Dominicana.
Dilma teve um encontro com o presidente dominicano eleito Danilo Medina, em 9 de julho de 2012. Na véspera da visita de Medina ao Brasil, em 5 de julho daquele ano, Odebrecht - preso na Lava Jato - escreveu para o chefe de gabinete da Presidência e para Anderson Dornelles: "Caros Giles e Anderson, peço o favor de entregar à presidente Dilma a nota em anexo referente ao encontro dela com o presidente da República Dominicana, que segundo fui informado, será esta segunda, 9 de julho, pela manhã. Fico à disposição para qualquer informação adicional. Obrigado e forte abraço. Marcelo."
A "nota" continha um resumo da atuação e dos empreendimentos da Odebrecht no país de Danilo Medina. O empreiteiro intitulou o documento de "ajuda memória da Odebrecht para a visita do presidente da República Dominicana". Ele destaca que o grupo "tem 6.112 integrantes locais, sendo 568 jovens engenheiros dominicanos". Como exemplo de "nossa atuação e inserção social junto às comunidades, além da própria atuação empresarial sustentável", a Odebrecht cita programa de alfabetização de adultos, reforma e ampliação de escolas públicas, construção de unidade de beneficiamento de café, saúde bucal, entre outras iniciativas.
"Face a relevância de nossa atuação no país [República Dominicana] seria importante que a presidente Dilma possa em seu encontro próximo com o Presidente Dominicano recém eleito Danilo Medina reforçar: a confiança que tem na Organização Odebrecht em cumprir os compromissos assumidos; a disposição de, através do BNDES, continuar apoiando as exportações de bens e serviços do Brasil, dando continuidade aos projetos de infraestrutura prioritários para o país." Ele assinala que o BNDES financia a exportação de bens e serviços para a República Dominicana desde 2002.
As trocas de e-mails demonstram que Odebrecht estava empenhado para que seu pedido chegasse, de fato, a Dilma. Às 13h21 do dia 6 de julho, a secretária da presidência da Odebrecht, Darci Luz, enviou e-mail para Alexandrino Alencar, executivo ligado à companhia, informando que "Marcelo enviou ontem à noite o documento para o Giles, para entregar à Presidente e está pedindo para o sr. confirmar com ele se recebeu e se conseguiu entregar a ela". Na mesma mensagem, Darci Luz diz que ligou para a secretária de Giles "mas ele estava fora e como foi para o e-mail pessoal ela não soube me informar".
Leia a nota da Odebrecht sobre o caso: "A Odebrecht esclarece que os trechos de mensagens eletrônicas divulgados apenas registram uma atuação institucional legítima e natural da empresa e sua participação nos debates de projetos estratégicos para o país - nos quais atua, em especial como investidora. A empresa lamenta, no entanto, a divulgação e interpretações equivocadas sobre mensagens sem qualquer relação com o processo em curso."
(Com Estadão Conteúdo)

Estatais culpam governo Dilma por prejuízos de usinas

Usina hidrelétrica de Furnas opera com apenas 15% da sua capacidade devido aos baixos níveis de água, em 14 de janeiro de 2013
Usina hidrelétricas tiveram prejuízo de 20 bilhões de reais com a crise no setor elétrico(Paulo Whitaker/Reuters/VEJA)
Estatais federais responsabilizaram o governo da presidente Dilma Rousseff pela crise energética que o país vem enfrentando. As usinas hidrelétricas já contabilizam um prejuízo de 20 bilhões de reais, valor que elas pagaram para conseguir energia com outros geradores. Dentre as principais críticas, está a de que o governo deixou de tomar providências no ano passado por causa da corrida eleitoral. As informações constam de documentos enviados à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e foram divulgadas nesta quarta-feira em reportagem do jornal Folha de S. Paulo.
Os documentos tratam da discussão sobre quem vai arcar com os prejuízos das empresas por elas terem sido impedidas de gerar energia para poupar água em um período de estiagem. A Eletrobras, maior estatal do setor, afirma, nos textos, que o programa atual das geradoras não "se deve meramente a condições hidrológicas adversas", mas a decisões dos gestores do sistema - leia-se, agentes do governo.
A Eletronorte, por sua vez, argumenta que o governo não tomou medidas "indispensáveis" em 2014 por causa das eleições presidenciais: "A despeito da situação excepcional de crise hidrológica por que passa o país, especialmente no ano de 2014 (em pleno período eleitoral), não foram implementadas, pelo governo, as medidas extraordinárias indispensáveis à manutenção do equilíbrio financeiro do contrato celebrado entre as partes".
Já Furnas disse que há um "grande desequilíbrio estrutural no setor", que afeta todas as companhias e produz "efeitos nefastos". A companhia ainda afirma que os problemas vieram também da falta de leilões de energia e de decisões do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Ele cita como exemplo que em diversas semanas entre 2014 e 2015 houve alerta para necessidade de se fazer um racionamento, mas a ONS não o fez.
A Aneel informa que as empresas fizeram "precificação equivocada" e ressalta que o problema é hidrológico, de escassez de chuvas. As companhias conseguiram liminares para não pagar todo o prejuízo pelo déficit na produção de energia. Se a posição delas se manter, a conta dos 20 bilhões de reais será repassada ao consumidor. Esse montante vem da compra de energia - mais cara - do setor termelétrico

Petrobras aumenta preço da gasolina em 6% e do diesel em 4%

Petrobras
Reajuste nas refinarias deve ser repassado ao menos em parte para os postos de combustíveis(Mario Tama/Getty Images)
A Petrobras vai aumentar o preço da gasolina em 6% e do óleo diesel em 4%. O anúncio foi feito pela estatal na noite desta terça-feira. O porcentual do reajuste, aplicado às refinarias, entra em vigor já nesta quarta. O repasse para as bombas de combustíveis ainda não está definido, mas é certo. Com isso, a economia ganha mais um elemento que deve pressionar a alta da inflação.
"Os preços da gasolina e do diesel, sobre os quais incide o reajuste anunciado, não incluem os tributos federais Cide e PIS/Cofins e o tributo estadual ICMS", especificou a estatal em nota.
Com o reajuste, a diretoria comandada por Aldemir Bendine, que assumiu a presidência da petroleira em fevereiro, busca ganhar a confiança do mercado, ainda que haja falta de clareza sobre a fórmula para aumentar os preços dos combustíveis.
"Nós buscamos preços competitivos e alinhados ao mercado internacional. Essa é a política do presidente Bendine para garantir a competitividade da companhia. A meta é ter custos competitivos, mas temos de ter preços competitivos", afirmou uma fonte da empresa, na condição de anonimato.
O anúncio do reajuste ocorre em um momento em que a Petrobras se confronta com o crescimento da sua dívida em moeda estrangeira por causa da forte valorização da moeda americana. "Se o dólar subir mais ainda, é claro que vamos ter que fazer novo aumento para manter preço competitivo", afirmou a fonte.
Nos últimos dias, como revelou o blog VEJA Mercados, executivos da Petrobras se reuniram com investidores brasileiros para tentar vender títulos com objetivo de refinanciar a dívida da estatal, mas ouviram como resposta uma mensagem clara: ou a Petrobras aumentava o preço da gasolina, ou teria que pagar juros maiores.
O reajuste anunciado nesta terça, porém, é inferior àquele calculado por analistas do mercado para que a companhia mantenha seu endividamento estável. Levando isso em conta, a estatal precisaria aumentar em 10% a gasolina e o diesel - assumindo o dólar a 4,10 e o petróleo a 45 dólares o barril.
"O governo teve bom senso. É um aumento muito pequeno, mas gera mais receita. Mas para ser excelente para o mercado tinha que ser de 10 a 12%", disse o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), Adriano Pires.

Marin se aproxima de acordo para prisão domiciliar

O presidente da CBF e do COL, José Maria Marin
Marin tem um apartamento na Trump Tower de Nova York, onde pretende ficar(Alexander Hassenstein/Fifa/Getty Images/VEJA)
O ex-presidente da CBF José Maria Marin completou nesta terça-feira quatro meses de prisão em Zurique, na Suíça, e, em encontro com advogados americanos, praticamente fechou um acordo que o possibilitará permanecer em prisão domiciliar caso seja extraditado aos Estados Unidos. A previsão é de que ele tenha de pagar cerca de 40 milhões de reais como garantia.
O brasileiro foi detido na Suíça em 27 de maio, acusado de corrupção e de receber propinas em contratos da Copa do Brasil e da Copa América. Ele aguarda uma definição da Justiça da Suíça, que deve ser anunciada em poucos dias, mas já costurou um acordo pelo qual ele seria extraditado e ficaria em seu apartamento, na Trump Tower, em Nova York, enquanto aguarda seu julgamento nos Estados Unidos.
Pelo acordo, o dirigente de 83 anos pagaria aos Estados Unidos uma fiança milionária, entregaria o apartamento e ainda ativos espalhados por bancos e diversas contas, em um total de quase 10 milhões de dólares. Em troca, poderia passar uma primeira etapa apenas em casa, com garantias de que o raio de liberdade seria gradualmente ampliado. Retornar ao Brasil, porém, é uma hipótese pouco provável.
Nesta terça-feira, os suíços deram mais uma demonstração de que devem aceitar a extradição de todos os sete presos. O departamento de Justiça do país anunciou a quarta extradição aos Estados Unidos, a de Eduardo Li, ex-presidente da Federação de Futebol da Costa Rica. Ele é suspeito de ter aceitado propinas por uma empresa americana para os direitos de marketing para as Eliminatórias da Copa do Mundo de 2018, na Rússia.
(Com Estadão Conteúdo)

terça-feira, setembro 29, 2015

Empreiteiro tenta tirar o 'eletrolão' das mãos de Moro

O juiz federal Sergio Moro durante almoço debate LIDE no hotel Grand Hyatt São Paulo na região sul da cidade de São Paulo nesta quinta-feira, 24
O juiz federal Sergio Moro durante almoço debate LIDE no hotel Grand Hyatt São Paulo na região sul da cidade de São Paulo nesta quinta-feira, 24(Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press/Folhapress)
O empreiteiro José Antunes Sobrinho, um dos donos da construtora Engevix, encaminhou nesta segunda-feira à Justiça Federal do Paraná pedido para que o processo contra ele, que envolve suspeitas de pagamento de propina junto à Eletronuclear, deixe de ser conduzido pelo juiz Sergio Moro e seja transferido para o Rio de Janeiro.
O recurso, que deve ser repetido por outros réus e investigados na Operação Lava Jato, ocorre na esteira da recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que na última semana decidiu que Moro não deve necessariamente julgar as ações resultantes da investigação inicial sobre o esquema de corrupção na Petrobras.
Os ministros do STF julgaram um caso específico da Lava Jato, a fase Pixuleco II, que desvendou um esquema de corrupção e distribuição de propina envolvendo o Ministério do Planejamento. A decisão foi comemorada por advogados por ser o indicativo de que os processos da operação policial podem ser pulverizados por todo o país.
O executivo da Engevix já é réu em processos da Lava Jato e integra um novo foco de investigações do petrolão por suspeitas de frustração a licitação, lavagem de dinheiro, corrupção e falsidade de documentos. A 19ª fase da Lava Jato, deflagrada na última semana, decorre de apurações que envolveram o braço do petrolão no setor elétrico e que confirmaram que as empreiteiras Andrade Gutierrez e Engevix utilizaram empresas como intermediárias dos repasses de propina ao então presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva. Na triangulação para o pagamento de dinheiro sujo, foram simulados principalmente contratos de prestação de serviços com a empresa Aratec Engenharia, Consultoria & Representações, que é de propriedade de Othon Luiz.
Segundo a acusação, a Engevix pagou propina em 29 oportunidades à empresa Aratec entre julho de 2010 e janeiro de 2015, enviando cerca de 1,5 milhão de reais por meio Link Projetos e uma parcela de 30.000 reais diretamente para a Aratec. "Há provas significativas, em cognição sumária, de que todos os contratos de prestação de serviços entre a Andrade e as empresas CG Consultoria, JNobre e Deutschebras, e entre estas e a Aratec Engenharia seriam simulados. O mesmo ocorre com os contratos de prestação de serviços entre a Engevix e a Link Projetos e entre esta e a Aratec Engenharia", disse o juiz Sergio Moro ao justificar a prisão do dono da Engevix.
No recurso, a defesa de Sobrinho questionou a competência do juiz Sergio Moro para julgar processos que não têm conexão com a Petrobras e que seriam apenas desdobramentos da Lava Jato sem relação direta com o doleiro Alberto Youssef, réu que levou todos os processos para a Justiça Federal de Curitiba. Para os advogados do empreiteiro, a permanência dos autos nas mãos de Moro contaminaria todos os desdobramentos do processo, anulando de vez a acusação. Os advogados ainda destacaram na argumentação a decisão do STF de fatiar a Operação Lava Jato e disseram que "todos os processos que, apesar de instaurados perante este Juízo, não guardam relação direta com a Petrobras devem ser redistribuídos".

Operador diz que repassou dinheiro de conta na Suíça para Eduardo Cunha

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), se encontra com trabalhadores e sindicalistas no auditório do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, no bairro da Liberdade, região central da capital paulista, durante a manhã desta sexta feira (21)
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ): operador diz que peemedebista recebeu dinheiro na Suíça(Miguel SCHINCARIOL/AFP)
O engenheiro João Augusto Henriques, apontado pelo Ministério Público como um dos operadores do PMDB na Lava Jato, disse em depoimento à Polícia Federal que repassou dinheiro a uma conta corrente cujo verdadeiro destinatário era o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Henriques depôs na última sexta-feira e disse que o repasse foi feito a pedido de Felipe Diniz, filho do ex-deputado Fernando Diniz.
Segundo a versão apresentada pelo operador, que foi preso na 19ª fase da Operação Lava Jato, o repasse à suposta conta de Eduardo Cunha não era propina e ele nem sequer sabia que o destinatário seria o parlamentar. Ele afirmou que a conta estava em nome de uma empresa e apenas quando as próprias contas dele na Suíça foram bloqueadas é que soube que o destinatário do dinheiro era o presidente da Câmara.
Aos policiais, João Augusto Henriques confessou que recebia dinheiro de determinados clientes no exterior e que não informava os valores à Receita Federal do Brasil. Ele argumentou que os recursos não têm relação com o escândalo do petrolão e que são "finder's fee", ou seja, comissões pagas a intermediários por transações financeiras.
Essa não é a primeira vez que o nome do deputado Eduardo Cunha aparece em depoimentos relacionados à Operação Lava Jato. À Justiça, o lobista Julio Camargo, que atuou na empresa Toyo Setal, afirmou que o deputado pediu 5 milhões de dólares do propinoduto da Petrobras em um contrato de navios-sonda.
O ex-gerente da Área Internacional da Petrobras Eduardo Musa afirmou, em acordo de delação premiada, que cabia a Cunha, como parlamentar, dar a "palavra final" nas decisões da diretoria Internacional, na época comandada pelo réu no petrolão Jorge Zelada. Segundo Musa, coube a João Augusto Henriques emplacar Zelada na cúpula da petroleira, embora fosse de Cunha a influência direta sobre a gestão da companhia. "João Augusto Henriques disse ao declarante que conseguiu emplacar Jorge Luiz Zelada para diretor Internacional da Petrobras com o apoio do PMDB de Minas Gerais, mas que dava a palavra final era o deputado federal Eduardo Cunha, do PMDB/RJ", diz trecho da delação premiada do ex-gerente da Petrobras. Eduardo Cunha afirma que não conhece Eduardo Musa.
Ao MP, Eduardo Musa descreveu parte das atividades do lobista João Augusto Henriques e disse que ele não possuía uma "atividade empresarial produtiva" e atuava essencialmente na intermediação de parte dos negócios com a Petrobras e na intermediação de propina. Segundo o delator, entre as obras "contaminadas" por dinheiro sujo na Petrobras estavam a refinaria de Pasadena, no Texas, os navios-sonda Petrobras 10000 e Vitoria 10000 e contratos de montagem de módulos para plataformas da Petrobras, com a participação da empresa OSX, do empresário Eike Batista, e da empreiteira Mendes Junior

Deputados do PMDB querem censurar a internet e ler suas mensagens

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O relato abaixo vai lhe parecer coisa de ficção.  Mas não é.
A Câmara dos Deputados está tentando aprovar projetos de lei que vão intimidar eleitores que criticam os políticos na internet (quem nunca?), violando liberdades individuais, garantias constitucionais e o bom senso.
É uma inversão de valores que sabota a própria ideia de democracia, reforça a tentativa do Estado de dominar a sociedade, e cria um ‘Big Brother’ a serviço dos políticos e contra os cidadãos.
Cinco projetos de lei — tramitando na Câmara na velocidade da luz — aumentarão penas e, em alguns casos, podem transformar em crime hediondo ‘ofensas’ contra políticos na internet. A votação de um deles, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), será amanhã.
A autora do principal deles, o projeto de lei 1.589, de 2015, é a deputada Soraya Alencar dos Santos, do PMDB do Rio de Janeiro (um selo de qualidade, para quem conhece a política do Estado).
O projeto de Soraya reforma o Marco Civil da Internet para permitir que qualquer ‘autoridade competente’ — qualquer órgão público — possa requerer acesso aos dados de qualquer internauta, sem a necessidade de uma ordem judicial, como ocorre hoje.
Como se isto já não fosse arbitrariedade suficiente, o projeto prevê que a ‘autoridade’ poderá ter acesso também a todas as comunicações do usuário de internet, como as mensagens diretas trocadas no Facebook, Twitter e Whatsapp.
Eleita por Macaé, cidade petroleira do litoral do Rio de Janeiro, a deputada Soraya é desconhecida do Brasil, mas neste dia estava psicografando grandes nomes da História, como Josef Stálin, aquele grande democrata soviético, e J. Edgar Hoover, o poderoso chefe do FBI que invadia a intimidade de seus adversários.
Mas a deputada Soraya quer mais. Ela dobra a meta. Pela lei atual, ‘ofensas’ contra políticos — frequentemente verdades ditas sobre eles — só são investigadas e vão parar na Justiça se o ofendido for à delegacia prestar queixa. O projeto de Soraya acaba com esse incômodo — afinal, políticos como ela são pessoas ocupadas, que não podem perder tempo indo à delegacia.
Pelo projeto de lei, tanto a polícia quanto o Ministério Público poderão investigar qualquer ofensa na internet sem a necessidade de queixa prévia — ou seja, ficarão a serviço dos políticos, que assim poderão intimidar seus criticos na rede.
Para Ronaldo Lemos, professor de direito com doutorado pela USP e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade, “trata-se da maior ameaça à liberdade de expressão que o País já sofreu em muitas décadas.”
O Marco Civil da Internet é uma legislação avançada, que protege a liberdade de expressão dos usuários da rede, e está em linha com as melhores leis sobre o assunto em vigor no mundo. Em matéria de internet, é ele que faz o Brasil ser diferente da Rússia, Turquia e Arábia Saudita, países onde o Poder Executivo tem — por lei — o direito de intervir em conteúdos na internet. No Brasil, o Marco Civil estabeleceu que apenas o Poder Judiciário pode autorizar alguém a tocar em conteúdos na internet – exatamente o que os projetos querem mudar.
Com qualquer busca no Google, você descobrirá que o maior opositor do Marco Civil ao longo de sua tramitação foi o deputado Eduardo Cunha, que chegou à presidência da Câmara em grande parte graças à sua ascendência sobre o PMDB fluminense. Os projetos atuais, que deformam o Marco Civil, parecem um acerto de contas.
Dos cinco projetos de lei em tramitação que tratam da proteção da honra dos políticos, quatro são do PMDB. Três destes projetos aumentam penas para as ‘ofensas’ na internet, e dois tratam do chamado ‘direito ao esquecimento.’  Esta é outra inovação interessante, que atende bem aos políticos, e presta um desserviço à democracia. Se o ‘direito ao esquecimento’ for aprovado, permitirá ao político incomodado com análises criticas sobre sua ética ou performance exigir que estes comentários sejam retirados do ar.  Simples assim.  (É uma versão contemporânea do que os soviéticos faziam, removendo das fotos os membros do regime que caíam em desgraça.)
Ainda que muitos desses projetos sejam o produto de deputados inexpressivos e de mentalidade provinciana — se não de má fé — e ainda que muitos possam ser enterrados pelo Senado (onde repousa a reserva de sanidade da classe política), eles revelam uma agenda oculta de setores específicos que tentam subordinar o cidadão a seus interesses mais particulares. O que estes políticos têm a esconder? Por que temem tanto a voz dos eleitores nos sites e nas redes sociais?
Nos últimos anos, o brasileiro perdeu a estabilidade econômica e precisou ter estômago forte para digerir as revelações da Lava Jato.
Mas o brasileiro não precisa perder mais essa.
Os eleitores do Rio de Janeiro podem ligar para a deputada Soraya — telefone do gabinete: (61) 3215-5352 — pedindo que ela explique para quem trabalha: para os eleitores ou para seus colegas de Câmara.
Talvez assim dê para garantir que, apesar de estarmos ‘quebrados’ e desiludidos, possamos (pelo menos) continuar reclamando de tudo isto que está aí.

Fluminense anuncia saída de Ronaldinho Gaúcho

Ronaldinho Gaúcho é apresentado como novo reforço do Fluminense antes da partida contra o Vasco no Maracanã - 19/07/2015
Ronaldinho Gaúcho, durante apresentação como novo reforço do Fluminense - 19/07/2015(Marcello Dias/Futura Press/Folhapress)
Anunciado e apresentado pelo Fluminense no dia 11 de julho, Ronaldinho Gaúcho colocou um ponto final na sua relação com o clube pouco mais de dois meses depois de chegar à Laranjeiras. Nesta segunda-feira, o time carioca confirmou a saída do craque.
De acordo com o comunicado oficial emitido pelo clube, as duas partes romperam o contrato de forma amigável e em comum acordo. "Fluminense e Ronaldinho seguem com os laços mantidos e planejam trabalhar em outros projetos no futuro", diz a nota.
O texto ainda ressalta que a passagem de Ronaldinho pelas Laranjeiras correspondeu às expectativas financeiras da diretoria, em relação ao retorno de marketing e arrecadação com a bilheteria. Dentro de campo, o meia atuou em nove partidas e não marcou gols.
Por fim, o clube agradece ao jogador pelo período que vestiu a camisa tricolor e deseja sorte em sua futura trajetória, de rumo ainda desconhecido. Em julho, o atleta chegou a negociar com o Vasco de Eurico Miranda, que chegou a tratar o craque como "100% acertado" com o Cruz-Maltino.
Confira o comunicado oficial divulgado pelo Fluminense na noite desta segunda:
O Fluminense vem a público comunicar o rompimento do contrato com o atleta Ronaldinho Gaúcho de forma amigável e em comum acordo entre as partes.
Desde o primeiro contato com os dirigentes, o atleta e seu representante trataram o clube com profissionalismo e respeito. Mesma atitude positiva demonstrada nas atividades de rotina.
Fluminense e Ronaldinho seguem com os laços mantidos e planejam trabalhar em outros projetos no futuro.
Cabe ressaltar que a contratação correspondeu às expectativas em relação ao retorno de marketing, aumentando arrecadação com bilheteria, venda de camisas e número de sócios.
A opção de Ronaldinho também mostrou ao Brasil que o Fluminense desperta o interesse dos maiores jogadores do futebol mundial.
O Fluminense agradece a Ronaldinho e deseja sorte ao atleta em sua caminhada.
Comunicação Institucional FFC
(Com Gazeta Press

segunda-feira, setembro 28, 2015

O que o dólar tem a ver com meu sanduíche?

Produtos com aumento de preço em função da alta do dólar
Pão, macarrão, vinho e remédios, itens que colocam o brasileiro comum sob o efeito do dólar mais caro(VEJA.com/Getty Images)
Não é preciso viajar à Disney para sentir os efeitos nocivos da valorização do dólar. Mais cara, a moeda americana afeta a vida de todo mundo - até de quem nunca pegou em uma cédula verde e leu "In God we trust". Em uma reação em cadeia, o dólar tem impacto direto e indireto sobre o preço de produtos do cotidiano de gente comum, do pão francês à aspirina, do milho ao desodorante, da carne ao celular.
A padaria é um exemplo emblemático desse fenômeno. Nada menos que 95% do custo de produção do pãozinho vem da farinha de trigo, boa parte dela importada de outros países, como Argentina, Uruguai e Paraguai - e a moeda de transação para os negócios globais é inevitavelmente o dólar. Para o padeiro que tira o lápis de trás da orelha e coloca as contas no papel, a lógica é simples: aumenta o valor do dólar, aumenta o preço do pão - e do sanduíche, do pão doce, do pão de queijo, do salgadinho... Praticamente tudo o que é vendido em uma prosaica padaria fica mais caro no momento do tal "nervosismo dos mercados" - como o que viveu o Brasil ao longo da última semana, quando o dólar passou de 4 reais, marca que nunca tinha sido ultrapassada desde a criação do real.
Explica Joaquim Duarte Pereira, dono da padaria Rodésia, na zona oeste de São Paulo: "Nós distribuímos o aumento nas outras mercadorias para não subir tudo em único produto. Com esse dólar, nós vamos repassar. Não tem jeito", afirma. "Mas nós temos procurado segurar, senão aumenta toda semana". No seu estabelecimento, o preço do pão francês já ficou 40% mais alto desde o início do ano, acompanhando a alta de 30% do preço da farinha de trigo.
Comerciantes
Comerciantes(Eduardo Gonçalves/VEJA.com)
A situação é a mesma na Padaria Natália, também na zona oeste paulistana. Marcelo Martins de Oliveira, um dos proprietários, tentou absorver o aumento das despesas para não perder a clientela, mas não conseguiu fazer isso por muito tempo. Em abril, o preço do quilo de seu pão passou de 11,90 para 12,40 reais. "Já procuramos fornecedores mais baratos, mas não dá para diminuir a qualidade, senão o consumidor foge para o supermercado", diz. "Agora, vamos ver como vai ficar. É possível que tenha mais um aumento nos próximos meses." Segundo ele, cada saco de farinha passou de 97 para 105 reais. São necessários 20 deles a cada 15 dias.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias, Pães e Bolos Industrializados (Abimapi), Claudio Zanão, o Brasil consome mais ou menos 10 milhões de toneladas de farinha de trigo por ano, das quais apenas metade é de produção nacional. E a farinha nacional não pode ser usada sozinha. Considerada de qualidade inferior, ela precisa ser misturada com a estrangeira para o pão sair como a clientela gosta.
A Abimapi, que representa a indústria de praticamente todos os produtos feitos com trigo, calcula, com base nesse último salto do dólar, um acréscimo de 5% no preço oferecido às redes supermercadistas - de fevereiro a março, já tinha ocorrido um aumento de 8%, também por influência do câmbio e dos reajustes nas contas de energia e água. "Cada empresa faz o seu planejamento. Algumas têm produto em estoque e demoram mais para repassar o preço para ganhar mercado. Outras, que comem da mão para a boca, precisam repassar o aumento com mais urgência para não quebrar", afirma Zanão.
No adubo como no pão - Guardadas as particularidades de cada segmento, o mesmo raciocínio das padarias pode ser aplicado em diversos setores da economia, como os de produtos eletrônicos, remédios, cosméticos e agrícolas. Neste último caso, sobre o qual o dólar tem peso significativo, estão itens onipresentes na mesa dos brasileiros, como milho, arroz, soja, batata, cebola e tomate. Segundo o coordenador do Núcleo Econômico da Confederação Nacional da Indústria e da Pecuária (CNA), Renato Conchon, para o cultivo desses produtos gasta-se metade do orçamento com fungicidas, inseticidas, fertilizantes, sementes e royalties pelas sementes utilizadas no plantio - todos importados de países como Estados Unidos, Canadá e Rússia. "O que o produtor tem feito para fugir do câmbio é procurar um pacote tecnológico (conjunto de itens citados acima) mais barato, de segunda linha, como se fosse o genérico no caso dos remédios", diz Conchon.
Em relação às carnes, um dos principais itens da pauta de exportações brasileira, os suplementos e medicamentos aplicados nos animais também vêm do exterior. Mas, nesse caso, a pressão que o dólar mais caro exerce sobre o preço é de outra natureza. Com um câmbio mais atrativo para os exportadores, compensa mais para o produtor direcionar a carne para o mercado externo do que ao abastecimento local. Isso diminui a oferta no mercado interno. Assim, com menos carne nas prateleiras - em um fenômeno típico da lei da oferta e da demanda -, o preço sobe. O mesmo ocorre com a matéria-prima básica dos pães e massas de macarrão. "O próprio trigo nacional acaba ficando 'dolarizado'. O produtor daqui não é bobo. Se estão vendendo lá fora por 100 e ele por 50, ele acaba aumentando também", diz Zanão, da Abimapi.
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"Parece a hiperinflação" - Para os produtos importados que não são insumo - como é o caso de trigo, fertilizantes ou remédio de gado, o impacto é mais forte. Uma lista de produtos que inclui vinhos, peixes, chocolates e balas passou a custar até três vezes mais do que custava apenas poucos meses atrás. Nesses itens, o reajuste é mais forte e muito mais constante. "Nossa tabela tem que mudar praticamente todo mês. Não dá para segurar preço com essa valorização", diz Adilson Carvalhal Júnior, presidente da Associação Brasileira de Exportadores e Importadores de Alimentos e Bebidas (Abba) e diretor da importadora Casa Flora. "Parece a época da hiperinflação."
Segundo ele, os produtos importados já tiveram um aumento de 30% em 2015, e nos próximos meses devem sofrer mais um reajuste, de 10%. Itens de alto luxo, como vinhos do Canadá ou da Nova Zelândia, praticamente já sumiram das prateleiras. "Com essa crise, temos apostado em produtos mais baratos. O vinho chileno, por exemplo, tem um ótimo custo-benefício", diz. Os empresários ainda reclamam da medida editada pelo governo que eleva a tributação sobre vinhos e bebidas quentes, que passa a valer a partir de dezembro. "Isso vai nos pegar justamente no Natal, quando as vendas são maiores. Nós estamos trabalhando para pelo menos adiar essa medida. Já prevemos que os preços podem subir a mais de 30%."
O dólar mais caro alimenta a inflação - e o combate a ela ocorre sob o pior dos cenários, que soma quadro recessivo e os juros elevados. No primeiro semestre, ela subiu sob o efeito dos reajustes nas contas de energia e água, entre outros fatores. A recente disparada do dólar alimentou essa tendência de alta. No acumulado do ano, o IPCA-15 (prévia da inflação oficial) já chega a 7,78%, o maior resultado para o período desde 2003.
O câmbio é considerado hoje o componente com mais potencial de minar as previsões do governo de fazer a inflação convergir para a meta (atualmente, de 4,5%) em 2016. Segundo Felipe Salles, economista do Itaú, o cálculo-base usado pelos especialistas para apontar a influência do câmbio sobre a inflação é de que a cada salto de 10% no valor da divisa, o IPCA sobe 0,7%. Nas últimas projeções do Itaú, o dólar deve encerrar este ano a 4 reais e 2016, a 4,25 reais.
O paradoxo dos eletrônicos - Paradoxalmente, no setor de eletrônicos, que depende muito de peças e componentes importados, o consumidor deve demorar um pouco mais para sentir o impacto da valorização da moeda americana sobre os preços. Isso ocorre por causa de uma particularidade desse segmento: o ciclo de vida dos produtos. Como esse ciclo é curto, o produto fica mais barato à medida que envelhece, explica Humberto Barbatto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abiee). "Além disso, existem patamares de preços. Cada produto tem uma faixa de preço, que não muda. O nosso produto é movido a inovação, senão ele sai do mercado", diz. O repasse de preços ocorre no caso dos itens que já vêm prontos do exterior.
O setor de eletrônicos é um dos mais afetados pela crise econômica. Sob um cenário que inclui encarecimento do crédito e aumento do desemprego e da inflação, o consumidor está muito menos disposto a colocar a mão no bolso para comprar produtos mais caros - seja um televisor de última geração, um novo smartphone ou uma geladeira mais sofisticada. Segundo a Abiee, as vendas de telefones celulares devem cair 15% neste ano. Se a projeção se confirmar, será o primeiro recuo da história do segmento. Isso fez com que se registrasse deflação de 2% no preço dos produtos no primeiro semestre deste ano, segundo a entidade.
A alta do dólar também encarece os remédios, que dependem de insumos importados - a maior parte dos princípios ativos dos medicamentos produzidos em território nacional vem de países como Índia, China e Irlanda. Nos últimos 12 meses, a despesa da indústria com esse item já cresceu 40%, segundo o presidente do Sindicato da Indústria de Produtos Famarcêuticos (Sindusfarma), Nelson Mussolini. Esse aumento ainda vai demorar a chegar ao consumidor final, argumenta o dirigente, porque o preço dos remédios é regulado pelo governo, que só dá um reajuste por ano. "Qual é a saída?", pergunta Mussolini. E ele mesmo responde: "Mexer nas condições comerciais. Sabe aqueles descontos que as farmácias costumam dar? Isso vai ficar cada vez mais raro nos próximos 30 a 40 dias".
Cenário de incerteza - O quadro é de incerteza na política e na economia, com a onipresente ameaça de abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e a incógnita sobre o andamento do plano de ajuste fiscal do governo. Essa incerteza tem alimentado a alta do dólar. As intervenções do Banco Central feitas ao longo da última semana jogaram água na fervura da aquecida cotação da moeda, mas, segundo alguns analistas, a estratégia tem eficácia de prazo limitado. "O que o mercado precisa é de uma sinalização clara, mais firme, sobre a crise fiscal. O governo precisa ser mais contundente nas suas ações. Falta informação para o mercado ter tranquilidade", diz o corretor da SLW João Paulo Correa.
Na visão dos operadores, falta uma definição sobre a postura que o governo vai adotar para enfrentar a crise econômica. Até agora, as únicas medidas de ajuste que passaram no Congresso foram alteradas pelos parlamentares, e sempre tendo como resultado uma economia menor do que a inicialmente prevista. O novo pacote fiscal, que consiste mais em recriar impostos (como a CPMF) do que "cortar na carne", como o governo propagandeia, ainda não saiu do papel.
Como se já não bastasse a situação doméstica, o cenário externo também aumenta a tensão. Um dia é o dado fraco da indústria chinesa, que mostra que o país está se desacelerando mais rapidamente do que o prevsito. No outro, é o aumento do emprego nos EUA, revelando que o país está mais próximo de aumentar sua taxa de juros. Meses atrás, notícias como essas poderiam até mexer com os mercados, mas não com o potencial de pequenas bombas diárias, como ocorre hoje. Até que as nuvens sobre o quadro econômico comecem a se dissipar - e há dúvidas sobre quando isso vai ocorrer -, as cotações do pãozinho e do dólar vão andar muito próximas.

CVM aponta lucro indevido de R$ 900 mil de Cunha

Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em Brasília
Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em Brasília(Ueslei Marcelino/Reuters)
Um relatório sigiloso da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) aponta que o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), obteve "lucro indevido" de 900.000 reais por operações financeiras realizadas entre 2003 e 2006. A informação foi revelada pelo jornal Folha de S. Paulo. Cunha e seus advogados não se pronunciaram sobre a investigação.
Segundo o jornal, as movimentações foram prejudiciais à Prece, fundo de pensão dos funcionários da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) do Rio de Janeiro. A presidência da Cedae já coube a um aliado de Cunha.
No relatório, Cunha é apontado como responsável por "ter anuído e se beneficiado de negócios realizados em seu nome" intermediados pela corretora Laeta DTVM, "caracterizada a realização de práticas não equitativas, estando configurada a conduta vedada" em instrução da CVM.
A comissão apurou duas vezes as operações de 2002 e 2003. Um primeiro inquérito, aberto em 2005, encontrou prejuízos de 17 milhões de reais e acusou 93 pessoas e empresas. O segundo, aberto em 2012, indicou outros 39 milhões de reais em prejuízos, com suspeitas sobre 37 pessoas e empresas, incluindo Cunha.
Segundo a CVM, a fraude era realizada por meio da "montagem de um esquema" que gerou "ajustes do dia negativos [perdas] para os fundos da Prece e ajustes do dia positivos [ganhos] para determinados clientes" das corretoras. Os lucros foram distribuídos entre pessoas jurídicas e físicas, entre elas Eduardo Cunha, em detrimento da Prece.
Os beneficiários finais das transações na antiga BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros) de São Paulo só eram identificados no fim do pregão, "podendo, assim, ser realizada a distribuição dos negócios de acordo com o que se mostrasse mais conveniente".
Desde abril corre prazo para que os acusados se defendam. Um colegiado formando pelo presidente da CVM e mais três diretores vai julgar o processo, em data ainda não estabelecida. Os suspeitos podem reconhecer a culpa e pagar multa para encerrar o caso na esfera administrativa, por meio de termos de compromisso. Eles também podem ser absolvidos ou recorrer ao Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional, em Brasília.
Segundo o jornal, os técnicos da CVM recomendaram que o relatório seja enviado ao Ministério Público Federal no Rio para subsidiar um inquérito civil sobre a Prece.
A CVM também acusou o corretor de valores Lúcio Bolonha Funaro por supostos lucros indevidos no valor de 800.000 reais, além do corretor José Carlos Batista. Ambos foram investigados no escândalo do mensalão por destinação de cerca de 5 milhões de reais ao PL, atual PR. Funaro disse ao jornal apresentará sua defesa em momento oportuno e que "jamais desrespeitou as regras do mercado".